Em novembro de 2023, rajadas de vento de mais de 90 km/h e chuva provocaram apagão na cidade de São Paulo e na Região Metropolitana. Foram mais de cinco dias até que o fornecimento fosse restabelecido.
Em outubro de 2024, novamente, ventos de quase 90 km/h e mais um apagão.
Em setembro deste ano, a ventania atingiu de 80 km/h a 98 km/h, derrubando árvores, apagando semáforos e deixando meio milhão de imóveis sem luz.
E, agora, mais um “vendaval histórico” traz caos e prejuízos bilionários à maior cidade do país.
Os relatos acima são apenas exemplos. Houve registro de mais eventos como esses com interrupção de fornecimento de energia e outros danos nos últimos dois anos. Isto é, não é mais histórico, é presente e é futuro. E o que São Paulo tem feito para se preparar para extremos climáticos que caminham para ser o meio da curva? Não apenas para se preparar para o momento do choque, mas para melhorar a qualidade de vida na metrópole, levando em conta os cenários climáticos projetados para ela. Aliás, paulistanas e paulistanos sabem como deve ser o clima da cidade daqui a uma década, duas, três?
Além do fenômeno global da mudança do clima, provocada pelas emissões de gases de efeito estufa e o consequente aquecimento do planeta, o clima na cidade de São Paulo se modifica pela urbanização das últimas décadas, com desmatamento e aumento da impermeabilização do solo. O Plano de Ação Climática do Município de São Paulo 2020-2050 (PlanClimaSP) projeta cenários para o município com elevação na temperatura média entre 2°C e 3°C até o final deste século. Já se observam elevação da temperatura média e chuvas mais intensas concentradas em menos dias. A temperatura do ar em São Paulo subiu mais de 2°C no último século.
Mais do que os cenários, o plano climático do município deve indicar os caminhos para que a cidade contribua para reduzir o problema do aquecimento do planeta (ações de mitigação) e esteja mais preparada (resiliente) para os impactos da mudança do clima (ações de adaptação). Nas discussões sobre o caos em São Paulo pela vendaval da última semana, o quanto se mencionou o PlanClimaSP?
O plano está agora em seu primeiro processo de revisão. A questão do enterramento da rede elétrica ou da arborização urbana e da urgência do acompanhamento da flora da não estão entre medidas para elevar a resiliência da cidade. Assim como a velocidade dos ventos cada vez maior não aparece como um risco. Atenção maior foi dedicada aos riscos hidrológicos de enchentes, inundações e alagamentos – totalmente lógico, e à seca e às ondas de calor. A atualização do PlanClimaSP pode ser uma oportunidade para se discutir se os vendavais não devem ser tratados como fenômenos em si, não somente com as tempestades (os ventos da semana passada foram sem chuva), com protocolos próprios de prevenção e resposta.
A questão dos protocolos também é algo que pouco tem avançado em São Paulo. Para que funcionem, um dos passos fundamentais é uma comunicação eficiente, mas se a população nem sabe que São Paulo tem seu plano de ação climática…
Cuidar das árvores para proteger vidas
Ao lado de uma árvore gigantesca que tombou na Vila Mariana, na Zona Sul de São Paulo, outra já sinaliza que pode ser a próxima vítima. Em setembro, a Prefeitura de São Paulo anunciou o mapeamento de todas as árvores em ruas, avenidas e canteiros centrais da cidade, usando a tecnologia de LIDAR (Light Detection and Ranging ou Detecção e Alcance por Luz) para fotografar os exemplares. As imagens georreferenciadas serão catalogadas com auxílio de inteligência artificial. “A execução do projeto reunirá dados detalhados sobre cada árvore, incluindo espécie, estado fitossanitário (pragas ou doenças), Diâmetro do Tronco à Altura do Peito (DAP), ângulo de inclinação, altura total e da primeira bifurcação, altura e volume da copa, além da localização por georreferenciamento”, diz o conteúdo patrocinado pela prefeitura publicado no site da Folha de S.Paulo. A Subprefeitura por onde começou o projeto de R$ 18,8 milhões é justamente o da Vila Mariana. A previsão era de que fosse mapeado um distrito por mês. Ou seja, se o cronograma correu bem, a árvore que tombou deve ter sido captada ainda de pé. O mapeamento já está defasado.
A conta que cresce
A Fecomércio estima uma perda de R$ 1,54 bilhão no faturamento no comércio e nos serviços por causa do último apagão em São Paulo. O prejuízo total é ainda maior porque não estão incluídas nessa conta as perdas de estoque.
O enterramento dos fios da região central da cidade custaria R$ 20 bilhões, segundo projeção da Prefeitura, citada em reportagem da CNN. É um valor que dificilmente caberá no orçamento do município. O orçamento climático de São Paulo previsto para 2026 é de R$ 28,8 bilhões.
Outro ponto é se é uma medida que deva ser custeada pelos cofres públicos ou se é de responsabilidade das empresas fornecedoras dos serviços. Enquanto se empurra a conta, o prejuízo é difuso e o risco maior é do cidadão.



