As expectativas – e as pressões – aumentam para a apresentação do que deve ser um dos projetos prioritários para o Executivo aprovar no Congresso no segundo semestre: a lei para regulamentar o mercado de carbono. Informações sobre o que está na minuta elaborada pelo governo circulam em diferentes grupos e na imprensa. O substitutivo aos projetos que hoje tramitam no Legislativo está pronto (ou quase) para ser enviado, o que pode acontecer neste último mês de atividade antes do recesso parlamentar. O governo trabalhará para aprová-lo ainda em agosto. A regulamentação do mercado de carbono é uma das principais ações que o Brasil quer levar à próxima COP no fim do ano, uma vez que é instrumento necessário para o país conseguir alcançar suas metas climáticas.
Apertando o cerco ao garimpo ilegal
A fim de criar mecanismos de controle mais rígidos para a cadeia de extração e comercialização do ouro, o presidente Lula enviou um projeto de lei ao Congresso Nacional. A proposta altera e revoga artigos de legislações anteriores, possibilitando mecanismos de rastreabilidade do ouro e fixando que, além de ser destinado ao Banco Central do Brasil ou à instituição por ele autorizada, todo ouro extraído deve ter origem no regime de permissão de lavra garimpeira. Determina ainda que as operações deverão ser comprovadas estritamente por meio das notas fiscais emitidas eletronicamente e da Guia de Transporte e Custódia de Ouro, sob competência da Agência Nacional de Mineração (ANM). Inclui ainda que o ouro acompanhado por documentação fiscal irregular estará sujeito, além da apreensão, ao perdimento e também à responsabilização cível e criminal do portador, o que não constava na lei anterior.
A obrigatoriedade da nota fiscal na compra e venda do ouro já tinha sido instituída pela Instrução Normativa da Receita Federal publicada no fim de março deste ano. Alguns dias depois, a presunção da boa fé foi invalidada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), via Ação direta de Constitucionalidade – ADI 7273. O ministro Gilmar Mendes pediu ainda uma nova legislação para a fiscalização do comércio do ouro. O PL proposto nesta semana atende essa solicitação.
De Bonn a Dubai
A conferência das Nações Unidas em Bonn, na Alemanha, uma espécie de pré-COP, realizada nas últimas duas semanas, deu uma prévia do que devem ser as negociações em Dubai, no fim do ano: tensas. As dificuldades ocorreram desde a definição das agendas das reuniões, opondo países desenvolvidos e em desenvolvimento para incluir temas como o Programa de Mitigação ou o Financiamento.
Os delegados foram a Bonn encarregados de lançar as bases de um “estoque global” para avaliar o progresso das nações em direção às metas climáticas. No entanto, as tensões foram altas, pois os negociadores não conseguiram chegar a um acordo nem mesmo sobre a agenda inicial até o dia anterior ao encerramento da sessão de duas semanas. As questões políticas acabaram impedindo os avanços das discussões técnicas, como mostra o resumo da La Clima.
Simon Stiell, secretário-executivo da Convenção do Clima (UNFCCC), afirmou que não é possível atingir as metas do Acordo de Paris sem eliminar o uso de combustíveis fósseis.
Fim de novas licenças para petróleo
Em Nova York, para o lançamento da Agenda para Aceleração Climática, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, reverberou a fala de Stiell em Bonn e foi enfático em defender o fim de novas licenças para exploração de petróleo. “Vamos encarar os fatos: o problema não é só as ‘emissões’ dos combustíveis fósseis. O problema ‘são’ os combustíveis fósseis”, disse.
Proteção aos Ambientalistas
Foi instituído por meio de um decreto, o Grupo de Trabalho Técnico Sales Pimenta. O GTT tem como objetivo dialogar com a sociedade civil, com os movimentos sociais e demais atores envolvidos, direta ou indiretamente, na operacionalização da Política Nacional de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, aos Comunicadores e aos Ambientalistas. A criação do GTT, classificada como planejamento, traz uma sinalização importante em relação ao processo de acessão do Brasil à OCDE, dentro da temática de mudanças climáticas e florestais. O itinerário (roadmap) de acessão do Brasil à organização, publicado em junho de 2022, menciona explicitamente a preocupação acerca da vidas indígenas e de ambientalistas. O país será cobrado em relação a instrumentos que garantam o respeito aos direitos humanos e ambientais.
Brasil e OCDE: novos estudos
Falando em OCDE, muitos ainda têm dúvidas sobre como a acessão do país à organização poderia contribuir para as políticas ambiental e climática brasileira. Para ajudar nesta avaliação, o Instituto Talanoa acaba de publicar três novos estudos que analisam os custos e benefícios da acessão; a compatibilidade das políticas ambientais brasileiras com as de países-membros e candidatos e os impactos da acessão relacionados a florestas e mudança do clima.
Confira os novos estudos em:
Conversão de multas
Foi publicada no início da semana a Instrução Normativa nº 21 que faz parte de um conjunto de normas que revisam os procedimentos administrativos das infrações ambientais. A norma regula especificamente a conversão das multas ambientais, aplicadas pelo Ibama, em serviços de preservação, melhoria e recuperação da qualidade do meio ambiente, revogando a regulamentação anterior de 2018. Dentre as diversas mudanças, destaque para a ampliação e o detalhamento das ações que podem ser consideradas como serviços de preservação e recuperação da qualidade do meio ambiente e a exclusão de possibilidade de conversão para o cumprimento de obrigações ambientais decorrentes dos impactos adversos ocasionados no âmbito do licenciamento ambiental.
PPCDAm
Publicamos nesta semana uma análise do novo PPCDAm, entregue pela ministra Marina Silva ao presidente Lula na cerimônia do Dia Mundial do Meio Ambiente. O Plano quer resgatar a integração de competências da União com estados e municípios e deve auxiliar os governos estaduais a manter revisados os seus Planos de Prevenção e Combate ao Desmatamento. O governo propõe ainda a integração das bases de dados nacionais e o aperfeiçoamento de sistemas de informação dos entes federativos, para evitar desalinhamento entre os governos. Contudo, não traz estimativa dos custos para sua implementação e falha na falta de inclusão de metas climáticas explícitas. Entre no blog e acesse a nossa análise completa.
MONITOR DA RECONSTRUÇÃO
Desde o início do novo governo federal, o Monitor de Atos Públicos captou 288 atos relacionados à política climática, destes, 118 tratam de normas que incidem no processo de reconstrução da agenda climática e ambiental brasileira, conforme os caminhos apontados no relatório Reconstrução da Política por Inteiro.
TALANOA NA MÍDIA
The Economist | Lula’s ambitious plans to save the Amazon clash with reality |
Folha de S. Paulo | ONGs pedem urgência e articulação política para plano contra desmatamento na Amazônia |
MONITOR DE ATOS PÚBLICOS
O Monitor de Atos Públicos captou nesta semana 13 normas relevantes para a agenda climática no DOU. O tema mais frequente foi Institucional com 5 atos, seguido de Terras e Territórios, com 4. A classe mais captada foi com Resposta com 4 normas, seguida de Planejamento e Regulação, com 3 atos cada.
MONITOR DE DESASTRES
Nesta semana foram captadas 3 normas de reconhecimento de emergência em 158 municípios. A grande maioria por estiagem, na região nordeste. Um único ato do governo do Estado da Paraíba declarou que 140 municípios enfrentam a estiagem.
Bom fim de semana,
Equipe POLÍTICA POR INTEIRO