(O conteúdo que você vai ler a seguir é feito totalmente por humanos, e para humanos)
É tetraaaa! Sim, o meme de Galvão Bueno na Copa de 1994 ilustra bem os dados que vieram a público nesta semana, pelas mãos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Foi a quarta redução consecutiva da taxa de desmatamento oficial na Amazônia brasileira. No atual governo Lula, foi a terceira queda: depois de reduzir 21,8% no período 2022/23; mais 28% em 2023/24; agora foi a vez de 2024/25 marcar uma redução de 11% em relação à taxa do período anterior. No acumulado em relação a 2023, o Brasil chega a exatos 50% de redução. Está devidamente configurada a curva de queda do desmatamento no maior bioma brasileiro.
A taxa atual é a mais baixa desde 2014, e a mais próxima do menor número da série histórica (2012), desde então. O sinal é claro: o país vai se recuperando do atraso – atestado em números oficiais – observado durante o governo anterior, período no qual todos os anos operaram com taxas de desmatamento superiores a 10 mil Km².
Comemorados em Brasília, os dados sobre o desmatamento na Amazônia – que, para além de oficiais, têm curadoria científica – não deixam de ser um alento à coletividade brasileira, em meio a uma semana que evidenciou o quanto nossa sociedade ainda carrega chagas profundas de problemas sociais que parecem nunca ter fim. É, também, um fôlego a poucos dias do início da COP da implementação. Um sinal para dentro de casa e para o mundo que vem à COP30, ao demonstrar que, ao menos em matéria de florestas e uso da terra, o Brasil vem buscando conjugar o verbo implementar, aterrissando política pública para conter a perda de vegetação nativa.
Por um lado, os números demonstram que o Estado brasileiro ainda sabe reagir. É a “memória muscular” de um “atleta” que já foi vitorioso na modalidade redução do desmatamento, anos atrás. Que, no passado, já demonstrou saber como chegar lá, e agora vai refazendo esse caminho. Por outro lado, como problema complexo que é, o desmatamento ainda segue firme, ameaçando o propósito de que as florestas tropicais sejam para sempre, e exigindo que o federalismo de cooperação funcione. Não se resolverá apenas com os Planos de Ação para Prevenção e Controle (agora para todos os biomas), que apesar de oferecerem foco e organização ao país, não definem a vontade política de presidentes, governadores e prefeitos, muito menos dissuadem “CPFs” que fazem da ilegalidade o negócio de suas vidas.
Além disso, o desmatamento nunca anda só. Tem parentes perigosos, como a prima sorrateira com quem caminha de mãos dadas (a degradação), o irmão que levanta suspeita sobre o seu caráter sempre que aparece (o fogo), e o tio, discreto, mas que trabalha em escala 7 por 0 (a grilagem). Contra eles, só demonstrar intenção não basta: é preciso que os meios funcionem.
E um dos meios que podem ajudar significativamente o Brasil a manter o esforço dando resultado é o Fundo Florestas Tropicais para Sempre, o TFFF, na sigla em inglês, em gestação ao longo dos últimos anos e que deve vir ao mundo, oficialmente, durante a COP30.
Esse mecanismo financeiro tem desenho perspicaz, fala tanto o idioma do sistema econômico global (investimento, tempo, retorno, solidez, previsibilidade) quanto estabelece um “piso obrigatório” de retorno financeiro a povos indígenas e comunidades locais: 20% de toda a arrecadação alcançada pelo país beneficiário. No entanto, hoje, sua maior ameaça reside no risco de países e investidores não apostarem o suficiente no volume de que ele precisa para alçar voo: US$ 125 bilhões. Se essa nave decolar – e já ganhou parte da tripulação na última semana – o TFFF é uma oportunidade para que a implementação brasileira se fortaleça, injetando recursos em pelo menos boa parte do Plano Clima, ainda que decisões sobre alocação devam respeitar a autonomia e a liberalidade do governo nacional na ocasião. No caso brasileiro, é certo que, se aplicadas em favor do fortalecimento da mitigação e da adaptação onde há florestas, as receitas geradas pelo “tri-éfe” trarão rebatimento positivo direto em setores como a própria agropecuária, exorcizando os fantasmas de uma dicotomia conservação-produção que simplesmente não existe.
Quando o assunto é desmatamento, o desafio não é um ponto, um número, mas uma linha ao longo do tempo. É como no Esporte: não tem a ver com ganhar o título ou o posto de número 1 no ranking, mas mantê-lo ao longo dos anos, perante ameaças. Os dados revelados nesta semana são uma vitória brasileira, mas os adversários não descansam. Enquanto ameaça ao próprio crescimento econômico nacional, no curto ou no longo prazo, o desmatamento requer que os diferentes governos, níveis e esferas cooperem a ponto de não permitir deslizes de condução. Cada quilômetro quadrado a reduzir em área desmatada vai exigir ainda mais de gestores, parlamentos, empresariado, academia, sociedade.
Quem lida com prevenção e combate ao desmatamento sabe que ingredientes fundamentais para uma redução sustentada do desmatamento e da degradação são a produção sustentável e os chamados incentivos econômicos e financeiros. O Brasil ainda tem contas a acertar em ambas as frentes. Medidas até existem, mas precisam de escala e continuidade se pretendem ser capazes de convencer quem desmata (legal ou ilegalmente) a gastar seu tempo, energia e grana noutra(s) atividade(s) econômica(s), deixando a floresta “funcionar” e se valendo dos serviços ambientais que ela presta para gerar dinheiro. É por isso que o sucesso das metas climáticas em mitigação e adaptação, no Brasil, tem de passar pelo desabrochar de pautas como a bioeconomia, o manejo florestal, as concessões de florestas e de serviços em Unidades de Conservação, o turismo em todas as suas modalidades ligadas a espaços naturais, a circularidade, a revisão da estrutura de incentivos fiscais e subsídios públicos, uma nova indústria baseada em ativos da Natureza que agreguem valor e funcionem de modo perene, e a tantos outros potenciais que o Brasil, quando não desmata, tem à sua disposição para a Transformação Ecológica.
O desmatamento em declínio traz efeitos colaterais positivos. A economia rural ganha sobrevida, já que se desacelera a perda dos serviços ambientais que a sustentam; governos tendem a ter orçamento menos sobrecarregado agora e depois, evitando ter de correr para cobrir ameaças de desabastecimento de água, redução da oferta (ou aumento dos preços) de comida, aumento dos custos em saúde pública, perda de postos de trabalho e piora da qualidade de vida local. Isso sem contar o flerte com o imponderável, um kinder-ovo de coisa ruim que sempre vem com a perda de bioma.
No entanto, o ânimo com os números recentes também precisa inspirar prudência dentro e fora de Brasília. Estados da Amazônia Legal vêm dedicando tempo e energia na construção dos chamados Sistemas Jurisdicionais de REDD (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal), nome pomposo para dizer que estão organizando as regras da casa para captar dinheiro a partir da capacidade de domar o desmatamento. Esse dinheiro deve ser direcionado tanto para a população que tem papel decisivo ao sucesso da empreitada de manter o carbono preso onde está, quanto para governos turbinarem políticas públicas que mantenham a floresta funcionando, na intenção de um círculo virtuoso cujo final é zerar a pressão por árvores no chão. Acontece que, diferentemente do TFFF, o REDD não tem vocação para ser pra sempre, por um paradoxo inerente à sua própria razão de ser: se o desmatamento cair a zero – o que está prometido na Contribuição Nacionalmente Determinada do Brasil para acontecer até 2030 – a diferença entre o cenário de emissões projetado e a redução alcançada (um “delta” que pode ser lido como performance) deixa de existir. Em não havendo como performar, uma vez que o zero seja alcançado, o mecanismo, como o conhecemos hoje, perderia a razão de ser no dia seguinte. É preciso, portanto, ter clareza do que cada ferramenta pode oferecer, dentro de um conjunto de possibilidades que devem caminhar juntas, justamente porque não resolvem nada sozinhas.
No contexto atual, a redução do desmatamento computada pelo Inpe nesta semana dá ânimo a estados como o Pará, que apesar de ser onde ainda ocorre a maior fatia do desmatamento amazônico, teve expressiva redução verificada entre 2022 e 2025: 50%. Alerta ligado no Mato Grosso, único estado dentre “os quatro grandes” do desmatamento (juntamente com PA, AM e RO) a apresentar subida de 2024 para cá.
Sim, há de se comemorar – e muito – os números em queda. Todavia, é necessário assimilar que a segunda metade da jornada para o desmatamento zero será mais difícil de vencer do que a primeira. E, na corrida para zero emissões, ao mesmo tempo em que derruba o desmatamento, o Brasil ainda precisa vencer a energia suja.
Então, sim, é tetraaaa, Brasil! Mas cuida que ainda tem muitos campeonatos pela frente.
Faltam 11 dias para a COP30.
Boa leitura!
TÁ LÁ NO GRÁFICO
O Brasil comemora um feito diante de seu maior desafio na contabilidade de emissões de gases de efeito estufa. Pela segunda vez consecutiva, o balanço anual indica que as políticas de combate ao desmatamento estão funcionando tanto no Cerrado quanto na Amazônia: a perda de floresta foi 11% menor em relação à de 2024, alcançando a menor taxa desde 2011. O Tá lá no Gráfico desta semana mostra os números que o governo divulgou nesta quinta-feira (30), a partir de dados do Prodes, um dos sistemas de monitoramento desmatamento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e as medidas para que resultados positivos sejam consolidados.

FRASE DA SEMANA
“No Esporte, aprendemos a nos adaptar todos os dias, a novos times, novos adversários. Mas a mudança do clima é um adversário diferente. É mais forte, mais imprevisível e ninguém pode enfrentá-lo sozinho.”
Tamires Dias, jogadora de futebol do Corinthians e da Seleção Brasileira, sobre nova campanha global Adapt2win, que será lançada na COP30, com carta assinada por cerca de 40 atletas pedindo ações de adaptação. Foto: Perfil pessoal/X.
ABC DO CLIMA
Savanização: é a conversão de uma área de floresta em algo similar a uma savana, em função do chamado ponto de não-retorno (do inglês: tipping point) provocado pela mudança do clima, o que promoveria uma alteração agressiva (e irreversível, no tempo da existência humana) do ambiente original existente. É preciso ter cuidado na aplicação do termo para que ele não gere preconceitos ou desqualifique as savanas como ecossistemas ricos em biodiversidade e importantes para o planeta. A utilização do termo savanização ocorre mais pela ausência de um termo específico que qualifique com exatidão o que o ponto de não-retorno provocaria em determinado ambiente, do que propriamente pela certeza de que ali será, de fato, uma savana. Melhor mesmo é conter o aumento da temperatura média do planeta antes que florestas sofram perante desordens no sistema climático suficientemente complexas para se prever todas as consequências.
MONITOR DE ATOS PÚBLICOS
Nosso Monitor de Atos Públicos captou 5 atos relevantes para a política climática nesta semana. Em uma semana com poucas normas, os temas mais recorrentes foram Finanças e Terras e Territórios, com 2 atos cada, incluindo a revisão do Manual de Crédito Rural e dois Territórios Quilombolas reconhecidos, nos estados de Minas Gerais e Sergipe. A classe mais captada foi Regulação, com 4 atos.
Emenda constitucional pelo clima
Nesta semana, o Ministério da Fazenda (MF) regulamentou a Emenda Constitucional nº 136, definindo diretrizes para a destinação de recursos voltados à ação climática.
Promulgada no mês passado, a EC 136/2025 alterou as regras para o pagamento de precatórios e débitos previdenciários por Estados, Distrito Federal e Municípios e fez algo inédito, incluindo “clima” no texto da Constituição Federal.
Em seu artigo 5º, a emenda estabelece que, entre 2025 e 2030, até 25% do superávit financeiro das fontes de recursos dos fundos públicos do Poder Executivo poderão ser destinados ao financiamento reembolsável de políticas locais de mitigação e adaptação às mudanças climáticas e de transformação ecológica. Esses recursos também poderão apoiar projetos estratégicos vinculados ao próprio fundo.
Ainda que tímida, a primeira menção constitucional à mudança do clima, conectada ao financiamento de políticas públicas, eleva a crise climática à condição de problema público, no mesmo patamar de desafios estruturantes, como saúde e educação, e é assim que deve ser.
Pronaf nas UCs
Uma resolução do Conselho Monetário Nacional (CMN) revisou o Manual de Crédito Rural para ampliar o acesso ao crédito do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) para povos e comunidades tradicionais que vivem em Unidades de Conservação federais de Uso Sustentável.
Agora, as famílias que vivem em Reservas Extrativistas (Resex), Florestas Nacionais (Flonas) e Reservas de Desenvolvimento Sustentável (RDS) poderão acessar o crédito, mesmo que não estejam individualmente inscritas no Cadastro Ambiental Rural (CAR).
A medida não só fortalece a sociobioeconomia, como também promove justiça climática, conectando o mecanismo de financiamento rural à economia da floresta, realizada por povos e comunidades que, historicamente, enfrentam dificuldades para acessar políticas de crédito.
BRASIL
Não basta ter ambição climática, tem que reduzir a desigualdade
A Nota de Política Econômica nº 79, do Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades da Universidade de São Paulo (USP) reforça, com dados empíricos, a defesa política da terceira onda do ambientalismo: a proteção ambiental é insuficiente se dissociada da crítica à estrutura produtiva e distributiva.
Combinar crescimento econômico, redução das desigualdades e descarbonização permanece como o maior desafio deste século. A literatura especializada apresenta duas grandes interpretações sobre a relação entre desigualdade de renda e meio ambiente. A vertente mais antiga sustenta que políticas redistributivas tendem a ampliar o consumo e, consequentemente, as emissões. A perspectiva mais contemporânea, em contraste, argumenta que sociedades mais igualitárias alcançam melhores resultados ambientais, pois a demanda por bens sustentáveis cresce com a renda e a estabilidade social favorece escolhas de menor impacto. Estudos empíricos em países como Estados Unidos, China e diversas nações da África Subsaariana reforçam essa correlação entre igualdade de renda e menor intensidade de carbono.
Os números dão dimensão ao problema. Em 2019, os 10% mais ricos da população mundial responderam por quase metade das emissões globais, enquanto os 50% mais pobres contribuíram com apenas 10%. No Brasil, o 1% mais rico emite cerca de sete vezes mais carbono do que os 10% mais pobres.
Nesse cenário, o investimento público se destaca como instrumento essencial. Ele não apenas estimula a atividade econômica, mas também pode direcionar recursos para setores de baixo carbono, infraestrutura verde e serviços públicos que reduzem desigualdades. A pesquisa da USP mostra, contudo, que o efeito ambiental do investimento público depende fortemente do grau de desigualdade: quanto maior a disparidade de renda, menor a capacidade do Estado de alocar recursos de modo progressivo e sustentável.
Os resultados indicam que um aumento de 10% no investimento público pode reduzir em cerca de 4,4% a intensidade de carbono da economia (CO₂/PIB) nos períodos seguintes. Entretanto, em contextos de elevada desigualdade, esse efeito cai pela metade. Isso ocorre porque os grupos de menor renda permanecem dependentes de padrões de consumo intensivos em carbono como o uso de alimentos ultraprocessados, transportes antigos e ineficientes, bem como a eletricidade de fontes fósseis. A estrutura produtiva também é determinante: os impactos variam conforme a composição da matriz energética e a extensão dos ciclos de produção e distribuição, sendo mais positivos quando estes são curtos, circulares e de base limpa.
Em síntese, políticas que integram justiça social, planejamento produtivo e ação ambiental são mais eficazes na mitigação das emissões e na promoção do desenvolvimento sustentável.
Bioeconomia: qual é o plano?
Tem andado, dentro do Senado, o projeto de lei que busca criar uma “Política Nacional para o Desenvolvimento da Economia da Biodiversidade (PNDEB)”, assim chamado. Não está exatamente claro como a proposta se conecta aos movimentos do Executivo, que parece estar na iminência de (enfim) apresentar o Plano Nacional de Desenvolvimento da Bioeconomia (PNDBio). O Congresso em Foco trouxe mais informações. Fiquemos de olho.
MUNDO
Carta dos atletas pela adaptação
Nesta semana, repercutiu uma carta de atletas globais pela adaptação climática. O movimento faz parte de uma campanha mundial de desportistas para visibilizar a mudança climática como desafio existencial da Humanidade. O grupo é formado por aproximadamente 40 atletas de alta performance, entre eles a brasileira Tamires Dias (futebol), a tenista Bia Haddad e o futebolista Raheem Sterling. A campanha “Adapt2Win” tem o objetivo de cobrar dos governos maior atenção e recursos para a adaptação às mudanças climáticas antes da COP30. Eles destacam que o esporte já sofre impactos diretos das condições climáticas extremas — calor intenso, chuvas fortes —, o que evidencia que a adaptação não é mais opcional.
Os atletas afirmam que setores como governos, empresas e esportes precisam atuar em conjunto para enfrentar esse adversário comum — a mudança climática — e que a COP30 representa uma oportunidade para um compromisso concreto.
Aumenta a brecha de financiamento para adaptação
Um dia após o furacão Melissa chegar à Jamaica, foi publicado o Adaptation Gap Report pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), atestando com dados, o que vemos nas notícias diariamente. Não estamos preparados para os eventos extremos de um planeta mais quente.
O relatório, publicado anualmente, indica que as necessidades de adaptação dos países em desenvolvimento aumentaram, representando 12 a 14 vezes maiores que o fluxo atual existente de financiamento. Em números, precisamos de no mínimo US$ 310 bilhões anuais para a adaptação, enquanto temos US$ 26 bilhões (último dado de 2023). Se somarmos o custo quantificado para implementar NDCs e NAps, esse número sobe a US$ 365 bilhões anuais.
O PNUMA é categórico ao afirmar que é preciso que os países atuem na COP30 para conter o crescimento da lacuna de financiamento. Com o fim do Pacto Climático de Glasgow, os países desenvolvidos precisam tomar a dianteira e reconhecer seu compromisso em escalar o financiamento para adaptação, triplicando-o e garantindo que seja de qualidade, através de doações e mecanismos altamente concessionais.
Leia mais na nossa análise específica aqui.
NDCs mostram um avanço modesto e lento da ambição climática
O Secretariado da UNFCCC divulgou o Relatório de Síntese das Contribuições Nacionalmente Determinadas de 2025 (NDC Synthesis Report 2025), com as informações das 64 novas NDCs submetidas entre janeiro de 2024 e setembro de 2025.
Consolidando cerca de 30% das emissões globais de 2019, o documento apresenta um quadro misto: um conjunto de países representados está comprometido em “achatar a curva” das emissões, mas ainda muito distante da trajetória necessária para manter o aquecimento em 1,5°C. Outro ponto relevante para a trajetória 1.5 é a ausência de novas NDCs de dois terços dos países do G20 e de mais de dois terços das emissões globais.
O documento também evidencia a crescente integração entre mitigação, com a sinergia entre as duas tendo crescido de 53% para 81% dos países, com destaque para ações baseadas na natureza. Porém, o relatório destaca uma lacuna crítica de financiamento: as necessidades somam quase US$ 2 trilhões para viabilizar as metas.
Em comparação com relatórios-síntese de anos anteriores, a edição de 2025 mostra um retrocesso em termos de cobertura de países. Em 2024, a abrangência foi de 95% das emissões globais em 2019, considerando metas para o ano de 2030, incorporando compromissos submetidos por 168 países.
No relatório-síntese de 2025, não houve alteração significativa das metas para 2030. Isso significa que, politicamente, os compromissos seguem inalterados e num ritmo extremamente abaixo do necessário para descarbonização das economias nesta década.
Este sintoma preocupante de paralisia política em meio à emergência climática, contudo, não deve abalar a confiança no valor desse tipo de análise, que é uma ferramenta poderosa para medir o pulso da ação climática global. O Relatório Síntese pode e deve funcionar como um chamado para cobrar os países que estão descumprindo o Acordo de Paris por não terem ainda apresentado suas NDCs.
No blog, analisamos melhor o Relatório. Acesse.
Reino Unido e Alemanha falam bonito, mas cadê o dinheiro?
Em carta aberta conjunta publicada quinta-feira (30), os governos do Reino Unido e da Alemanha se comprometeram a tomar a dianteira do financiamento climático para cumprir com os US$ 300 bilhões anuais mandatados pela Nova Meta Coletiva de Financiamento Climático (NCQG), bem como o mapa do caminho para chegar até US$ 1,3 trilhões até 2035.
Além disso, afirmam que o financiamento para adaptação é uma prioridade, assumindo a missão de alcançar o equilíbrio entre o financiamento de mitigação e adaptação na NCQG, bem como da meta de triplicar os fluxos financeiros para fundos multilaterais.
No entanto, a carta não menciona nenhum anúncio concreto, fato que poderia encorajar outros países a fazerem o mesmo. A tão poucos dias da COP30, a dianteira se conquista com ambição nos números e na qualidade do financiamento climático.
DESASTRES
Nota de esclarecimento: Nosso Monitor de Desastres tem apresentado instabilidades nas últimas semanas e teve de ser submetido a reparos. Retornaremos com ele o mais rápido que pudermos.
TALANOA POR AÍ
Webinar
Na quarta-feira (29), realizamos o Webinar “Adaptação e Atores Não Estatais: Alianças multissetoriais na América Latina e no Caribe”, com a Enviada Especial para América Latina e Caribe, Patricia Espinosa; e as organizações iCS, Transforma, Iniciativa Climática do México e onepoint5. O foco da conversa foi como priorizar a adaptação climática para além das negociações climáticas, especialmente no âmbito da Agenda de Ação. Contamos com a presença de atores de governos subnacionais, setor privado e organizações de base comunitária. Você pode assistir a gravação aqui.
Bolsas para Jornalistas
Estão abertas as inscrições para o concurso de bolsas de reportagem que a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) lançou em parceria com a Talanoa. Nove profissionais de imprensa da Ásia, Europa e Brasil serão contemplados com R$ 5.500,00 para viabilizar coberturas sobre Adaptação Climática. Na última semana, as jornalistas da Talanoa Liuca Yonaha e Ester Athanásio participaram de um webinar em diálogo com a presidente da Abraji, Kátia Brembatti, e a jornalista de clima da Agência Pública, Giovana Girardi. Elas discutiram a ascensão da agenda de Adaptação Climática, apresentaram o Guia para Cobertura Jornalística e debateram os principais mitos envolvendo adaptação. O conteúdo gravado pode ser revisto no canal da Abraji.
Atenção, influencers
Já estamos em ritmo de cobertura da COP30. Se você é influenciador digital ou produtor de conteúdo, cadastre-se aqui para receber alertas diários da equipe da Talanoa com as principais decisões nas salas de negociação e a análise apurada do nosso time de especialistas. Você pode replicar inclusive nossos materiais gráficos, basta dar os devidos créditos e fazer parte de uma cobertura técnica, responsável, ampla e engajada. Até Belém!
TALANOA NA MÍDIA
| Exame | Em análise sobre o Adaptation Gap Report, o Instituto Talanoa foi uma das fontes consultadas pela revista. |
| Valor Econômico | Em reportagem sobre justiça climática nos países insulares, Natalie Unterstell, presidente da Talanoa, contou sua experiência em Vanuatu. |
| Valor Econômico | Em especial sobre a COP30, o especialista em Políticas Climáticas da Talanoa Daniel Porcel fala da necessidade urgente de adaptação. |
| Correio Braziliense | A crise climática é debatida com a ajuda de cientistas. Natalie Unterstell é uma das especialistas ouvidas. |
| Conexão Planeta | Foi divulgada a lista dos 100 latinos que mais têm se comprometido com a ação climática no mundo e Natalie Unterstell está entre os citados. |
| Agência Brasil | Com a divulgação do Relatório Síntese das NDCs, o Instituto Talanoa se pronunciou e disse que as metas ficaram mais sofisticadas, mas o principal problema permanecerá. |
| InfoAmazônia | Site publica repercussão do Relatório Síntese das NDCs e traz a opinião da Talanoa, que afirma que os líderes devem transformar o mal-estar político em uma resposta coletiva em Belém. |
| O Globo | Natalie Unterstell fala em “ciclo de atraso” sobre as metas de NDCs apresentadas no Relatório Síntese da UNFCCC divulgado nesta semana. |
Bom fim de semana,
Equipe POLÍTICA POR INTEIRO