O North Sea Future Plan apresentado pelo governo britânico representa um marco decisivo na construção de uma transição energética justa e economicamente viável, num momento em que o esgotamento natural dos reservatórios do Mar do Norte já resultou na perda de mais de 70 mil empregos entre 2016 e 2023. O plano veta a emissão de novas licenças para exploração de petróleo e gás e estabelece mecanismos rigorosos para garantir que qualquer produção adicional se limite exclusivamente a campos já existentes ou a áreas adjacentes conectadas a essa infraestrutura. Dessa forma, em vez de insistir na abertura de novas fronteiras de exploração de combustíveis em obsolescência, o Reino Unido opta por um caminho baseado em previsibilidade, responsabilidade social e alinhamento à ciência climática. A dimensão social da transição ganha materialidade com a criação do North Sea Jobs Service, concebido para oferecer suporte integral aos trabalhadores na migração para setores de alto crescimento, como energia limpa, defesa, construção e manufatura avançada. Esse esforço é amparado por iniciativas já em andamento, como a dedicação orçamentária de £20 milhões (R$ 141 milhões) destinados à requalificação da força de trabalho, além do compromisso mais amplo do governo com £63 bilhões (R$ 445 bilhões) em investimentos públicos em energia limpa e mais de £62 bilhões (R$ 440 bilhões) em investimento privado mobilizado desde 2024. Esses números ancoram a visão de transformar o Mar do Norte em um polo industrial do século XXI, com uma estratégia moderna que projeta 1,1 milhão de novos empregos bem remunerados ao longo da próxima década.
Esse movimento não é isolado: ele sinaliza a consolidação de uma nova onda virtuosa de políticas climáticas, capaz de redefinir o centro de gravidade da transição energética global. A declaração da Colômbia, proibindo novos projetos de petróleo e mineração em sua Amazônia, somada à pressão coordenada de 84 países na COP30 por um roadmap global para abandonar os combustíveis fósseis, estabelece um marco político incontornável. A mensagem que emerge desse conjunto de iniciativas é inequívoca: expandir a infraestrutura fóssil tornou-se incompatível com credibilidade diplomática, coerência climática e competitividade industrial em qualquer economia que pretenda se posicionar no século XXI.O gesto colombiano, em particular, teve efeito catalisador. Ao barrar novos empreendimentos de petróleo e mineração na Amazônia, a Colômbia não apenas se projetou como liderança climática latino-americana, mas também elevou o padrão de ambição esperado dos países amazônicos. Essa decisão responde diretamente às demandas históricas da sociedade civil e das comunidades amazônicas, inclusive no Brasil, que reivindicam uma Amazônia livre de petróleo, amparada por princípios de justiça climática, proteção territorial e segurança socioambiental para populações que já convivem com múltiplas pressões. Trata-se de uma inflexão que reposiciona o debate regional e aumenta a expectativa internacional por compromissos semelhantes, especialmente em países que ainda insistem em ampliar fronteiras fósseis.
No entanto, o governo brasileiro segue na contramão dessa transformação. Em vez de aproveitar a oportunidade de reposicionar o Brasil como protagonista climático, o país tem intensificado pressões pela liberação de novas frentes de exploração na Margem Equatorial, ignorando tanto o avanço das normas globais quanto o clamor de povos da floresta.
Enquanto países como Reino Unido e Colômbia consolidam políticas que dão forma concreta à transição justa, por intermédio de garantias trabalhistas, investimentos massivos e rejeição explícita à expansão fóssil, o Brasil corre o risco de se isolar em um modelo de desenvolvimento ultrapassado, incompatível com tendências internacionais, necessidades socioambientais e expectativas de parceiros econômicos. O contraste é evidente: onde outros veem futuro, o Brasil parece insistir em olhar para o passado.