SB62 – Bonn 2025: Dia 6 – Como avançaram – ou não – as negociações na semana 1 da SB62

A semana terminou em Bonn com um sábado sem grandes acontecimentos, mas com negociações, incluindo consultas informais, e escutas da sociedade civil. As principais dificuldades para a próxima semana devem girar em torno da agenda de financiamento.

No domingo, é dia de descanso para os negociadores – e para a delegação da Talanoa (ufa!). A agenda será retomada na segunda-feira, para quando está programa para começar consulta acerca do Artigo 9.1 do Acordo de Paris, um dos tópicos que emperraram a definição da agenda formal de 62ª Sessão dos Órgãos Subsidiários da UNFCCC (SB62) por praticamente dois dias no início dos trabalhos em Bonn. Esse artigo se refere ao financiamento de países desenvolvidos para ações climáticas dos países em desenvolvimento.

Além das negociações, houve uma reunião neste sábado da diretora-executiva da COP30, Ana Toni, e do secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente do Ministério das Relações Exteriores, Mauricio Lyrio, com a sociedade civil (foto acima).

Os especialistas da Talanoa Daniel Porcel e Caio Victor Vieira resumem no vídeo abaixo como foi a primeira semana de trabalhos em Bonn e as expectativas para os próximos dias:

Confira abaixo os principais desdobramentos das agendas acompanhadas pela Talanoa neste sábado:

Adaptação:

  • Objetivo Global de Adaptação (GGA, na sigla em inglês) – Houve a chamada INF INF (informal informal), uma consulta com texto informal entre as partes.
  • Planos Nacionais de Adaptação (NAPs, na sigla em inglês) – As negociações estão travadas. Há consenso sobre começar a discussão do rascunho, mas não sobre a forma de discussão dos parágrafos de financiamento, tensionado pelos países desenvolvidos. Ou seja, as Partes querem discutir o texto, porém, não se sabe qual texto. A próxima sessão está prevista para a terça-feira (24).
  • Programa de Trabalho de Nairóbi – O texto de rascunho concluído pelas negociações bem sucedidas de quinta-feira foi publicado pela UNFCCC. Não serão necessários mais debates em Belém e as próximas negociações ficarão para a SB64, em 2026.

 

Balanço Global (GST, na sigla em inglês): Outro item com as negociações travadas. Um dos pontos mais difíceis é a menção ao petróleo e ao afastamento dos combustíveis fósseis. Para que isso apareça no texto de rascunho, impõe-se outra questão: quem deve financiar a implementação? E como deve ocorrer esse financiamento?

Programa de Trabalho para uma Transição Justa (JTWP, na sigla em inglês): A Colômbia inseriu no texto a referência ao abandono gradual do petróleo, como mencionamos no resumo da sexta-feira. É muito provável que esse ponto ainda vá trazer discordâncias, assim como a referência aos grupos vulnerabilizados na transição justa.

Financiamento:

  • Fundo de Adaptação (AF, na sigla em inglês) – Um novo texto de notas informais dos co-facilitadores foi apresentado. As negociações estão avançando lentamente, mas há alguns sinais positivos de que estejam caminhando mais nos bastidores. Entre os pontos a serem acordados, como já mencionamos nos relatos dos dias anteriores, estão itens como a composição do conselho e a forma como as Partes são referenciadas – se passam a ser divididas em países desenvolvidos e em desenvolvimento, sem o uso da classificação Anexo 1 e não-Anexo 1.

 

Resumo da primeira semana da SB62

🟡 Artigo 6

Sem negociação formal. 

Houve os Ambition Dialogues do Artigo 6.2, que destacaram o potencial dos mercados bilaterais para ampliar a ambição climática. Já o Artigo 6.4 (que substitui o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) do Protocolo de Quioto) ainda não está operacional e depende de decisões do Órgão Supervisor. 

🟢 Financiamento

Apesar de ter sido um dos traumas de Baku e travado a adoção da agenda nos SBs, houve bom progresso nos itens mandatados. Os diálogos de Sharm el-Sheikh sobre o Art. 2.1c tiveram tom construtivo; o Fundo de Adaptação pode finalmente destravar. As consultas sobre o roteiro Baku–Belém revelaram divergências amplas entre Partes e também com Observadores, mas há espaço para afunilamento. Já o Artigo 9.1, que não entrou formalmente na agenda, terá consultas na próxima semana.

🟡 O financiamento para adaptação pós-2025 se destacou na consulta do roteiro Baku-Belém e discursos da Presidência da COP30, mas ainda falta um espaço claro para tratá-lo.

🟡 Gênero

Workshops renderam boas ideias para fortalecer o Plano de Ação de Gênero, mas tensões reapareceram nas negociações, especialmente sobre financiamento e interseccionalidade. Observadores criticaram a ausência do tema na 4ª Carta da Presidência.

🟢 GGA (Objetivo Global de Adaptação)

Discussões construtivas. Há convergência sobre a reorganização dos indicadores. Permanecem divergências sobre meios de implementação. Próxima sessão: terça (24), às 10h.

🔴 Balanço Global (GST) / Diálogo dos Emirados Árabes

Modalidades travadas. Será preciso mais articulação entre as Partes para avançar.

🟡 JTWP (Transição Justa)

Divisões importantes sobre medidas unilaterais, financiamento e inclusão em NDCs. A Colômbia propôs incluir transição dos combustíveis fósseis. Co-facilitadores vão apresentar texto na próxima semana.

🟡 L&D (Perdas e Danos)

Teve pouco tempo de agenda. Observadores criticaram a ausência do tema na 4ª Carta da Presidência.

🔴 MWP (Mitigação)

Discussões travadas entre quem defende um espaço técnico e quem cobra entregas concretas para reduzir emissões até 2030.

🟡 Natureza e sistemas alimentares 

G77 e Reino Unido apresentaram textos diferentes. Semana 2 precisa decidir se é possível unificar propostas e dar rumo.

🔴 NAPs (Planos Nacionais de Adaptação)

Negociações travadas. Há consenso para iniciar o rascunho, mas segue o impasse sobre os parágrafos de financiamento.

🟡 NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas)

Apenas 24 países submeteram contribuições para 2035. Ainda falta clareza sobre como a COP30 vai lidar com a lacuna de ambição.

🟢 NWP (Programa de Trabalho de Nairóbi)

Concluído na quinta-feira (19) com decisão conjunta dos órgãos subsidiários encaminhada, sem necessidade de mais negociações na COP30.

🔴 RM (Medidas de Resposta)

Impasse sobre medidas unilaterais. Risco de paralisia.

🟡 Sinergias entre Convenções 

Sinais positivos em eventos paralelos. Negociações formais bastante limitadas. 

🟢 Transparência

Primeiro ciclo do Art. 13 concluído, com 102 Relatórios Bienais (BTRs) depositados na Convenção. Oficinas ajudaram países a compartilhar desafios na preparação dos BTRs. Negociações avançam sobre a governança do Grupo de Especialistas e melhorias na interface de dados de emissões.

⚪ Resumo geral

Avanços relevantes, mas sem o entusiasmo desejado pelo Brasil. Semana 2 será decisiva e pode embalar a COP de Belém.

 

Assine nossa newsletter

Compartilhe esse conteúdo

Apoio

Realização

Apoio