Só falta sair do papel

Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
Uma semana de lançamentos de programas e iniciativas por parte do governo federal. A Agenda Transversal Ambiental e a política Nova Indústria Brasil são dois exemplos robustos que dão holofotes às políticas climáticas e mostram o esforço dos ministérios em colocar o meio ambiente dentro dos planos das Pastas, embora os documentos não sejam convergentes muitas vezes. E, principalmente, mais do que uma boa redação, os projetos precisam ir logo para a ação.

Neste sentido, o aporte de R$ 10 bilhões por meio de títulos verdes soberanos lançados pelo governo no ano passado aumentou substancialmente o volume de gastos autorizados para a mitigação e a adaptação às mudanças climáticas no Orçamento da União para 2024, que virou lei nesta semana.

A Lei nº 14.822 foi sancionada com vetos, estabelecendo a receita de R$ 5,5 trilhões para o exercício financeiro de 2024. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aplicou vetos referentes a emendas parlamentares no valor de R$ 5,6 bi, reduzindo de R$ 16,6 bi para R$ 11 bi os gastos das comissões parlamentares. Parte do dinheiro irá financiar a industrialização em novas bases tecnológicas, de acordo com os objetivos estratégicos do programa intitulado Enfrentamento da Emergência Climática, indicados em documento do Plano Plurianual (PPA) para o período 2024 a 2027. Durante a semana, o governo lançou bases da política Nova Indústria Brasil, relativamente alinhada com a agenda climática. A chamada “neoindustrialização” faz parte da agenda transversal ambiental do PPA, também lançada durante a semana. O objetivo do documento é esmiuçar a contribuição de cada pasta, dentro do eixo meio ambiente do PPA que está dividido na agenda transversal em cinco dimensões. O enfrentamento à emergência climática é tratado de forma bastante ampla, considerando temas que vão da agropecuária sustentável à aviação civil, passando por vigilância em saúde e educação profissional.

O conjunto de programas, e seus desdobramentos, pretende, no período de quatro anos, não apenas enfrentar o desmatamento – a principal causa de emissão de gases de efeito estufa no Brasil – como também promover o desenvolvimento em bases inclusivas e sustentáveis. Os compromissos são muitos e envolvem inúmeros indicadores de acompanhamento, o que irá exigir um esforço proporcional e articulado, para que não se perca o rumo da descarbonização efetiva. Uma análise mais aprofundada do planejamento dos gastos públicos será lançada em breve pela Talanoa.


BNDES Azul

O Planejamento Espacial Marinho (PEM) é uma das quatro frentes de atuação da iniciativa BNDES Azul, lançada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O contrato referente à costa da Região Sul do Brasil foi assinado bnsta semana. Há também incentivos à inovação e descarbonização da frota naval, estímulo à infraestrutura portuária e apoio a projetos de recursos hídricos via Fundo Clima.Na sua fala, a Ministra Marina Silva ressaltou que o projeto é mais uma alternativa para ajudar no desafio em relação à mudança do clima. 


A questão Yanomami

A capacidade resolutiva do governo federal acerca da questão Yanomami foi colocada em xeque nesta semana. Enquanto apurações dão conta de que a tensão entre garimpeiros e indígenas persiste, e que estes – em especial, crianças – seguem não resistindo à situação de extrema miséria que enfrentam, o presidente Lula parece ter dificuldades em fazer com que as Forças Armadas colaborem. Em termos de política climática, importa a garantia de integridade do território e dos povos originários que nele habitam, e isso vai muito além de mera “governança”. Se o espaço aéreo de uma área fundamental à soberania nacional não consegue ser controlado, se equipes de fiscalização do Ibama seguem ameaçadas e até alvejadas em campo, e se nem sequer há apoio logístico competente para que cestas básicas sejam entregues aos indígenas, o problema passa a ser a falta dos elementos mais básicos de um governo: autoridade, comando e governabilidade. Na segunda-feira, 22, o ministro da Defesa, José Múcio, prometeu até o fim desta semana uma “proposta definitiva” para a questão. Bem, já estamos no final de semana…


Não foi só o El Niño

Um estudo publicado nesta semana inferiu que a mudança climática foi a principal responsável pelas secas extremas registradas na Região Amazônica entre junho e novembro de 2023, ou seja, somente a influência do El Niño não seria capaz de causar tamanha alteração no regime de chuvas e nos sistemas de evapotranspiração, gravemente afetados pelo aumento da temperatura. O estudo concluiu, ainda, que os impactos da seca foram intensificados por fatores territoriais, como o desmatamento e as práticas de agricultura e pecuária corporativa.


Destinação de terras públicas

Nesta semana foram editadas duas resoluções da Câmara Técnica de Destinação e Regularização Fundiária de Terras Públicas Federais Rurais, retomada em setembro. Uma delas definiu o Regimento Interno do colegiado que tem caráter consultivo e deliberativo e também sua composição, a outra criou o Grupo de Trabalho para Assuntos Federativos. O GT tem como objetivo analisar e apresentar propostas sobre assuntos de interesse dos estados e municípios no processo de destinação das glebas públicas e será constituído por dois representantes, um titular e um suplente, de cada órgão/entidade que compõem a CTD. A destinação de terras da união é intrínseca à implementação do PPCDAM, que estabeleceu como meta destinar  29,5 milhões de hectares, até 2027, desse total, 3 Mha virariam UCs, representando um acréscimo de quase 2% na área total de unidades de conservação no Brasil. Agora, a partir da data da designação de seus membros, a Câmara Técnica tem 90 dias para apresentar o plano de ação para destinação de terras públicas em áreas críticas e prioritárias da Amazônia Legal. Outra medida tomada nesta semana foi a destinação de três glebas públicas federais à Funai, para usufruto dos grupos indígenas Kanela do Araguaia e Apurinã, no MT e AM, totalizando 22,3 mil hectares.


Compras públicas sustentáveis

Um decreto institui a Comissão Interministerial de Contratações Públicas para o Desenvolvimento Sustentável – CICS, que tem como prioridade aproveitar a demanda estatal para a promoção do desenvolvimento nacional sustentável. A CICS terá o papel de alinhar a política industrial estabelecida no Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial – CNDI, com o Plano de Transformação Ecológica e também com outros programas e políticas do governo federal, como o PAC.


Relógio do fim do mundo

Os sinais a respeito da urgência de ação pelo clima vêm de todos os lados e de várias formas. Uma iniciativa de cientistas – dentre os quais nada menos que fundadores como Einstein e Oppenheimer – e que passa uma mensagem didática sobre o comportamento da Humanidade no planeta é o Relógio do Fim do Mundo. A partir de matemática avançada ele calcula a probabilidade de eventos catastróficos levarem a humanidade a uma extinção em massa. Os cálculos determinam a posição dos ponteiros, que indicam que, quanto mais perto da meia-noite, mais próximo estamos do fim de nossa existência. Apesar de criado no contexto do pós-2ª Guerra Mundial, motivado pelo risco de ameaças nucleares, o relógio atualmente incorpora a questão climática no cálculo. Nesta semana, os cientistas que integram a iniciativa anunciaram que em 2024, mantendo o alerta de 2023, a “hora” seguirá adiantada em 30 segundos, passando para 23h58min30seg. O relatório 2024 aponta que a situação se agravou em parte porque “em 2023, a Terra viveu o ano mais quente de que há registo, e inundações massivas, incêndios florestais e outras catástrofes relacionadas com o clima afetaram milhões de pessoas em todo o mundo.” A despeito de todos os avanços tecnológicos alcançados, o mundo, em vez de se afastar, deu mais passos em direção ao colapso.

ANÁLISE MENSAL

O último mês do primeiro ano de governo Lula foi marcado por disputas políticas com o Parlamento em pautas importantes à descarbonização do país, como o marco temporal das terras indígenas e a aprovação, na Câmara dos Deputados, do Projeto de Lei que cria o Mercado Regulado de Carbono. Isso e mais toda a cobertura da COP-28 estão na Análise Mensal de Dezembro, publicada esta semana e disponível no blog. Acesse aqui.

MONITOR DE ATOS PÚBLICOS

O Monitor de Atos Públicos captou 06 normas relevantes para a agenda climática entre os dias 22 e 26 de janeiro.

Nota metodológica: A partir de janeiro de 2024, as normas de desastres, referentes aos reconhecimentos de situação de emergência nos municípios por eventos meteorológicos e climáticos extremos, deixam de ser contabilizadas no Monitor de Atos Públicos. O monitoramento contínuo passa a ser realizado exclusivamente no Monitor de Desastres.

MONITOR DE DESASTRES

Nesta semana, foram captados 06 atos, totalizando 45 reconhecimentos de emergência por desastres. As tempestades seguem no topo da lista, atingindo o sul e sudeste do país, assim como a estiagem continua sendo registrada nos estados do Nordeste, com episódios de seca.
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  • Vai ocorrer a 1ª Reunião do GT Sustentabilidade Ambiental e Climática do G20, com a presença da Ministra Marina Silva

Bom fim de semana,
Equipe POLÍTICA POR INTEIRO

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