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A Sexta Carta da Presidência da COP30 tem o conteúdo mais pragmático de toda a série de documentos publicados a partir de março. Focado no processo de construção das agendas para discussões de alto perfil político e técnico, o presidente da COP30, André Corrêa do Lago, anuncia a realização das Consultas da Presidência da COP30. Por meio desse procedimento, o embaixador espera coletar dos negociadores oficiais dos Países parte do Acordo de Paris insumos para antecipar impasses e desfazê-los e mapear questões que não estejam propriamente abordadas em itens da agenda formal.
A carta busca conectar os trabalhos realizados em Bonn, na 62ª Sessão dos Órgãos Subsidiários (SBs) da UNFCCC, em junho, à próxima sessão dos SBs (SB63) e também à COP (COP30) e às Reuniões das Partes do Protocolo de Quioto (CMP20) e do Acordo de Paris (CMA7), que ocorrerão em Belém em novembro. Há um recado claro para que haja um esforço coletivo para não repetir o que ocorreu na Alemanha, quando discordâncias sobre a agenda levaram a um atraso de quase dois dias no início dos procedimentos formais. “Devemos todos buscar a adoção ágil das agendas e o suave início dos trabalhos na COP30 e na SB63, e encorajo as Partes a se absterem de introduzir novos itens de agenda potencialmente controversos que possam sobrecarregar ainda mais o processo ou desviar a atenção das prioridades acordadas”, diz a carta.
As Consultas da Presidência começarão com uma sessão online, com todas as Partes, nas próximas semanas. O tema principal serão as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) e o relatório-síntese acerca desses compromissos climáticos que devem ser apresentados até o fim do próximo mês à UNFCCC. A Presidência da COP30 quer coletar subsídios sobre como deverá responder a esses documentos, em forma e conteúdo.
Após essa reunião virtual, haverá uma consulta presencial em 25 de setembro, em Nova York, quando os países estarão na cidade para a 80ª Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU80). E, depois, em Brasília, em 15 de outubro, após a Reunião Ministerial de Alto Nível da Pré-COP.
Na carta, Corrêa do Lago chama a atenção para o pouco número de NDCs apresentadas até o momento: “Ao cruzarmos a marca dos 100 dias antes da COP30, cerca de quatro quintos dos membros do Acordo de Paris ainda não apresentaram novas NDCs para 2035”. Dessa forma, a resposta à “crise das NDCs”, embora não constitua item formal da agenda de negociação, deverá ser endereçada nas rodadas de consulta previstas.
O documento reafirma a importância do instrumento para o multilateralismo e o regime climático e sugere a AGNU80 como uma grande oportunidade para as Partes divulgarem suas metas para 2035.
O Instituto Talanoa declara que é sintomático e, ao mesmo tempo alarmante que, a menos de cem dias da COP 30, a maioria dos países ainda não tenha submetido seus compromissos climáticos para 2035. Esse atraso fragiliza não apenas a transparência e a confiança mútua entre as partes, mas sacode a credibilidade do próprio regime de clima, cuja espinha dorsal é justamente o ciclo de atualização e registro formal das contribuições nacionais. Sem esse fluxo regular de informações, não é possível produzir subsídios técnicos que permitam comparabilidade, rastreabilidade dos comportamentos dos poluidores e nem avaliação coletiva do progresso ou regresso global.
Essa lacuna é ainda mais preocupante quando se observa a transição energética. A ausência de metas claras e registradas atrasa o planejamento coletivo para o setor de energia, mundialmente o mais relevante para a descarbonização.
Agenda de negociações
O documento divulgado nesta terça-feira (19) indica, além da questão das NDCs, os assuntos que ficaram pendentes de negociação em Bonn: (i) indicadores do Objetivo Global de Adaptação (GGA) no âmbito do Programa de Trabalho Emirados Árabes Unidos-Belém, (ii) o Diálogo sobre a implementação dos resultados do Balanço Global (GST) e (iii) o Programa de Trabalho sobre Transição Justa (JTWP).
Nota-se, ainda, que o embaixador André Corrêa do Lago solicita moderação na proliferação de novos itens de agenda, enviando de forma tácita uma mensagem clara aos Países em Desenvolvimento de Pensamento Similar (Like-Minded Developing Countries, em inglês [LMDCs]), que defendem a inclusão de um item de agenda sobre medidas unilaterais, como o Mecanismo de Ajuste de Carbono nas Fronteiras da União Europeia (CBAM), no âmbito formal da UNFCCC. Ainda que esse debate seja legítimo sob a ótica do comércio internacional, é importante reconhecer que instrumentos de precificação de carbono buscam justamente corrigir uma falha estrutural: a ausência de internalização dos custos sociais e ambientais gerados pelos poluidores, estejam eles em países desenvolvidos ou em desenvolvimento. Por essa razão, a discussão não pode ser reduzida a uma disputa comercial, mas deve ser tratada no marco mais amplo da transição energética global.
Outro ponto de atenção são os assuntos relacionados a financiamento, sobre o qual a Presidência da COP 30, em conjunto com a COP29, realizou consultas na SB62, no âmbito do “Mapa do Caminho de Baku a Belém para o 1,3 trilhão”. E também: sinergias entre clima, biodiversidade, desertificação e desenvolvimento sustentável; implementação Balanço Global (GST); e como a COP30 deveria refletir sobre o primeiro ciclo de Relatórios Bienais de Transparência (BTRs), Planos Nacionais de Adaptação (NAPs) e perdas e danos.
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