Quem vai dar mais?

Foto: Divulgação twitter.com/simonstiell

Resta menos de um ano para que as partes signatárias apresentem sua “terceira geração de compromissos nacionais de descarbonização”, lembrou, em comunicado na quinta-feira (14), o secretário-executivo da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima (UNFCCC), Simon Stiell. Em que altura será colocada a barra da ambição climática pelos países no próximo ciclo de NDCs, as Contribuições Nacionalmente Determinadas?

Além de trabalhar nas metas para o próximo ciclo até 2035, o secretariado da Convenção do Clima pede para que os países se esforcem para atualizar suas metas de 2030. “As NDCs 3.0 e as metas de 2030 determinarão coletivamente se o mundo pode voltar a uma trajetória de emissões globais que limite o aquecimento do planeta a 1,5ºC neste século, como posto sob o Acordo de Paris, assim como construir resiliência para esse cenário”, diz a nota.

A mensagem reforça que a proposição de ousadas metas nacionais em cada país é uma “questão de realidade” e que elas são essenciais para “proteger as pessoas, as economias e os orçamentos nacionais de uma rápida piora do impacto climático”, face à necessidade de “garantir a segurança e a prosperidade dos povos”.

Nesta semana, o recém-empossado enviado especial dos EUA para assuntos de Clima, John Podesta, disse durante visita ao Japão que seu país apresentará a nova NDC ainda este ano. Aproveitando a ida à Ásia, Podesta afirmou que os EUA esperam que a ambição chinesa seja também consistente, dado que seu principal concorrente econômico ultrapassou os EUA em emissões de gases de efeito estufa. Em entrevista, o sucessor de John Kerry mordeu, ao dizer que a China precisa levar a sério sua responsabilidade (na redução de emissões globais de GEE), mas também assoprou, ao reconhecer que, por outro lado, os chineses são “o mais rápido implementador de energia renovável no mundo”. Como que em uma autocrítica salutar ao exercício da diplomacia, Podesta reconheceu que os EUA são historicamente o maior emissor, mas que seu país tem “dado passos para a descarbonização do setor de energia” e, repetindo o que havia prescrito aos chineses, garantiu que os EUA “levarão a sério suas responsabilidades”.

O Brasil também tem uma gigante responsabilidade neste novo ciclo de NDCs. Em nível de negociações internacionais, é esperado que este novo momento tenha sua culminância na COP-30, em Belém. Como anfitrião, aguarda-se do Brasil liderança nesse processo. Para ocupar esse espaço, sua NDC deve ser exemplar – do rito de elaboração à colocação de metas condizentes com a missão 1,5ºC. Por enquanto, a formatação da NDC tem tido pouca interface pública. É fundamental que esse processo envolva ao longo deste ano a sociedade civil.

Conforme anunciamos em nossa última análise mensal, o Brasil tem se movimentado. Integrar a chamada “Troika do Clima”, juntamente com Emirados Árabes Unidos (sede da última COP) e Azerbaijão (sede da próxima COP), é exemplo disso. No plano interno, os grupos de trabalho para revisão da política climática nacional e os respectivos planos setoriais de clima estão com equipes montadas e cronogramas bem ajustados, mas, diante do contexto internacional… Será que o ritmo e a capacidade de articulação brasileiros serão suficientes para que o país anuncie uma NDC ambiciosa o suficiente para estar em linha com a “Missão 1,5ºC” e, ao mesmo tempo, influencie os demais países-parte, colocando-se como uma liderança na geopolítica climática global?

Como escreveu Stiell, no comunicado desta semana, as NDCs mostrarão o compromisso das nações com seus cidadãos: “Em todos os aspectos, suas NDCs 3.0 serão os mais importantes documentos produzidos até aqui neste século para garantir a segurança e a prosperidade de seus povos”.


Mapeamento e política mineral

No desenrolar das políticas internas, a agenda de mineração vai se consolidando como uma prioridade para o governo federal. Caminhando na estruturação de uma política de exploração dos minerais estratégicos, nesta semana foi criado o Plano Decenal de Mapeamento Geológico Básico e Levantamento de Recursos Minerais – PlanGeo. O objetivo é a identificação e a priorização de áreas estratégicas e o monitoramento e o levantamento dos recursos minerais. A norma chama de “diretrizes de governança” as orientações como previsibilidade, transparência, geração de conhecimento e “participação social na tomada de decisão pública”. Porém, não traz em suas diretrizes conexões bem-vindas com o Plano Nacional de Transformação Ecológica e com a Nova Indústria Brasil, políticas estratégicas anunciadas recentemente pelo governo e transversais ao tema. De toda forma, do ponto de vista técnico, a Política por Inteiro considera uma importante atualização, já que o último planejamento havia sido revogado em 2019.

A Política por Inteiro analisou aqui o cenário atual dos minerais críticos no Brasil.

 

Leia o documento que lançamos sobre isso.

Cartegena será engolida?

Enquanto isso, os efeitos da mudança do clima seguem se manifestando pelo mundo. Nesta semana, um importante alerta aqui ao lado, na Colômbia: a ilha de Cartagena, Patrimônio Mundial da UNESCO, tem sido gradativamente “engolida” pelo aumento do nível do mar, efeito potencializado, ainda, por outras características específicas da região. Segundo um estudo publicado na revista Nature, o padrão de ampliação do nível do mar em Cartagena é quase três vezes maior que no restante do mundo: 7,02 milímetros-ano, contra 2,9 milímetros-ano de média global. No mesmo estudo, as projeções indicam que Cartagena poderá ter 80% de seus bairros inundados nos próximos anos, inviabilizando a ilha como o mundo a conhece.

MONITOR DE ATOS PÚBLICOS

O Monitor de Atos Públicos captou 3 normas relevantes para a agenda climática entre os dias 11 a 15 de março. A única classe captada na semana foi Planejamento e dentro do tema Institucional. Em termos de agenda climática, todas as normas da semana estão ligadas à governança de questões internas da administração pública e das políticas públicas.


Nota metodológica: A partir de janeiro de 2024, as normas de desastres, referentes aos reconhecimentos de situação de emergência nos municípios por eventos meteorológicos e climáticos extremos, deixam de ser contabilizadas no Monitor de Atos Públicos. O monitoramento contínuo passa a ser realizado exclusivamente no Monitor de Desastres.

Planejamento estratégico

O MMA publicou seu planejamento institucional para os próximos quatro anos. Entre os resultados esperados, destaque para:

– Estabelecer um sistema de governança climática e efetivar seus meios de implementação;
– Implementar a Política Nacional de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA);
– Ampliar a adoção de medidas de mitigação e adaptação à mudança do clima;
– Implementar a Política Nacional de Bioeconomia.


Help

A fim de cumprir os compromissos assumidos internacionalmente pelo Brasil, tanto na presidência do G20 como na COP30, foram definidas as diretrizes para realização de projetos em conjunto com organismos internacionais.

MONITOR DE DESASTRES

O Monitor de Desastres captou reconhecimento de situação de emergência ou calamidade pública decorrente de eventos climáticos ou meteorológicos extremos em 105 municípios de 1 a 13 de março.

Tempestades se concentraram no Sul e no Sudeste. Estiagem, no Nordeste.

4-Desastres-Política por Inteiro - 20240315

Bom fim de semana,
Equipe POLÍTICA POR INTEIRO

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