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Oportunidade e implementação. A 7ª Carta da Presidência da COP30, publicada na manhã desta sexta-feira (29), direciona-se às empresas e ao setor privado. No documento, o embaixador André Corrêa do Lago afirma que a participação do setor privado na ação climática é condição indispensável para a implementação de acordos, em sintonia com o rendimento econômico que a transição para uma economia de baixo carbono agrega.
“A participação do setor privado é vital; e a oportunidade é histórica”, diz. O mundo atento e alinhado à nova realidade climática não é apenas resiliente e antifóssil, mas também é próspero. É essa visão que sobressai no texto em que Corrêa do Lago argumenta o quanto a transição para economia de baixo carbono coincide com o fomento à inovação e ao crescimento socioeconômico.
Habitualmente, setores público e privado apresentam choques. Na agenda climática, essa tensão muitas vezes persiste. Mas a carta escolhe outro caminho para essa relação. Há agora espaço para soluções bem pavimentadas nas quais o interesse privado não apenas trabalhe pelo bem comum, mas obtenha resultados financeiros, aproveitando as oportunidades que a economia de baixo carbono já oferece.
Nas palavras do presidente da COP30, “a transição climática em curso é irreversível” e o recado é claro: talvez não na velocidade que os mais engajados gostariam de ver, mas a mudança está acontecendo e não tem volta. Negar isso pode significar fechar portas para os próprios negócios. “Os líderes empresariais que anteciparem essas mudanças radicais serão aqueles que prosperarão, ao construir resiliência e aproveitar as extraordinárias oportunidades que a transição em curso oferece”, argumenta. O texto não deixa dúvidas de que a cooperação pró-clima é “uma oportunidade decisiva para os negócios”, citando números e lembrando que a produção de energia limpa tem gerado milhões de empregos no Brasil e no mundo, enquanto os títulos verdes são concedidos a juros mais baixos que o habitual, oferecendo vantagens competitivas à economia que preza pela mitigação das emissões.
A carta volta a reforçar que a conferência das partes presidida pelo Brasil será “um momento decisivo para transformar anos de compromissos climáticos em implementação concreta”. E que a implementação passa pelo setor privado, que consolida e aplica as mudanças pré-acordadas pelas lideranças políticas que estabelecem metas coletivas. O texto é enfático sobre o deadline que pressiona a todos por uma “transformação uma realidade exponencial”, mas é otimista sobre os resultados que os negócios podem colher para além do impacto coletivo: “o momento de agir é agora – quando a crise se encontra com a oportunidade”.
“Para realizar plenamente o potencial da Agenda de Ação Climática, a Presidência da COP30 vê o setor privado como beneficiário da transição climática e parceiro indispensável para impulsionar sua implementação. Isso significa avaliar riscos relacionados ao clima, adotar planos de transição críveis e se posicionar para engajar de forma construtiva com governos e investidores em políticas, financiamento e entrega de resultados. À medida que os países desenham NDCs que fortalecem a resiliência, promovem o desenvolvimento sustentável e asseguram benefícios compartilhados de longo prazo, as empresas devem estar preparadas para atuar como coarquitetas dessa transformação e implementadoras de suas intenções.” Para Corrêa do Lago, as NDCs devem conectar as negociações à implementação prática, sendo instrumentos que forneçam previsibilidade ao setor privado. Neste sentido, as empresas são co-responsáveis pelo alcance das metas nacionais. No entanto, o Embaixador poderia ter dado mais materialidade às possíveis formas de ação privada na agenda climática e convocar as empresas a contribuir com o financiamento climático, por exemplo.
Se implementar o Acordo de Paris é um bom negócio e a inovação que floresce no setor privado é meio para encontrar e aplicar soluções, que o diálogo que sustenta o multilateralismo seja exercitado – cada vez mais – pelos mais diversos atores sociais que compartilham do mesmo desafio e, juntos, podem obter êxito. Citado na carta, o escolhido para ocupar a posição de Campeão Climático de Alto Nível justamente pelo seu trânsito no setor privado, o empresário Dan Ioschpe deve ser estratégico e assertivo na missão de criar coalizões positivas entre mercado e COP30, com ações de resultado efetivo. Que a visão da presidência da COP30 seja compreendida (e aproveitada) pelos negócios, que possam deixar o greenwashing de lado e metas irrelevantes arquivadas; para criar marcas fortes e autênticas, com propósitos e ações genuínas, com lucro para o mundo.
Convocação para estar em Belém
O presidente da COP30 aproveitou a Sétima Carta para reafirmar a realização da conferência em Belém. Na abertura do documento, Corrêa do Lago afirma: “Hoje, conclamo todos os líderes empresariais a se unirem ao mundo em Belém”. E deixou claro em seguida que “em menos de 75 dias, o mundo se reunirá no coração da Amazônia brasileira, em Belém, para a COP30”.
Mais adiante, já na parte final do texto, a carta deixa mais evidente o recado acerca dos questionamentos sobre a viabilidade da COP30 em Belém, reconhecendo que há “desafios logísticos” em “viajar até Belém”, mas que a COP na Amazônia será um marco histórico e representativo da emergência que vivemos. “Esses diálogos críticos devem acontecer não apenas onde é fácil, mas sobretudo onde mais importa”, afirma.
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