Em busca da ambição perdida

Foto: Ricardo Stuckert/PR
Na terça-feira, o presidente Lula retornou à Assembleia-Geral das Nações Unidas (UNGA, na sigla em inglês) reconhecendo que o tema climático se tornou um dos protagonistas nas discussões para enfrentar as desigualdades. Também em Nova York, Marina Silva, na Cúpula da Ambição Climática, confirmou o retorno da ambição climática da Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) ao nível de 2015. E, na quinta-feira, o Supremo Tribunal Federal (STF) derrubou a tese do marco temporal para a demarcação das terras indígenas. Foi uma semana de notícias importantes para a agenda climática.


Lula na UNGA

Em seu discurso, Lula focou na desigualdade social (pobreza e fome), conectando em diversos momentos temas das agendas socioambiental e climática. Citou eventos extremos na Líbia e no Rio Grande do Sul. O presidente criticou o distanciamento dos países para cumprimento de compromissos e metas ambientais e climáticas, especialmente Agenda 2030, Acordo de Paris e Marco Legal da Biodiversidade. Outro destaque foi apontar a necessidade da transição energética, em especial com a expansão da energia solar, eólica, biomassa, etanol, biodiesel e hidrogênio verde.

O discurso reconheceu a emergência climática e foi avaliada pela equipe da POLÍTICA POR INTEIRO. Confira a análise completa aqui.


A correção da NDC

A correção da NDC ficou de fora do discurso de Lula, mas foi abordada no dia seguinte por sua ministra do Meio Ambiente e da Mudança do Clima. Marina Silva afirmou: “Vamos retomar o nível de ambição que apresentamos originalmente na COP 21 e que tinha sido alterado no governo anterior. Elevaremos os compromissos brasileiros de redução de emissão de 37% para 48% até 2025 e de 50% para 53% até 2030”. Análise da Política por Inteiro mostra por que as porcentagens apresentadas em Nova York e os números aprovados pelo Comitê Interministerial sobre Mudança do Clima (CIM) em resolução (ainda não publicada no Diário Oficial da União) retomam a ambição de 2015, não um avanço. Ainda assim, é um momento para celebrar.


Marco Temporal

Nesta semana, também foi derrubado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a tese do marco temporal para demarcação de terras indígenas. Segundo a tese, só seriam consideradas tradicionais as terras que tivessem comprovada ocupação pelos povos indígenas quando da promulgação da Constituição Federal, ou seja, 5 de outubro de 1988. Sob relatoria do ministro Edson Fachin, a ação judicial teve 9 votos contrários à tese, com 2 favoráveis (ministros Nunes Marques e André Mendonça). Foi o voto do ministro Luiz Fux que consolidou a maioria. Em sua fala, ele disse: “Ainda que não tenham sido demarcadas, terras ocupadas devem ter a proteção do Estado, porque elas têm a proteção constitucional”. 

Na próxima semana, deve haver a discussão sobre as indenizações para as pessoas que possuem áreas legalmente adquiridas e que são afetadas pelas demarcações (desapropriações por estarem em área de território indígena).

Entenda melhor sobre as implicações desse julgamento do STF no nosso post.


 

Mercado de Carbono

Andou e parou novamente. A presidente da Comissão de Meio Ambiente do Senado Federal e Relatora do PL 412/22, Leila Barros (PDT-DF), leu nesta semana seu novo parecer para a criação do Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE). Até aquele momento, havia 20 emendas propostas, as quais foram todas parcialmente incorporadas dentro do novo texto. Ainda assim, a senadora Tereza Cristina (PP-MS) e o senador Zequinha Marinho (PODEMOS-PA) encabeçaram novo pedido de vista coletivo.

Leila afirmou que quer votar na próxima semana o seu relatório e expressou certa surpresa com outro pedido de vista coletivo. De qualquer maneira, sinalizou abertura de seu gabinete para tratar de quaisquer necessidades de melhor compreensão por parte dos senadores e demais interessados. Desde então, outras 11 emendas foram propostas – totalizando, até sexta-feira (22), 34 emendas ao texto do PL 412/22.


Taxonomia Sustentável

Foi aberta Consulta Pública para recebimento de contribuições para o Plano de Ação para Taxonomia Sustentável, que trará objetivos, princípios, salvaguardas, setores e estrutura geral que correspondem aos mais importantes compromissos nacionais e internacionais a favor da vida de todas as espécies. O documento faz parte do eixo de Finanças Sustentáveis do Plano de Transformação Ecológica do Governo Federal. O Plano não foi apresentado oficialmente ainda, mas já foi divulgado que sua estrutura tem 6 eixos (Finanças sustentáveis, Adensamento tecnológico, Bioeconomia, Transição energética, Economia circular, Nova infraestrutura). Como setores selecionados para o documento e enfrentamento da crise climática, tem-se:

  • Agricultura, Pecuária, Produção florestal, Pesca e Aquicultura
  • Setores de energia e indústrias
  • Indústrias extrativas 
  • Indústrias de transformação
  • Eletricidade e gás 
  • Água, Esgoto, Atividades de gestão de resíduos e Descontaminação 
  • Construção 
  • Transporte, armazenagem e correio 
  • Serviços sociais para a qualidade de vida e seu planejamento 

Serão recebidas contribuições até 20/10/2023, via site Participa+ do Governo Federal.

Nesta semana foi publicada 1 norma referente aos caminhos apontados no relatório Reconstrução da POLÍTICA POR INTEIRO, somando até agora 160 medidas de reconstrução da agenda climática.

A medida foi a homologação do Regimento Interno do Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA.  Foram determinadas 5 Câmaras Técnicas, que são instâncias com a atribuição de examinar, deliberar e relatar ao Plenário as matérias relacionadas à sua área de atuação. Além disso, há a expressa menção da necessidade de “compatibilidade das propostas de resoluções com os acordos internacionais dos quais o Brasil seja signatário”. Apesar disso, o novo texto não trouxe mudanças na estrutura de representação do CONAMA, ou seja, a falta de paridade não está sendo corrigida. Foi revogada também a Portaria nº 630, de 05 de novembro de 2019.

Acompanhe aqui o andamento da reconstrução da agenda climática.

TALANOA NA MÍDIA

AP News Brazil restores stricter climate goals
The Verge Environmental conservation in Brazil: more investments, fewer “stupid decisions”
Voz de América Brasil recupera el objetivo de emisiones del Acuerdo de París
Die heutigen Nachrichten Umweltschutz in Brasilien: mehr Investitionen, weniger „dumme Entscheidungen“
Valor Econômico Brasil mostra potencial e tenta atrair capital ‘verde’ para negócios
Nexo Jornal Como vão funcionar os títulos verdes emitidos pelo governo
((o))eco Novo PAC dribla necessidades da agenda de clima, diz entidade civil – ((o))eco


MONITOR DE ATOS PÚBLICOS

Em uma semana de importantes eventos internacionais e julgamento do marco temporal, o Monitor de Atos Públicos captou somente 5 normas relevantes para a agenda climática no DOU. O tema mais frequente foi Desastres, com 3 atos. A classe mais captada foi Resposta, com 4 normas, abrangendo os reconhecimentos de situações de emergência e emprego da Força Nacional de Segurança Pública (FNSP) em apoio à Funai na Terra Indígena Parakanã/PA.



MONITOR DE DESASTRES

Nesta semana, foram captadas 3 normas de reconhecimento de emergência por eventos extremos, abrangendo 29 municípios. Grande parte dos registros foram de estiagem no Nordeste, com registros pontuais de seca, seguido das tempestades no Sul do país, com eventos de inundação e alagamentos associados. Na região Norte também foram registrados casos isolados de situação de emergência por tempestades.

Bom fim de semana,
Equipe POLÍTICA POR INTEIRO

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