O Emissions Gap Report 2025, publicado nesta terça-feira (4) pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), traz um alerta contundente: o mundo segue aumentando emissões de gases de efeito estufa e caminha para um aquecimento de até 2,5°C mesmo se todas as promessas de redução de emissões forem plenamente implementadas.
Com o sugestivo título “Fora do Alvo”, o relatório aponta que o limite de aquecimento global de 1,5°C em relação à era pré-industrial, considerado o mais seguro, será ultrapassado na próxima década. E reconhece que a reversão desse aumento de temperatura é tecnicamente possível, mas envolve grandes incertezas, custos elevados e riscos significativos.
O novo desafio global é reduzir a duração e a intensidade da ultrapassagem (o chamado overshoot), com cortes drásticos e imediatos nas emissões e sem depender excessivamente de tecnologias de remoção de carbono, consideradas caras, arriscadas e incertas.
“Como diz o relatório do PNUMA, cada fração de temperatura acima de 1,5°C importa. O momento exige um esforço maior para enfrentar as maiores fontes de emissão, a começar pela queima de combustíveis fósseis”, comenta Marta Salomon, especialista sênior em políticas climáticas no Instituto Talanoa.
De acordo com o PNUMA, as projeções de aumento de temperatura neste século caíram ligeiramente em relação ao relatório de 2024, mas esse progresso pode ser anulado pela iminente saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris, que deve acrescentar 0,1°C ao aquecimento projetado.
Na data de corte do relatório (30 de setembro), apenas um terço dos países havia apresentado suas novas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) para 2035. China e Indonésia ainda não haviam submetido suas metas – a China o fez apenas ontem (3 de novembro). Índia e União Europeia também não entregaram suas atualizações, apesar da extensão do prazo original, que havia vencido em fevereiro.
O peso da responsabilidade
No décimo aniversário do Acordo de Paris, o relatório reconhece avanços relevantes. Em 2015, o mundo seguia rumo a 4°C de aquecimento; hoje, as projeções estão abaixo de 3°C. A proporção das emissões globais coberta por metas de neutralidade de carbono até meados do século subiu de zero para cerca de 70%.
Mas esse progresso não basta. O relatório é explícito: as maiores economias do mundo, reunidas no G20, são responsáveis por 77% das emissões globais e continuam falhando em reduzir emissões em ritmo e escala compatíveis com o Acordo de Paris.
“Enquanto países pobres contam perdas e danos, os lobbies fósseis seguem escrevendo o roteiro energético das maiores economias. Cada novo subsídio, cada nova licença é mais um golpe no 1,5°C”, avalia Natalie Unterstell, presidente do Instituto Talanoa.
Reverter o aquecimento exige ação imediata e coordenada, especialmente dos países do G20. Entre as prioridades listadas estão: eliminar subsídios ineficientes a combustíveis fósseis, acelerar a transição energética, fortalecer a cooperação financeira e tecnológica, e garantir apoio aos países em desenvolvimento.
Recorde de emissões e sinais de inércia
O PNUMA aponta que 2024 bateu um novo recorde de emissões globais, alcançando 57,7 gigatoneladas de CO₂ equivalente, um aumento de 2,3% em relação a 2023. O crescimento foi generalizado em todos os setores.
Embora os combustíveis fósseis ainda dominem as emissões (73% do total), o maior salto entre 2023 e 2024 veio do uso da terra, impulsionado por condições climáticas extremas e incêndios florestais. As emissões por desmatamento aumentaram 21%, enquanto as de combustíveis fósseis cresceram 1,1%.
“Os dados mostram a urgência de colocar a adaptação às mudanças climáticas e a conservação de florestas como prioridade na COP30, junto com uma transição real para longe dos fósseis”, afirma Salomon.
A distância entre as metas apresentadas até setembro e o que seria necessário para limitar o aquecimento a 1,5°C ou mesmo a 2°C continua alarmante: 20 e 12 gigatoneladas de CO₂ equivalente (GtCO₂e), respectivamente, até 2030. Para 2035, a lacuna permanece quase inalterada — 23 GtCO₂e para 1,5°C e 12 GtCO₂e para 2°C —, o que levaria as emissões globais a permanecerem em torno de 48 GtCO₂e nesse ano. Como referência, o Brasil emitiu cerca de 2 GtCO₂e em 2022, segundo o inventário nacional mais recente.
O relatório cita ainda o parecer da Corte Internacional de Justiça, que reafirma que 1,5°C continua sendo o “alvo primário” do Acordo de Paris, sem prazo de validade. “Cada décimo de grau importa. Cada atraso custa mais. Cada tonelada emitida agora terá que ser removida depois, a um preço muito mais alto”, resume o texto.
“A janela de 1,5°C está se fechando rapidamente, mas não expirou. Na COP30, é preciso conter as chamas acesas: nas florestas, nas termelétricas e nas decisões políticas que insistem no atraso”, complementa Unterstell.
Acesse o Relatório completo do Emissions Gap Report aqui.