Chovendo no molhado

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Em uma semana marcada pelos desastres ocorridos na Baixada Fluminense e no Sul do Brasil, devido às chuvas intensas, fica, mais uma vez, evidente a necessidade de uma política de adaptação climática robusta e urgente. A frequência e a intensidade dos eventos climáticos vêm se agravando nos últimos anos, mas as autoridades ainda se dizem pegas de surpresa. A falta de prevenção tem produzido efeitos cada vez mais graves, muito além de financeiros, com mortes e perdas irreparáveis. 

A chuva histórica que atingiu a Baixada Fluminense chegou a 275 mm em um dia, mais do que a média para todo o mês de janeiro (220 mm a 260 mm) afetando mais de 50 mil pessoas, das quais cerca de 15 mil precisaram deixar suas casas. Foram registradas também 12 mortes.

Na região Sul, foram 51 municípios afetados pela chuva e ventos fortes, de mais de 100 km/h, incluindo a capital, Porto Alegre, onde cerca de 500 árvores foram derrubadas na noite de terça-feira. Mais de 1 milhão de clientes ficaram sem luz em todo o estado.

Os reconhecimentos de emergência estão sendo realizados de forma sumária em edições extras do Diário Oficial da União, para agilizar o processo de transferência de recursos.

A situação trouxe à tona um outro assunto urgente, o racismo ambiental. O conceito não é novo, mas, infelizmente, é um debate que não faz parte do cotidiano de boa parte da sociedade brasileira, que ainda está distante do entendimento que o impacto da mudança do clima é sentido de forma mais intensa pelas populações mais vulnerabilizadas.

A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, se referiu aos desastres no estado do Rio de Janeiro como “fruto também dos efeitos do racismo ambiental e climático”. A fala gerou diversas reações. Diante das desinformações sobre o tema, o governo federal publicou uma nota esclarecendo o conceito e enfatizando a necessidade de criação de políticas públicas que levem em conta as desigualdades sociais e econômicas, a garantia do direito à participação das comunidades afetadas na tomada de decisão, a promoção da educação ambiental e a valorização do conhecimento tradicional das comunidades.

Ao longo do ano de 2023 foram 2.835 reconhecimentos de emergência por desastres relacionados a eventos climáticos, em 2.066 municípios brasileiros, segundo Monitor de Desastres da Política por Inteiro. Por outro lado, no Monitor de Atos Públicos, dentro do tema Desastres, foram captados, durante todo o ano passado, apenas 8 atos referentes às políticas públicas de adaptação e prevenção de desastres, ainda muito pontuais. 

O Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional (MIDR) prepara a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil, que definirá as diretrizes para o enfrentamento de desastres no Brasil e deverá ser lançado ainda neste semestre. 

No Plano Plurianual 2023-2027, sancionado na semana passada, há um indicador sobre a capacidade dos municípios de responder aos desastres e se adaptar às mudanças climáticas. Além de uma meta bem pouco ousada, o próprio indicador tem fragilidades, como apontamos nesta análise.

Territórios quilombolas e Unidades de Conservação

Foi criado o Comitê de Acompanhamento e Implementação do Programa Aquilomba Brasil dentro Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio. O principal objetivo é alinhar as políticas públicas territoriais pertinentes aos territórios quilombolas e às Unidades Conservação (UCs), resolvendo assim questões de sobreposições e articulando ações de inclusão produtiva e infraestrutura para as populações quilombolas residentes nas UCs.


Marina em Davos

Durante o Fórum Econômico Mundial, nesta semana, em Davos, na Suíça, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, criticou os países que seguem investindo em combustíveis fósseis. Ela defendeu, como fez na COP28, que a comunidade internacional precisa discutir a transição para o fim da dependência econômica do petróleo. Segundo Marina, o presidente Lula já “deu a referência” nessa direção.

MONITOR DE ATOS PÚBLICOS

O Monitor de Atos Públicos captou apenas 3 normas relevantes para a agenda climática entre os dias 12 e 18 de janeiro.

O único tema captado foi Terras e Territórios devido às normas de emprego da FNSP em conflitos nas terras indígenas no Maranhão e no Paraná e ao Comitê do Programa Aquilomba Brasil  no ICMBio. A classe mais recorrente da semana foi Resposta.

Nota metodológica: A partir de janeiro de 2024, as normas de desastres, referentes aos reconhecimentos de situação de emergência nos municípios por eventos meteorológicos e climáticos extremos, deixam de ser contabilizadas no Monitor de Atos Públicos. O monitoramento contínuo passa a ser realizado exclusivamente no Monitor de Desastres.

MONITOR DE DESASTRES

Nesta semana, foram captados 17 atos, totalizando 119 reconhecimentos de emergência por desastres. Além dos eventos decorrentes das tempestades e chuvas intensas nos municípios da baixada fluminense e as enxurradas no Rio Grande Sul, a seca vem se intensificando no estado de Minas Gerais, que decretou emergência em 60 municípios, fazendo com que o evento Seca fosse o mais registrado na semana.
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  • Seguindo à espera da sanção da Lei Orçamentária Anual pelo presidente Lula.
  • Deve sair o Relatório do Mercado da Eletricidade da Agência Internacional de Energia (IEA)

Bom fim de semana,
Equipe POLÍTICA POR INTEIRO

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