Nem pra inglês ver

(O conteúdo que você vai ler a seguir é feito totalmente por humanos, e para humanos)

Foto: Fábio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil

Maio já dava sinais de que não seria um mês fácil desde o início. Em uma conferência mundial sobre Óleo & Gás realizada nos Estados Unidos, a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, fez questão de tomar emprestado um dos bordões do presidente daquele país: mandou um “let’s drill, baby!” (“vamos perfurar [poços de petróleo], meu amor!”, em livre tradução), arrancando aplausos da plateia em que se encontrava o governador do Amapá, Clécio Luís, numa clara demonstração de que a Petrobras e o ecossistema de O&G no Brasil seguirão mantendo a pressão para desentranhar carbono do extremo norte brasileiro, como se o mundo não estivesse em emergência climática. Com mais carbono solto na atmosfera (não importa se o Brasil vai emiti-lo por si próprio ou vendê-lo a outros países), qualquer planejamento que o mundo faça para se adaptar aos efeitos já contratados pela mudança do clima terá de ser refeito, e o sarrafo, levantado. O atual US$ 1,3 trilhão/ano vai se defasando a cada decisão na contramão da ciência.

Na segunda metade do mês, tivemos a Semana Regional do Clima, sediada no Panamá. Tímida em resultados práticos, os muitos eventos lá realizados entregaram bons debates e um pouquinho de esperança, trazido sobretudo pela atuação de organizações da sociedade civil e pelas falas da Campeã  da Juventude da COP30, Marcele Oliveira. Que essa esperança se traduza em resultados nas negociações que ocorrem em Bonn, agora em junho. 

Enquanto isso, no plano interno, o Senado dava sua contribuição para o desmoronamento de qualquer compromisso parlamentar com o enfrentamento à mudança do clima, ao atacar a pedra angular de sustentação do meio ambiente ecologicamente equilibrado no país – o Licenciamento Ambiental. No plenário de votação, a expressão mais comum utilizada pelos senadores era “destravar o país”. 

Acontece que o passo dado pelo Senado vai no sentido oposto, porque a crise climática tem dado mostras de que a vida em coletividade já começa a travar. Dada a solidez da ciência a essa altura do campeonato e a vida real “aqui fora”, com eventos climáticos mais frequentes e destrutivos – e prejuízos de toda sorte aos brasileiros – é certo que em 2025 os senadores sofrem de qualquer coisa, menos de falta de informação científica segura. Com quadros de servidores públicos e de assessores parlamentares notadamente qualificados no Senado, não restam dúvidas: senadores não carecem de dados de qualidade para a melhor tomada de decisão. Logo, o ataque a mais de 40 anos de uma institucionalidade criada justamente para garantir os atributos que fazem do Brasil, ainda hoje, uma potência econômica pelas mãos da Natureza é ato deliberado. Dolosamente anticlima. Fere de morte o Pacto pela Transformação Ecológica, firmado há menos de um ano com a caneta da própria Casa.

O Parlamento sabe que, se enfraquecidas as regras que resguardam o patrimônio ambiental nacional, o gatilho que se aperta é justamente o de travar o país para prejuízos gerados por uma mudança do clima ainda mais severa. Quando nossas autoridades intencionalmente conduzem a sociedade a sucumbir aos efeitos da mudança do clima, o que está em jogo é a saúde pública, a produção agropecuária, a segurança alimentar e a disponibilidade de água; também a geração de energia, a viabilidade logística (e a tão sonhada redução de custos da produção, não é mesmo?), o custo com remediações na própria infraestrutura nacional, a cobertura de seguros, a eficácia do orçamento público, a própria governabilidade de gestores… e uma lista infindável de elementos que afetam a vida, os negócios e toda a nossa existência. 

Parlamentares sabem disso, e mesmo assim seguem a marcha da insanidade, o que não seria nenhum absurdo se alguém chamasse de crime de lesa-pátria.

Como num país que respeita a etimologia da palavra “República” (res publica = coisa pública), o que falta mesmo é disposição parlamentar para o zelo a questões decisivas para a coletividade, em detrimento de tratar as instituições como balcão de negócios e viabilização eleitoral. 

No início da semana seguinte à aprovação, o Projeto de Lei já foi logo disparado à Câmara, como quem não esconde mesmo o apetite por destruição. Ao chegar na Casa dos Deputados, no entanto – e já diante de muito barulho promovido pela sociedade civil e veículos de imprensa – o presidente Hugo Motta (Republicanos/PB) garantiu que o tema não seria posto em pauta a toque de caixa, e que carece ser conduzido “sem atropelos”, por ser um tema “difícil” e “de grande importância”. Um respiro, ainda que breve, no meio do embate. E pensar que a gente cresceu vendo os analistas políticos terem no Senado uma casa de equilíbrio, enquanto a Câmara era mais dada a emocionalismos. 

Em um mês “produtivo”, o Senado ainda teve tempo de aprovar em Plenário um Projeto de Decreto Legislativo que revoga demarcações de duas Terras Indígenas (TIs) em Santa Catarina: Toldo Imbu, do povo Kaingang, e Morro dos Cavalos, do povo Guarani. O movimento foi amplamente justificado por representantes da Casa como o Executivo descumprindo Lei (do marco temporal), omitindo, no entanto, que o próprio objeto da Lei já havia sido declarado inconstitucional pelo Judiciário, em 2023. Mais uma vez, a bola agora está com a Câmara. 

Maio também foi o mês de a Presidência da COP seguir estreitando a comunicação com o mundo, e fez isso de maneira oficial pela segunda e terceira vezes, em um intervalo de apenas 15 dias. Um sinal relevante de que se tem uma coisa que o “síndico” Brasil está preparado para fazer bem, nesse grande “condomínio global”, é estimular conversas. 

Acontece que a palavra pode até convencer, mas os sucessivos reveses brasileiros de articulação no plano interno não vêm colaborando para que “o exemplo arraste”. Parte desses reveses, aliás, alimentada por parte do próprio Executivo. Assim, as Cartas da Presidência da COP30 tendem a perder força tanto pra dentro, quanto pra fora. A esperança de um mutirão global segue viva, e será tão mais viável quanto mais conectados estiverem palavras e gestos vindos do Brasil. Resumo da ópera: o Brasil “pra dentro” vem atrapalhando o Brasil “pra fora”. 

Que o Brasil é um país de contradições, não é novidade. Só não esperamos que elas virem uma diretriz em matéria de política climática. 

No campo das negociações, os esforços agora se voltam para Bonn, que não poderá ser morna. 

Junho traz, como de (bom) costume, um pacote de ações na área ambiental, cujos reflexos positivos para as metas climáticas do país dependerão, necessariamente, de a casa não ser implodida enquanto isso. 

É sempre importante lembrar: nosso contexto exige ações com resultados adicionais, e não mero controle de danos. 

Boa leitura!

Tá Lá no Gráfico

Durante o mês de maio, nossa série Tá Lá no Gráfico explorou temas essenciais da vida moderna, a começar do futuro do trabalho (e dos trabalhadores!); percorremos em detalhes os Planos Setoriais de Adaptação; falamos de Racismo Ambiental, apresentando suas causas e consequências; reunimos recomendações para financiamento climático e preparamos um verdadeiro dossiê sobre as Unidades de Conservação e como elas podem ser aliadas para mitigação e adaptação.

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(Clique nas capas para ir direto aos infográficos!)

Monitor de Atos Públicos

Em maio, foram captadas 37 normas relevantes para a política climática brasileira. O tema mais frequente foi, assim como em abril, Terras e Territórios, com 13 atos, representando, sozinho, 35% das normas do mês. Esses atos se concentraram em seis acionamentos à Força Nacional de Segurança Pública, criação de três Projetos de Assentamento na Amazônia e um reconhecimento de Território Quilombola, no Nordeste. Em seguida, vem o tema Institucional com 9 atos, com destaque a uma inesperada mudança na estrutura de gestão do Balanço Energético Nacional (BEN), pelas mãos do Ministério de Minas e Energia (MME). Em terceiro lugar, vem o próprio tema Energia, com 5 atos

Nas classes, equilíbrio entre Regulação, Planejamento e Resposta, com 13, 10 e 9 atos, respectivamente. A agenda Governança, assim como em todos os quatro primeiros meses de 2025, foi predominante, ocorrendo em 18 dos 37 atos.

Agendas

Governança 

Em maio, a Política por Inteiro considera que o destaque principal veio do Ministério da Saúde (MS), ao estabelecer medidas de preparação diante da emergência climática, sinalizadas em dois momentos distintos no mês: no início recriou, agora de maneira ampliada, a Sala de Situação Nacional de Emergências Climáticas em Saúde, originalmente de julho de 2024; no final, estabeleceu um GT para organizar a resposta do Ministério acerca das ocorrências de saúde ligadas ao calor extremo. Vale lembrar que o MS já vinha, desde o ano passado, dedicando atenção a questões de saúde desencadeadas por eventos climáticos extremos, como fez com a Amazônia, destinando mais de R$ 160 milhões ao SUS em estados amazônicos no 2º semestre de 2024 (vide material infográfico que preparamos acerca). O conjunto da obra do MS parece sinalizar que a pasta está, de fato, independentemente de trocas de comando, institucionalizando a preocupação (e a priorização) buscada pelo Plano Clima, o que eleva a possibilidade de concretude de ações motivadas pelo tema. 

Embora sejam virtualmente nulas as chances de qualquer motivação pró-clima, o Senado também emitiu sinais de governança que merecem registro. Três, para sermos mais precisos. Criou: 

  1. o Grupo Parlamentar Brasil-União Europeia, possivelmente para ir ao encontro de assuntos de recente repercussão, como a Lei da Reciprocidade, a iminente entrada em vigor do Regulamento Europeu Antidesmatamento (EUDR), o Acordo Mercosul-UE e assuntos correlatos; 
  2. a Frente Parlamentar (essa, mista, abarcando colegas da Câmara) “das ferrovias autorizadas”, e, na mesma tacada, 
  3. uma Frente Parlamentar “em defesa da exploração de petróleo na Margem Equatorial”, autoexplicativa.


No caso desta última, não poderíamos deixar de notar uma semiótica importante: Alcolumbre não faz nem questão de esconder intenções ou usar de sutilezas – como fazem autoridades dentro do próprio Executivo, ao usarem palavras como “pesquisa”, “estudo”, em vez de “exploração”. Não. O Senado já parte do princípio de que a exploração de fósseis será viabilizada.  

Dos lados do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), o mesmo comportamento observado em abril se repetiu em maio: uma alta frequência de acionamentos à Força Nacional (FNSP), para contenção, sobretudo, de conflitos envolvendo indígenas, de Norte a Sul do país. Foram seis acionamentos no mês, metade deles no Pará, estado que recebe a COP30 em novembro:

Nº.Portaria MJSP nº.LocalUnidade da FederaçãoPeríodo
1915/2025Não especificadoRO01/06 a 30/11/2025
2936/2025Terra Indígena GuaritaRS13/05 a 12/08/2025
3941/2025Terra Indígena Alto Rio GuamáPA21/05 a 20/08/2025
4942/2025Terra Indígena Tekoha Guasu GuaviraPR26/05 a 25/08/2025
5945/2025Tailândia, Tomé-Açu e AcaráPA26/05 a 25/08/2025
6946/2025Terra Indígena Ituna-ItatáPA26/05 a 25/08/2025

Nessa levada, 2025 caminha para ser um ano recorde de acionamentos da FNSP. Enquanto esses acionamentos significam aumento nos gastos públicos (posto que paliativos), os Poderes Legislativo, Judiciário e Executivo dão, cada um a seu modo, contribuições para que Terras Indígenas (TI) sigam sem um piso de segurança jurídica que permita aos povos originários viver em paz. 

Outros sinais relevantes vêm puxados pelos temas fundiário e florestal: de um lado, o MDA formalizou um Grupo de Trabalho para “diálogo federativo” com o governo do Pará, a fim de analisar a destinação de terras públicas naquele estado, que, segundo o Instituto de Terras local, é de, estimado por baixo, 7 milhões de hectares de áreas públicas não-destinadas; de outro, o MMA anunciou uma reforma institucional no Conaveg, comissão que é a instância central do Plano que deve conduzir o Brasil a recuperar pelo menos 12 milhões de hectares de vegetação nativa até 2030, uma das metas previstas na NDC brasileira.

Mitigação 

Pelas bandas do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), o ritmo ainda não é o mesmo de 2023 e 2024. Em maio, apenas três assentamentos foram criados – sendo dois deles no Pará (aqui e aqui) – e um terceiro, no Tocantins,  além de um Território Quilombola reconhecido no Piauí. Com o ano chegando à metade, aumenta o desafio de ambos avançarem no chamado Caderno de Metas do Incra, que inclui criar 258 projetos de assentamento da Reforma Agrária. De 1º de janeiro até agora, foram apenas 17 criados. 

E os Quilombolas? Ainda com relação às metas fundiárias do governo, uma portaria triangulada entre MDA, INCRA e a pasta da Igualdade Racial (MIR) se comprometeu com a titulação de Territórios Quilombolas (TQs). Para 2025, a norma mira 25 TQs oficialmente reconhecidas e regularizadas fundiariamente, o que não bate com o Caderno de Metas do próprio Incra, que prevê 50 reconhecimentos até 31 de dezembro. E agora, é “dobrar a meta” ou o Caderno recuará? 

Indígenas: o Ministério dos Povos Indígenas (MPI) e sua autarquia vinculada, a Funai, também se movimentaram sobre governança fundiária em maio, mas precisam de bom entrosamento com seus homólogos da pasta de terras, para que terras públicas e áreas desafetadas possam virar reservas indígenas.

Antes que o fogo chegue: atento à iminência da chegada do fogo, o Ibama autorizou o Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo) a contratar brigadas federais para a prevenção e combate desde já. A antecipação demonstra que o governo introduziu lições aprendidas em anos anteriores, especialmente em 2024, quando o fogo chegou a se tornar ingovernável no país. 

Resíduos volta a ser destaque: no vaivém da regulamentação sobre exceções à importação de resíduos sólidos, um decreto reformulou o tratamento de excepcionalidade dado à importação de resíduos sólidos no Brasil. Ele revogou um outro decreto, de dias antes (17 de abril), que trazia no anexo materiais como vidro e papéis, motivo de controvérsias entre especialistas no assunto (na lógica do “por que importar, se nem destinamos adequadamente o que é gerado aqui?”. Fato é que agora, com o novo decreto, acrescido de uma regulação lançada a várias mãos sobre o assunto, a lista de exceções está refeita e, desta vez, há prazos para cada um dos tipos arrolados como exceção. 

No fim do dia, há a compreensão de que o texto original da PNRS, de 2010, austero quanto à importação de resíduos, não dialogava mais com a realidade – já que o Brasil precisa se abrir para importar certos conteúdos, como os dotados de minerais estratégicos, que são insumos para bancar a transformação da indústria nacional. 

Resíduos é matéria importante para a política climática, entre outros motivos, porque o setor é responsável por 4% das emissões nacionais, segundo dados do SEEG. Cada tonelada de CO2 importa.

Adaptação 

Na Esplanada dos Ministérios, alguns passos na agenda de Adaptação foram dados em maio. No MCid, o Programa Pró-Cidades foi destaque, ao receber novidades em sua regulamentação usual. Em comparação ao regulamento de anos anteriores, a Política por Inteiro considera que a atual avança significativamente em critérios de adaptação, incluindo o risco de maladaptação

No Ministério da Saúde, como havíamos mencionado, foi criado um GT para elaborar diretrizes nacionais para ações de preparação, vigilância e resposta à saúde em situações de calor extremo. O grupo inclui como representantes os departamentos de Epidemiologia, Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador, um bom sinal, já que as ondas de calor afetam especialmente a saúde dos trabalhadores e aumentam os riscos de epidemias se intensificarem. Além disso, está incluída também a Secretaria de Saúde Indígena, população bastante impactada em casos de extremos climáticos como as ondas de calor.

Financiamento

Diferentemente de abril, maio foi tímido para a agenda climática de financiamento, especialmente quanto ao levantamento de mais recursos pró-clima. Afora o meio bilhão de reais destinado ao reforço de caixa do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR) para atuação na gestão de riscos e desastres (via Defesa Civil) em todo o Brasil, o mês trouxe o Ministério das Cidades (MCid) e o próprio MIDR regulando a aplicação de emendas parlamentares para, entre outras ações, as ligadas à adaptação e as de remediação pós-eventos extremos. A Política por Inteiro considerou que o MCid se mostrou mais embasado e sofisticado que o “irmão de Esplanada”, especialmente porque Soluções baseadas na Natureza (SbN) e Adaptação baseada em Ecossistemas (AbE) passaram a ser conceitos oficialmente internalizados como diretrizes em seu “manual” de aplicações. Já o MIDR foi mais genérico quanto a cobrir ações pró-clima que não sejam mais-do-mesmo da Defesa Civil. 

Ainda, o Conselho Monetário Nacional (CMN) endureceu regras para mutuários que emprestam do Fundo Social (aquele, derivado da exploração de petróleo) em condições especiais alegando reconstrução pós-eventos climáticos.

👎 DESTAQUES DO MÊS 👍

👎 DESTAQUES DO MÊS 👍

👎 Atravessou o samba!

  • Não poderia ser outro o destaque negativo do mês: a atuação do Senado Federal na aprovação do Projeto de Lei nº 2.159/2021, de implosão do Licenciamento Ambiental brasileiro. À parte as limitações que o Licenciamento (sim!) tenha em matéria de controle ambiental no país, quem lida com a coisa pública sabe que os remédios passam por ampliação de investimentos em pessoal, estrutura e tecnologia, numa acepção honesta do que deveria significar a palavra modernização. Em vez disso, o Senado escolhe não pautar remédios, mas… veneno. Em vez de salvar o mecanismo que garante saúde pública e integridade ambiental à sociedade, a intenção é matá-lo. Ah, com uma “cereja de bolo”: zero menção a clima, biodiversidade ou termos derivados no texto do Projeto de Lei. Para bom entendedor…

👍 Tá afinado! 

  • A campeã climática para as juventudes da presidência da COP30, Marcele Oliveira, tem ido muito bem no início de seu mandato. A Política por Inteiro considera que sua atuação foi um dos (poucos) pontos altos da Semana do Clima no Panamá, entre 19 e 23 de maio. Marcele tem sido consistente nos pronunciamentos, nas chamadas urgentes à ação climática para além de discursos formais, e na capacidade de agregar pessoas e organizações em torno da agenda clima, dentro e fora do Brasil.

BRASIL

Senado da Devastação

Maio trouxe o gosto amargo de tragédias anunciadas: o Senado Federal aprovou (e celebrou!) o Projeto de Lei nº. 2.159/2021, vulgo PL da Devastação, que flexibiliza o processo de licenciamento ambiental a ponto de desnaturá-lo na essência, que é proteger a saúde e os direitos fundamentais da coletividade. Na prática, além de ignorar a emergência climática, o projeto coloca em risco a vida das pessoas e dos ecossistemas, tornando o processo de licenciamento ambiental uma decisão política, descartando critérios técnicos e fazendo supor que a fragilização, por anos imposta a órgãos licenciadores, pode ter sido método, em vez de acaso. Encaminhado para Câmara, o PL despertou resistência da sociedade civil organizada e do MMA. 

Os 30 da COP30

Maio foi mês de a Presidência da COP30 finalmente anunciar os nomes dos enviados especiais, por temas, para a Conferência. O número surpreendeu, mas positivamente. Entre referências brasileiras e internacionais, a lista tem nomes de notório saber em seus temas “de mandato” e as nomeações significam fôlego para que a agenda de clima ganhe ainda mais espaço em variados segmentos. A presidência da COP30 trata os enviados especiais como “caixas de ressonância”, tanto para levar mensagens que incentivem a ação conjunta pelo clima, quanto para ouvir múltiplos nichos econômicos e sociais em suas demandas e potencialidades. 

Seguindo o espírito de mutirão pedido por André Corrêa do Lago na primeira carta da Presidência da COP30 ao planeta, não deve faltar construção a muitas mãos. E pernas durante a jornada. 

A ver o quanto setores do próprio governo, além de Legislativo e Judiciário (todos com temas centrais que rebatem no clima, vide Licenciamento Ambiental e demarcação de terras indígenas), poderão tornar as tarefas dos enviados mais desafiadoras do que já se apresentam.

MUNDO

Do Brasil para o mundo, passando pelo Panamá

Duas das três cartas da Presidência da COP30 foram publicadas em maio. Ambas mantêm a convocação do mutirão global pelo clima: a publicada em 8 de maio reforçou agenda de mobilização estendida a todos os atores sociais; enquanto a terceira teve endereço e data certos: os negociadores que vão se reunir em Bonn, na Alemanha, em junho. Os textos do embaixador André Corrêa do Lago disseram que não há outro caminho para o clima – e para o multilateralismo – que não seja a implementação dos acordos já de pé. Se a diplomacia climática não for capaz de colocar em prática o discurso das salas de negociação, em vão será todo esforço coletivo. ACL sinalizou que a Semana do Clima do Panamá seria o lançamento oficial do mutirão. Mas ainda falta um bom cronograma para que, ao final do dia, o trabalho conjunto dê resultado. A transição para longe dos fósseis (TAFF), por exemplo, ainda não teve expressividade – nem nas cartas, nem nas interações no Panamá – a nosso ver tímidas.

MONITOR DE DESASTRES

Em maio, o Monitor de Desastres captou 50 atos de reconhecimento de emergência decorrentes de eventos climáticos extremos, que atingiram 525 municípios, um aumento de 124% em relação à quantidade de municípios envolvidos no mês de abril. Para se ter uma ideia da gravidade, o total de municípios atingidos em maio superou, com folgas, o total de municípios afetados em março e em abril, somados.

As ocorrências de maio foram mais da metade sobre Seca, concentrada nos estados de Minas Gerais e Piauí. Em seguida, a Estiagem, presente especialmente no Nordeste e no Sul do Brasil. As Tempestades foram registradas em diversas regiões do país, e as Inundações ocorreram, em sua maioria, na Região Norte. 

(Os nomes em itálico são tipologias oficiais presentes no COBRADE – Classificação Brasileira de Desastres)

TÚNEL DO TEMPO

O Túnel do Tempo nos leva a uma curta viagem desta vez. A edição de maio de 2022 destacava os 10 anos do então “Novo” Código Florestal, instrumento essencial para a manutenção dos estoques de carbono onde eles devem permanecer, longe da atmosfera. À época, o destaque se dava em torno da dificuldade na implementação de dispositivos importantes previstos no Código. No último dia 25, a lei completou 13 anos, sem grandes avanços no intervalo: o Cadastro Ambiental Rural (CAR) segue apresentando dificuldades para análise, validação e integração de informações com o universo fundiário, e na interface estados-União. Treze anos após sua entrada em vigor, o Código Florestal já não é mais “novo” e os gargalos para sua implementação criaram raízes, especialmente na conjuntura em que o Poder Legislativo, hipertrofiado em recursos públicos e em influência ramificada, avança sobre as competências do Executivo, e põe constantemente à prova a guarda constitucional que cabe ao Judiciário.

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