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Se porventura ainda restavam dúvidas de que a adaptação seria prioridade para a COP30, elas não existem mais. A oitava carta da presidência brasileira da COP30 inaugura uma virada conceitual e política: pela primeira vez, o anfitrião da Conferência das Partes dedica um comunicado integralmente à adaptação. “A carta não apenas convoca a agir, mas redefine o que significa evoluir em um planeta sob pressão climática”, comenta a presidente do Instituto Talanoa, Natalie Unterstell.
Na visão do Instituto, o texto posiciona Belém como o marco de uma nova era da política climática global: a era da implementação da adaptação. Com dados concretos, 144 países já iniciaram seus Planos Nacionais de Adaptação (NAPs) e 67 os submeteram formalmente à UNFCCC, o presidente propõe que COP30 seja o momento de: 1) avaliar o progresso dos NAPs; 2) avançar o Mapa do Caminho de Baku (BAR); 3) fechar a lacuna de financiamento; e 4) operacionalizar o Objetivo Global de Adaptação (GGA) sob o UAE–Belém Work Programme.
Mas mais do que uma agenda técnica, o texto propõe um horizonte ético e simbólico, no qual adaptação climática torna-se o marco evolutivo da humanidade: “Em Belém, onde os rios encontram o mar, renovemos a aliança entre humanidade e natureza — transformando vulnerabilidade em solidariedade, cooperação em resiliência e adaptação em evolução.”
“O documento tem força narrativa e clareza estratégica raras no processo da UNFCCC, abandonando o jargão institucional. A presidência reconhece, sem rodeios, que a inação climática é uma forma de exclusão ativa e moralmente insustentável”, diz Liuca Yonaha, vice-presidente. “A falha em agir não é negligência técnica, mas uma escolha política sobre quem vive e quem morre”, escreve o embaixador André Corrêa do Lago.
Também destacamos que o Presidente da COP30 articula um argumento econômico robusto em favor da adaptação. Ao destacar que as perdas anuais por desastres climáticos já custam à África até 5% do PIB, e que cada dólar investido em resiliência retorna quatro vezes em benefícios, ele reconhece a adaptação como investimento inteligente, algo que as organizações da sociedade civil têm destacado publicamente.
“Cada estrada resiliente, cada escola adaptada ao clima, cada sistema de alerta precoce se paga em perdas evitadas”, afirma o presidente, numa das passagens mais diretas do documento. Por meio da carta, Corrêa do Lago sinaliza que ouviu, em diferentes regiões, o apelo para ir além da duplicação do financiamento acordada em Glasgow, potencialmente triplicando os recursos, a fim de responder à magnitude da crise e proteger comunidades vulneráveis. Essa nuance mostra uma escuta ativa da Presidência, que reflete as demandas do Sul Global e de múltiplos atores, sem se comprometer formalmente com uma meta numérica.
A conexão do regime climático multilateral à realidade das pessoas, das cidades e da economia real aparece novamente, como já evidenciada em cartas anteriores. A governança sobre adaptação precisa trazer os governos locais no centro de decisões e soluções. São eles, diz o texto, que “sentem diariamente o peso da escassez de alimentos, da falta d’água e das ondas de calor sobre os serviços públicos”
Por fim, a carta denuncia a desigualdade adaptativa como o novo divisor global. Essa dimensão ética é acompanhada por um alerta sobre o que chama de “muros climáticos”: o risco de um mundo em que os mais ricos se isolam em bolhas de resiliência, enquanto os mais vulneráveis são deixados à própria sorte.
Guia orienta cobertura sobre adaptação climáticaA oitava carta da Presidência da COP foi publicada minutos antes do início do webinar promovido pela Talanoa e Pulitzer Center “Adaptação Climática – Guia para Cobertura Jornalística”. O material é um manual prático onde os jornalistas de todo mundo podem acessar dicas para melhorar a cobertura sobre a agenda de adaptação antes, durante e após a COP30. O guia traz provocações para reorientar a pauta sob o olhar de soluções e oportunidades, lista de fontes, com contato de 30 nomes ao redor do mundo; sugestões de pauta para diversas editorias; além de tópicos sobre a agenda de negociação que estarão em jogo na COP30. O Guia está disponível em disponível em português, inglês e espanhol: https://institutotalanoa.org/adaptacao |