
A Força-Tarefa Adaptação como Prioridade rumo à COP30 — integrada por organizações da sociedade civil da América Latina, como Argentina 1.5, Fundación Avina, CANLA, Talanoa, Redes Chaco, Conectas Direitos Humanos, Instituto Socioambiental, Instituto Decodifica, Perifa Sustentável e outras aliadas regionais — conclui sua participação na 62ª Sessão dos Órgãos Subsidiários da UNFCCC (SB62) com uma mensagem clara: a COP30, em Belém, precisa entregar um pacote sólido de adaptação à altura da crise climática.
Durante as duas semanas em Bonn, a adaptação dominou a agenda das negociações, mas os avanços foram insuficientes. A Meta Global de Adaptação (GGA, na sigla em inglês) teve algum progresso técnico, mas segue distante de responder com a urgência, o contexto e a justiça que a realidade exige. Outros temas — como os Planos Nacionais de Adaptação (NAPs) e o financiamento — permanecem estagnados.
GGA: Avanços nos indicadores, mas decisões-chave ficam para depois
O GGA foi aprovado como o último item deste SB62, após uma tensa discussão entre países em desenvolvimento e desenvolvidos sobre os meios de implementação. A discussão durou mais de 12 horas e teve que ser levada ao nível dos Chefes de Delegações e Chairs, após as Partes não conseguirem chegar a um acordo durante as Consultas Informais. A decisão inclui a centralidade do financiamento para adaptação, e do acesso e qualidade dos meios de implementação para o GGA.
Embora o mandato técnico aos especialistas tenha sido refinado, temas centrais como os meios de implementação, o Baku Adaptation Roadmap e a Adaptação Transformacional deverão ser resolvidos na COP30. América Latina e Caribe insistem em uma agenda de adaptação centrada nas pessoas, nos ecossistemas e em um financiamento adequado.
“Não podemos aceitar uma lista de indicadores que se torne um exercício tecnocrático desconectado das pessoas e dos ecossistemas mais vulneráveis. A América Latina diz com clareza: adaptação se mede com justiça, com contexto e com meios de implementação à altura do desafio”, destacou Luz Falivene, da Fundación Argentina 1.5.
“Também é inaceitável que, mais uma vez, a menção às pessoas afrodescendentes tenha sido retirada do texto, apesar de todo o esforço do Grupo Sul para incluir a diáspora africana nas decisões sobre adaptação”, enfatizou Mahryan Sampaio, da Perifa Sustentável.
“É positivo o reconhecimento dos conhecimentos indígenas e tradicionais como a ‘melhor ciência’ sobre a qual basear e orientar a adaptação, bem como a menção de que o resultado final do programa de trabalho EAU–Belém deve incluir indicadores que reflitam informações sobre, entre outros, os Povos Indígenas e os direitos humanos”, comentou Ciro Brito, do Instituto Socioambiental.
NAPs: uma agenda travada
As discussões sobre os Planos Nacionais de Adaptação (NAPs) frustraram as expectativas. Apesar do reconhecimento de sua importância, faltaram ambição e clareza sobre como alinhá-los ao marco global. “É preocupante ver como a conversa sobre os NAPs continua travada. Não houve decisões substantivas nem propostas claras para garantir financiamento e articulação com os indicadores da GGA. Perdemos um tempo precioso”, afirmou Thales Machado, da Conectas Direitos Humanos.
Comunicação sobre adaptação: mais que um relatório
O processo de revisão das comunicações sobre adaptação também foi abordado, e a Força-Tarefa defende que essa ferramenta precisa ser fortalecida com orientações claras, dados de qualidade e participação da sociedade civil. “Comunicar adaptação não é apenas preencher um formulário. É um processo político, de visibilidade, de prestação de contas e de aprendizado coletivo. Os países devem contar com apoio técnico e recursos para fazer isso de maneira útil e inclusiva”, disse Karla Maass Wolfenson, responsável por incidência e campanhas da CANLA.
Rumo a Belém: expectativa por uma rota sólida para adaptação
A Força-Tarefa exige que o Baku Adaptation Roadmap (BAR) não seja apenas uma lista genérica de intenções, mas um espaço para monitorar e avaliar a implementação da Meta Global de Adaptação, promovendo coerência entre os diversos itens da agenda de adaptação, hoje fragmentada. Uma abordagem de médio prazo, com um cronograma realista para as modalidades do BAR, poderia integrar a meta global de adaptação com os Planos Nacionais de Adaptação, por exemplo.
“Ao longo dessas duas semanas, sentimos como a fragmentação dos itens de agenda dificulta a harmonização da agenda de adaptação, que deve ser pensada a partir de um espaço coerente de revisão dos sistemas de reporte, permitindo que os meios de implementação incluam financiamento, capacitação e transferência de tecnologia. Além disso, deve ir além da implementação de indicadores, olhando para a adaptação como um todo interconectado — do apoio à formulação dos NAPs até as AdComms, de acordo com as necessidades dos países em desenvolvimento. O BAR poderia ser essa casa da adaptação pós-Belém”, disse Daniel Porcel, do Instituto Talanoa.
Financiamento: a lacuna permanece evidente
O financiamento para a adaptação segue sendo o elo mais frágil da arquitetura climática. O texto atual não oferece clareza sobre como a GGA se conectará à Nova Meta Coletiva Quantificada (NCQG) nem à rota de Baku a Belém.
“É hora de estabelecer uma nova meta de financiamento para a adaptação que seja mobilizadora, suficiente e acessível para quem mais precisa. Essa é a linha vermelha para a justiça climática em Belém”, afirmou Natalie Unterstell, da Talanoa.
Bakú–Belém deve se traduzir em financiamento real e adaptação efetiva
A Força-Tarefa continuará mobilizada até a COP30, no Brasil, para garantir que a adaptação seja tratada como prioridade e se traduza em compromissos reais.
“A Rota Bakú–Belém deve fechar lacunas de financiamento, fortalecer a adaptação e gerar impactos concretos para os países em desenvolvimento — não podemos nos permitir mais um processo que fique apenas nas promessas.”
— Sandra Guzmán Luna, diretora-geral do GFLAC
FR Assessoria
+55 14 98125-4300