Be-a-bá da Adaptação

(O conteúdo que você vai ler a seguir é feito totalmente por humanos, e para humanos)

A resiliência climática é o destino, adaptação é o caminho. Compreender as razões, causas e consequências que tornam a adaptação climática urgente exige o entendimento de conceitos que circulam dentro e fora das salas de negociação – e estarão na boca dos líderes globais reunidos em Belém em novembro de 2025. 

Neste breve glossário, reunimos conceitos fundamentais para compreender o que é adaptação, as distintas aplicações e ênfases além de instrumentos indispensáveis na diplomacia global.

Adaptação Climática. Processo de ajuste aos impactos atuais ou esperados das mudanças climáticas, com o objetivo de reduzir vulnerabilidades e aumentar a resiliência de comunidades, ecossistemas e economias. A Adaptação pode envolver mudanças em práticas, infraestruturas e políticas para mitigar os efeitos negativos e aproveitar oportunidades que possam surgir devido às alterações climáticas (IPCC, 2014). Adaptação é meio, resiliência é fim.

Adaptação Climática Antirracista. É o enfrentamento às desigualdades raciais, de gênero, geracionais, sociais, regionais e territoriais, a partir de um conjunto de políticas públicas estruturantes, interseccionais e intersetoriais. Essas políticas devem ter como foco assegurar o bem viver, a proteção das vidas vulnerabilizadas e a conservação dos biomas, através de medidas estruturais e emergenciais que reduzam o impacto dos eventos climáticos extremos para as populações mais vulnerabilizadas.

Adaptação Transformativa. Refere-se a medidas que resultam em mudanças significativas na estrutura e nas formas como vivemos e interagimos com o meio ambiente, para além do ajuste de práticas já existentes, característica da Adaptação incremental. A Adaptação transformativa provoca mudanças profundas e de longo prazo na sociedade, abrangendo transformações nos valores, nas visões de mundo e nas estruturas sociais, econômicas e ambientais.

Fundo de Adaptação (AF). Foi estabelecido em 2001 sob o Protocolo de Kyoto para financiar projetos de Adaptação em países em desenvolvimento que são parte do Protocolo e são particularmente vulneráveis aos efeitos adversos das mudanças climáticas. O fundo recebe uma parte dos recursos do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo do Protocolo, correspondente a 2% das Reduções Certificadas de Emissões emitidas sob esse mecanismo.

MalAdaptação. Refere-se a estratégias, ações ou políticas de Adaptação climática que, em vez de reduzir vulnerabilidades, acabam agravando os impactos negativos das mudanças climáticas a longo prazo. Essas ações podem aumentar o risco de futuros danos, transferir vulnerabilidades para outros grupos ou regiões, ou resultar em custos sociais, ambientais ou econômicos indesejados.

Objetivo Global de Adaptação (Global Goal on Adaptation – GGA). O Objetivo Global de Adaptação foi estabelecido pelo Acordo de Paris para aumentar a capacidade adaptativa, fortalecer a resiliência e reduzir a vulnerabilidade às mudanças climáticas, garantindo uma resposta adequada para limitar o aquecimento global. Para isso, o GGA propõe a medição do progresso por meio de indicadores que mensuram como os países estão melhorando sua capacidade de enfrentar riscos climáticos, fortalecendo sua resiliência e reduzindo os danos. A lista inicial de indicadores discutida por especialistas foi apresentada em Bonn (2025), sua versão consolidada, com 100 indicadores, será discutida e definida na COP30.

Perdas e Danos. Dizem respeito aos impactos inevitáveis e/ou irreversíveis das mudanças climáticas, que ocorrem apesar dos esforços de Mitigação e Adaptação. Abrange tanto impactos socioeconômicos, como perda de meios de subsistência, colheitas, propriedades, que podem ser quantificados em termos monetários, como aspectos não econômicos, como a perda de vidas, saúde, direitos, biodiversidade, serviços ecossistêmicos, conhecimento indígena e patrimônio cultural, já que essas perdas não podem ser facilmente atribuídas a um valor financeiro.

Fundo de Perdas e Danos. Demanda histórica de países insulares, o Fundo de Perdas e Danos foi criado na COP27 e oficialmente operacionalizado na COP28, em Dubai, para apoiar países vulneráveis na recuperação dos impactos inevitáveis e irreversíveis das mudanças climáticas, tanto econômicos quanto não econômicos. Ele financia a recuperação de perdas como meios de subsistência, propriedades, saúde, biodiversidade e patrimônio cultural. O fundo recebe contribuições voluntárias de países desenvolvidos, mas também incentiva a participação de países em desenvolvimento (IDR, 2024).

Planos Nacionais De Adaptação (NAPs). Planos Nacionais de Adaptação são uma ferramenta nacional fundamental para planejar medidas de Adaptação a médio e longo prazo. No âmbito da UNFCCC, os NAPs devem ser apresentados em consonância com indicadores do GGA e com os componentes de Adaptação de suas NDCs. Há consenso sobre a importância da integração dos NAPs com planos nacionais de desenvolvimento mais abrangentes. Até setembro de 2025, 65 países submeteram Planos Nacionais de Adaptação para a UNFCCC. 

Enquanto o GGA estabelece o prazo até 2030 para elaboração de NAPs ambiciosos, o GST insta às Partes para que submetam seus NAPs até 2025 e avancem em sua implementação até 2030. Essas diferenças na linha do tempo podem impactar o monitoramento do avanço da agenda de Adaptação. Nesse sentido, os NAPs constituem importante meio de mobilização e captação de recursos dos mecanismos financeiros da UNFCCC, como o Green Climate Fund, Adaptation Fund e o Global Environment Facility.

Resiliência. Resiliência é o destino de quem se adapta às mudanças climáticas. Refere-se à capacidade de se preparar, responder e se recuperar dos impactos de eventos climáticos extremos ou de longa duração, minimizando os danos ao bem-estar social, à natureza e à economia. É um conceito complementar ao de Adaptação climática, já que a Adaptação, se bem planejada e executada, pode elevar a resiliência, ou do contrário, diminuí-la. Assim, construir resiliência exige uma abordagem multidimensional e holística, visando fortalecer capacidades sociais, humanas e naturais de ecossistemas, territórios e comunidades.

Equipe Editorial (Liuca Yonaha, Marta Salomon, Melissa Aragão, Ester Athanásio, Marco Vergotti, Renato Tanigawa, Taciana Stec, Wendell Andrade, Daniel Porcel, Caio Victor Vieira, Beatriz Calmon, Rayandra Araújo e Daniela Swiatek).

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