Primeiro balanço dos Relatórios Bienais de Transparência (BTRs) aponta políticas climáticas concentradas em energia e adaptação em alta

Num primeiro retrato da implementação do Acordo de Paris, os primeiros Relatórios Bienais de Transparência (BTRs, na sigla em inglês) informam que ainda são limitadas as projeções sobre o alcance das metas de redução das emissões de gases de efeito estufa dos compromissos nacionais. Mas o tema adaptação às mudanças climáticas ganhou destaque nesses documentos que devem ser entregues pelos países a cada dois anos, informa o balanço feito pela Convenção do Clima (UNFCCC).

O relatório da UNFCCC foi feito com base em 105 BTRs apresentados pelas Partes da Convenção até abril deste ano e alcança o equivalente a 75% das emissões globais de gases de efeito estufa (em 2020). Os BTRs são um mecanismo novo de transparência no Acordo de Paris. O Brasil apresentou o seu primeiro relatório bienal em dezembro de 2024. A Convenção do Clima tem 198 Partes.

Esse primeiro relatório cobre o início do período de implementação das Contribuições Nacionalmente Determinadas, as NDCs. De acordo com o balanço, 50 partes, responsáveis por 58,6% das emissões, reportam progressos para alcançar suas metas de cortes de emissão. A maioria dos países, no entanto, precisaria acelerar a ação climática e fazer esforços adicionais para alcançar as metas estabelecidas para 2025 e 2030.

Os esforços de políticas climáticas reportados até aqui estão concentrados largamente no setor de energia, com uma clara prioridade à eletrificação do transporte e ao aumento da participação de geração renovável de energia. Esforços para a eliminação da geração fóssil de energia ainda são limitados. O balanço da UNFCCC informa que as emissões cresceram 4% entre 2020 e 2021, sem contar as emissões de uso da terra, predominantes no Brasil. Esse aumento foi atribuído à retomada da economia depois da pandemia de Covid-19.

O tema adaptação aparece com destaque nos BTRs e foi tratado em 90% dos relatórios, ainda que não fosse obrigatório. Tanto países desenvolvidos como em desenvolvimento avaliam impactos das mudanças climáticas e desenvolvem estratégias de adaptação, para reduzir riscos e vulnerabilidades. Nota-se um esforço para integrar objetivos de adaptação em políticas nacionais de desenvolvimento. Os setores mais vulneráveis, de acordo com o balanço da UNFCCC, são segurança alimentar, saúde, recursos hídricos e assentamentos urbanos.

Sobre financiamento climático, 37 países em desenvolvimento reportaram uma necessidade de aproximadamente US$ 3,4 trilhões até 2030. Isso mostra uma lacuna importante, quando esse valor é comparado com os menos de US$ 61 bilhões recebidos por essas Partes, ainda de acordo com os relatórios de transparência.

“O Brasil também teve dificuldades de fazer projeções sobre o cumprimento das metas do Acordo de Paris nesse primeiro Relatório Bienal de Transparência. Mas esses relatos, bastante extensos, são fundamentais para a correção de rumos nas políticas climáticas”, avalia Marta Salomon, especialista em políticas climáticas no Instituto Talanoa.

A íntegra do documento está em no site da Convenção do Clima.

Nesta semana, a UNFCCC também publicou o Relatório Síntese das NDCs, analisando os compromissos apresentados por 64 países que submeteram seus planos climáticos com metas de emissões para 2035 até setembro passado. O documento mostrou que a ambição aumentou um pouco, mas o objetivo de limitar o aquecimento global a 1,5ºC em relação à era pré-industrial e mesmo o de 2ºC ainda está  fora de alcance. 

E o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) divulgou seu Adaptation Gap Report, o mundo está reduzindo investimentos para lidarmos com um planeta mais quente justamente quando os impactos climáticos mais exigem resposta. O relatório é claro: o Roteiro de Baku a Belém (B2B), a ser apresentado pelas Presidências da COP29 e COP30 em breve, precisa marcar uma virada, com mais ambição, mais solidariedade e menos dívida.

Equipe Editorial (Liuca Yonaha, Marta Salomon, Melissa Aragão, Ester Athanásio, Marco Vergotti, Renato Tanigawa, Taciana Stec, Wendell Andrade, Daniel Porcel, Caio Victor Vieira, Beatriz Calmon, Rayandra Araújo e Daniela Swiatek).

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