De 6 a 18 de novembro, a 27ª Conferência do Clima das Nações Unidas (COP 27) reúne, em Sharm El-Sheik, no Egito, chefes de estado, lideranças de setores públicos, privados e do terceiro setor, ativistas e acadêmicos para debater e costurar soluções para enfrentarmos a emergência climática. O desafio é frear o aquecimento global para manter a temperatura do planeta em média até 1,5ºC acima dos registros do século 19, pré-Revolução Industrial.
“Muitos estão sob maior perigo. As negociações no Egito vão definir o futuro de diversos povos e nações mais vulneráveis, que já sofrem com perdas e danos. É (e sempre foi) uma questão de justiça climática”, afirma Natalie Unterstell, presidente do Instituto Talanoa. A entidade, da qual a POLÍTICA POR INTEIRO faz parte, está presente no evento.
Abaixo, os principais pontos de cada dia desta primeira semana:
Dia 0 – 06/11
A Organização Meteorológica Mundial (OMM), braço da ONU, lançou o documento “Estado do Clima Global de 2022“, que confirma que a taxa de elevação do nível do mar dobrou desde 1993. Com aumento de quase 10 mm desde janeiro de 2020, atingiu um novo recorde neste ano.
?Enquanto os líderes mundiais se reúnem na COP27 no Egito, outra reunião internacional está em andamento na Jamaica para decidir o destino do oceano. A Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos (International Seabed Autority – ISA) está em Kingston para aprovar regulamentos rápidos que poderão permitir a mineração de ecossistemas frágeis e biodiversos em mar profundo ainda em 2024. A primeira semana da reunião do Conselho do ISA, órgão de elaboração de políticas da organização, foi marcada pelo grande número de países pedindo uma parada na corrida de se promulgar regulamentos de mineração até julho de 2023. O Brasil continua em cima do muro apenas declarando que: “nenhuma exploração deve começar antes da elaboração e adoção de um código de mineração robusto e baseado na ciência”.
Dia 1 – 07/11
Na semana que o mundo atingirá a marca de oito bilhões de habitantes, Antonio Gutierrez, Secretário Geral da ONU, fez discurso contundente na abertura da COP27: “As emissões de gases de efeito estufa continuam crescendo, as temperaturas globais subindo e o planeta se aproximando rapidamente de pontos de inflexão que tornarão o caos climático irreversível… estamos em uma rodovia para o inferno climático” e sugere que seja feito um Pacto de Solidariedade Climática.
Macron diz que os EUA e China devem pagar “sua parte” dos danos climáticos. E declara que a França apoia a proibição de qualquer mineração no fundo do mar.
As maiores traders de commodities do mundo, entre elas nossas conhecidas Cargill, ADM, LDC e Bunge lançaram seu compromisso de redução de emissões. Resumindo: muito pouco e muito tarde. Críticas abundaram.
Aberto o Ocean Pavillion com a realização de diversos eventos ligados ao oceano e a emergência climática
Dia 2 – 08/11
Aberto o segmento de alto nível da COP.
Países africanos e pequenas ilhas cobram reparação de danos.
No Brazil Climate Action Hub, “Mulheres na ação climática” e o “Racismo ambiental e a emergência climática no Brasil”.
Green Shipping Challenge: 40 anúncios visando esverdear um dos maiores emissores de GEE, a navegação marítima.
O compromisso global de zerar o desmatamento até 2030 ganha corpo com Forest and Climate Leaders Partnership.
ONU apoia uma definição rigorosa de “greenwashing”.
Presidente colombiano, Gustavo Petro, propõe reunião em 2023 para salvar a Amazônia e declara que a presença do presidente brasileiro eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, é “estratégica”.
Brasil ausente do segmento de alto nível, da Forest and Climate Leaders Partnership e do Green Shipping Challenge.
Direitos humanos: A ONU exigiu a libertação do preso político mais famoso do Egito: o ativista egípcio-britânico Alaa Abdel Fattah, de 40 anos, um dos líderes da Primavera Árabe, de 2011. Preso desde 2019 pelo regime do ditador Al-Sisi, ele está em greve de fome.
Dias 3 – 09/11
Global Stocktake avança com diálogo técnico sobre como acelerar o alcance de todas as metas do Acordo de Paris. A presidente do Instituto Talanoa, Natalie Unterstell, facilitou a discussão.
Países mais vulneráveis (V20) apresentam planos de prosperidade climática no World Leaders Summit.
Financial Day: Força-tarefa criada pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, recomenda critérios contundentes de integridade para net zero de empresas. O mais importante é que as empresas precisam declarar as emissões ao longo de toda sua cadeia de valor. Uu seja, as petroleiras passam a ser responsáveis pelas emissões dos combustíveis que vendem. O ex-ministro da Fazenda Joaquim Levy fez parte da força-tarefa.
Al Gore, fundador do Climate Reality Project, afirmou que “o Brasil escolheu parar de destruir a Amazônia”.
Al Gore, ex-vice-presidente dos Estados Unidos, fundador do Climate Reality Project
Após a polêmica visita de Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos EUA, a Taiwan, ocorreu na COP o primeiro encontro bilateral entre China e Estados Unidos, por meio dos respectivos enviados especiais do clima, Xie Zhenhua e John Kerry.
Lançado o “Mangrove Alliance for Climate“, sob a liderança dos Emirados Árabes, com a parceria da Índia, Indonésia, Austrália, Japão, Espanha e Sri Lanka, com o objetivo de ampliar e acelerar a conservação e restauração das florestas de manguezais.
Txai Suruí está novamente na COP. Em 2021, ela se destacou em Glasgow ao discursar na abertura do evento. No Egito, olha ela aí no diálogo de jovens mulheres líderes indígenas, ao lado do secretário-executivo da UNFCCC, Simon Stiell.
John Kerry, enviado especial do clima dos EUA, lançou plano de uso de offsets para, dentre outras, acelerar a aposentadoria do carvão. A linguagem ambígua criou confusão: por exemplo, o jornal The New York Times noticiou que empresas de petróleo, gás e carvão não poderiam entrar no programa.
A proibição de protestos tem sido um grande problema na COP. Ativistas conseguiram se reunir para homenagear defensores do meio ambiente, defensores dos direitos humanos e presos políticos. Não há justiça climática sem direitos humanos!
O primeiro prêmio de Fóssil do Dia #FossiloftheDay foi para o Japão, por fazer o melhor em ser pior e fazer o máximo para atingir o mínimo (#COP27 #FossiloftheDay!
Dia 4 – 10/11
No Brazil Climate Action Hub, Instituto Talanoa, Laclima e WWF apresentaram análise técnica e de implementação da NDC brasileira, considerando o histórico de atualizações realizadas pelo governo federal desde 2020:”A NDC que temos, que queremos e que podemos”.
Talanoa no Embracing Nature as the Foundation for Global Security. O evento apontou os riscos de segurança que estão direta e indiretamente ligados à perda da natureza, à mudança climática e à degradação ecológica.
Marina Silva chega na COP.
Dia da juventude e conhecimentos tradicionais no Ocean Pavillion. Foco em áreas costeiras em pequenos estados insulares em desenvolvimento: da vulnerabilidade à resiliência.
COI/UNESCO apresentam um sistema global de observação do oceano: “Observações oceânicas para a mudança climática: formar observações locais para um sistema global”.
Belém tornou-se a primeira cidade brasileira e a primeira cidade amazônica a subscrever o Tratado de Não Proliferação de Combustíveis Fósseis.
O segundo prêmio de Fóssil do Dia #FossiloftheDay foi para o Egito, sem permissão para manifestações, mas com acolhimento caloroso aos lobistas de combustíveis fósseis.
Relatório lançado pela Global Witness, Corporate Accountability e Corporate Europe Observatory apontou que pelo menos 636 lobistas fósseis estão com acesso à COP27, um aumento de 26% na representação do setor, na comparação com a COP26.
?Climate Action Tracker divulgou suas projeções de como as emissões de GEE podem elevar perigosamente a temperatura média global. O resultado é semelhante ao do ano passado – um aumento preocupante de 2,7ºC acima dos níveis pré-industriais se as políticas não melhorarem – mas um ponto de comparação diferente acrescenta uma nova dimensão à descoberta – as novas projeções apontam esse aumento perigoso de 2,7ºC até 2100.
Dia 5 – 11/11
As negociações começam a tomar forma de rascunho de decisão.
Programa de Trabalho de Mitigação (MWP) continua sem definição.
Mercado: artigo 6.2 não avança e artigo 6.4 tem problema com “remoções”.
Apesar de novas NDCs terem sido apresentadas, a estimativa de aquecimento sob as metas atuais permanece em 2,4ºC.
O aguardado discurso do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, trouxe anúncio de mais de US$ 150 milhões para acelerar os esforços do Plano de Emergência do Presidente para Adaptação e Resiliência (PREPARE) em todo o continente africano, quantia muito aquém do necessário, mas bem recebida. Biden pediu desculpas pelo país ter saído temporariamente do Acordo de Paris: “A crise climática é sobre segurança humana, segurança econômica, segurança ambiental, segurança nacional e a própria vida do planeta“. Biden anunciou ainda novas regras de seu governo destinadas a reprimir ainda mais o metano e que os EUA estão de volta como líder global contra as mudanças climáticas após a aprovação da Lei de Redução da Inflação, que incluiu cerca de US$ 370 bilhões em incentivos de energia limpa destinados a reduzir o uso de gases nocivos do efeito estufa.
The Ocean Climate Summit, evento realizado pela Oceanic Global com a Unesco, discutiu assuntos como “Construindo resiliência: ação localizada contra um clima em mudança” e “O futuro do carbono azul” foram discutidos.
Dia 6 – 12/11
Filantropia anunciou US$ 500 milhões para os próximos três anos para a transição energética justa em países de baixa e média renda.
A presidência egípcia abriu o Dia da Descarbonização dando espaço para petróleo e gás na transição energética.
O Fóssil do dia (#FossilOfTheDay) foi para os Estados Unidos: “Enquanto centenas marcham por reparações climáticas, os EUA permanecem impassíveis em pagar sua dívida”.