Ser ou não ser “verde”

Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil


Sinais contraditórios emanam do governo federal. Apontando na direção para acelerar políticas climáticas, foi colocado em consulta pública o novo Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm); divulgada uma declaração conjunta com a China sobre combate às mudanças climáticas, na visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao país asiático. Porém, em sentido oposto, a Petrobras segue em seus esforços para expandir explorações de óleo e gás, mobilizando-se para obter licença para perfuração na Bacia Sedimentar da Foz do Amazonas, na margem equatorial brasileira.


O PPCDAm e os 100 dias de Governo Lula-Alckmin

O PPCDAm foi restabelecido logo no início deste governo, no mesmo ato em que foi instituída a Comissão Interministerial Permanente de Prevenção e Controle do Desmatamento. O Plano divulgado nesta semana conta com 4 eixos, 12 objetivos e 180 ações a serem alcançadas. Contudo, o texto não pormenoriza o que será realizado em cada atividade – isso deve constar no Plano Operativo a ser apresentado. O prazo para envio de contribuições ao PPCDAm se encerra no dia 26. Os comentários e sugestões devem ser inseridos diretamente na plataforma Participa + Brasil. Saiba mais no nosso post sobre o tema.

O anúncio da consulta do PPCDAm fez parte das entregas dos 100 dias de Governo Lula-Alckmin. Na mesma reunião ministerial em que defendeu a conservação da região amazônica, o presidente Lula ressaltou a importância da Petrobras e tentou ‘suavizar’ os impactos climáticos e ambientais das atividades da estatal: “Eu nunca achei a Petrobras uma empresa de petróleo. A Petrobras sempre foi mais do que isso. Ela é uma empresa de energia. Ela é a empresa que historicamente mais investiu em pesquisa e inovação nesse país”. 

Lula tocou em assunto que tem provocado tensão entre ministros e líderes do governo: a exploração petrolífera na região que abriga os maiores manguezais do Brasil, na costa do Amapá, e imensos sistemas de recifes de corais. De um lado, Petrobras e Ministério de Minas e Energia; do outro, ministérios do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) e dos Povos Indígenas. Como será que o presidente Lula vai resolver este imbróglio? 


Entidades são contra exploração na Foz do Amazonas

Cerca de 80 associações e entidades não-governamentais que trabalham com meio ambiente e clima, entre elas o Instituto Talanoa, assinaram e entregaram ofícios aos Ministérios de Minas e Energia, Relações Exteriores, Pesca e Aquicultura e Povos Indígenas, bem como IBAMA, FUNAI, ANP e Petrobras, com pedido para que o IBAMA deixe de emitir a licença para o Bloco FZA-M-59, da Petrobras, para explorar petróleo na Foz do Amazonas. As instituições vêm fazendo constantes alertas sobre o potencial danoso dessa exploração.

Na carta, as entidades reiteram que “o licenciamento do bloco FZA-M-59 é apenas um caso, a porta de entrada de um projeto político e econômico mais amplo que o referido licenciamento, que pretende expandir a exploração e produção de petróleo e gás natural em toda a Margem Equatorial Brasileira, necessitando, portanto, uma discussão e avaliação mais ampla. A abertura dessa nova fronteira exploratória é uma ameaça a esses ecossistemas e, também, é incoerente com os compromissos assumidos pelo governo brasileiro perante a população brasileira e a comunidade global. Reforçam, por fim, o pedido ao governo brasileiro para que adote as medidas necessárias para a transição energética justa e inclusiva”.


Brasil, China e o clima

Após os anúncios dos 100 dias de governo, Lula voou para a esperada viagem à China, levando 10 ministros, incluindo Marina Silva (MMA), Fernando Haddad (Fazenda), Carlos Fávaro (Agricultura) e Paulo Teixeira (MDA). Na declaração conjunta dos dois países sobre combate às mudanças climáticas, sinalizações importantes, como a ênfase na urgência das ações climáticas alinhadas ao combate à pobreza e à fome. Há cobrança ao financiamento climático por parte dos países desenvolvidos. E apoio da candidatura brasileira a sediar a COP30. O documento traz ainda recados para os Estados Unidos e União Europeia, como aponta Natalie Unterstell, presidente do Instituto Talanoa.


Banco do BRICS 

Na China, Lula participou da posse da ex-presidente Dilma Rousseff na presidência do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), em Xangai. Na cerimônia, o presidente falou dos desafios do desenvolvimento em um mundo em emergência climática: “A mudança do clima, a pandemia e os conflitos armados impactam negativamente as populações mais vulneráveis. Muitos países em desenvolvimento acumulam dívidas impagáveis. É nesse contexto que a criação do NDB se impõe”.


Autoridade Climática

Mais um capítulo na série de suspense sobre a criação da Autoridade Climática. Nesta semana, houve uma reunião entre o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e o MMA (representado pela Secretária Nacional de Mudança do Clima, Ana Toni), sobre a interlocução com a comunidade científica e a produção de dados baseados em evidências que subsidiam políticas públicas. Segundo a notícia, o MMA “está delineando como deverá ser a proposta da Autoridade Nacional Climática”. 

A CNN Brasil noticiou que a criação da Autoridade Climática provavelmente ficará para o 2º semestre de 2023, tendo em vista os esforços governamentais em recompor o seu quadro de servidores. A reportagem afirma que a estrutura da autarquia já está com o seu desenho concluído no MMA, sendo uma das dificuldades a questão orçamentária. Há rumores de que há uma dificuldade quanto à composição de equipe, que deve necessitar de mais de uma centena de profissionais. 


Demarcação de TIs

No mês em que se comemora o Dia dos Povos Indígenas, o Partido Progressistas (PP) protocolou, no Supremo Tribunal Federal (STF), a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 7.377, com o objetivo de discutir a competência do Ministério dos Povos Indígenas (MPI) de “reconhecimento, demarcação, defesa, usufruto exclusivo e gestão das terras e dos territórios indígenas”. 

O PP questiona a constitucionalidade da Medida Provisória (MP) 1.154/2023, argumentando haver afronta aos princípios da isonomia, impessoalidade, moralidade e proporcionalidade, pela “transferência da competência de demarcação de terras para o Ministério dos Povos Indígenas (MPI), órgão criado para defender os interesses desse grupo, sem atenção a outros direitos que são impactados pelas demarcações de terras indígenas, em especial o dos produtores rurais”.Na ação, o partido defende que “é o Ministério da Justiça – que acumula essa função desde a promulgação da Constituição de 1988 – o órgão imparcial dentro da Administração Pública para decidir no plano administrativo as questões relacionadas à demarcação de terras indígenas”.

Na peça, também há argumentos que vão no sentido da tese do marco temporal para demarcação de terras indígenas, ainda pendente de julgamento: “O art. 231 da Constituição Federal é exemplo dessa hipótese, ao garantir a demarcação de terras indígenas às comunidades que demonstrem a posse do seu território na data de 10.05.1988” (cabe recordar que a Constituição Federal foi promulgada em 05/10/1988 e não 10/05/1988). O relator da ação é o ministro Nunes Marques.


ABC+ estados

O programa ABC+ por meio do Plano de Ação Estadual (PAE), lançou nesta semana o ABC+ Paraná. De acordo com o Ministério de Agricultura e Pecuária, a descentralização do plano marca um novo momento da política pública, no qual os estados serão protagonistas da agropecuária sustentável local. Os estados de Mato Grosso e de Santa Catarina já possuem PAE e o governo espera implementar, ainda em 2023, nos estados do Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Pará, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, Paraíba, Tocantins e Distrito Federal.


Talanoa na mídia

((o)) eco Do desmonte à reconstrução, a agenda ambiental em cem dias do governo Lula
Al Jazeera Lula at 100 days: President stalls in quest to reshape Brazil
The Brazilian Report The Brazilian Report discusses Lula’s 100 days in office
Ecoa – UOL ‘Pessoas morrem de calor’: Como cidades pelo mundo têm combatido o problema
HojePR Eletrificação da frota brasileira deve crescer a partir de 2028
Revista Piauí Nova dinâmica do crime ambiental é desafio para frear desmatamento



Monitor da Reconstrução

Nesta semana, o Monitor de Atos Públicos captou 11 normas relevantes no Diário Oficial da União (DOU), a maioria do tema Desastres (4), além dos reconhecimentos de emergência, foi criado o Protocolo de Atuação do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania em Situação de Riscos e Desastres.

A classe mais captada foi Planejamento, incluindo a abertura de Consulta Pública do PPCDAm e a criação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial – CNDI.



  Monitor de desastres

Nesta semana foram captados 3 atos de reconhecimento de emergência, totalizando 53 municípios afetados principalmente pelas chuvas intensas, representadas por tempestades, inundações, enxurradas e alagamentos. A estiagem presente no extremo sul do país no início do 1º trimestre, avança e também se agrava no nordeste.

Bom fim de semana,
Equipe POLÍTICA POR INTEIRO

Equipe Editorial (Liuca Yonaha, Marta Salomon, Melissa Aragão, Ester Athanásio, Marco Vergotti, Renato Tanigawa, Taciana Stec, Wendell Andrade, Daniel Porcel, Caio Victor Vieira, Beatriz Calmon, Rayandra Araújo e Daniela Swiatek).

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