Ainda não acabou. A chama – que pode ser a dos combustíveis fósseis ou de um mundo livre deles – ainda está acesa. Porém, ela não está iluminando o suficiente. A falta de transparência, sem Majilis, sem plenária, reinou na COP28 nesta terça-feira, que deveria ser o último dia da Conferência. Em Dubai seguem as negociações e consultas, processos que deveriam ter se iniciado há muitos dias.
Diferentemente do que havia sendo debatido até agora, o texto do Global Stocktake, o Balanço Global, em negociação é considerado ruim por muitas Partes porque não traduz a necessidade que temos: eliminar os combustíveis fósseis.
O rascunho apresentado segunda-feira pelo presidente da COP, Sultan Al Jaber, causou indignação porque continha o trecho “reduzir o consumo e produção de combustíveis fósseis” até 2050, em vez de “eliminar”. Importante dizer que a Arábia Saudita e alguns países aliados fazem parte de uma pequena minoria que levantou publicamente fortes objeções à inclusão de qualquer referência à redução da produção e do consumo de combustíveis fósseis no texto de um possível acordo. “Tivemos aqui uma demonstração prática do que significa mexer com a poderosíssima indústria fóssil”, comentou a presidente do Instituto Talanoa, Natalie Unterstell.
Nesta terça-feira, houve também a divulgação de decisões sobre o Artigo 6 e financiamento de longo prazo, o que significa que alguns assuntos bastante técnicos e complexos foram resolvidos.
Para nós da Talanoa, é preciso manter acesa a chama da esperança, de que ainda seja possível chegar a um consenso sobre o texto do Balanço Global e sobre o Objetivo Global de Adaptação (GGA), que andam de mãos dadas. Precisamos confiar que a diplomacia colocará o interesse global acima dos interesses de curto prazo do setor de fósseis. Ainda há tempo para termos um bom acordo nesta conferência, nem que seja no apagar das luzes.
COP na mídia
Não é só a falta de referência ao fim dos combustíveis fósseis o único problema da proposta da presidência da COP28 para o balanço global, o primeiro balanço sobre o que foi feito desde o Acordo de Paris, que deveria conter metas e orientações sobre o que deve ser melhorado nas próximas “Contribuições Nacionalmente Determinadas” (NDC, na sigla em inglês). É do texto que sair de Dubai que dependem também outros documentos importantes desta COP28, como o Objetivo Global de Adaptação, que só poderá ser desbloqueado depois de definidos os pontos do GST.
Marina defende grupo de trabalho
Segundo reportagem da Folha de S. Paulo, a Ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, os indicadores que saírem no balanço global serão aproveitados para conduzir a revisão das metas climáticas dos países, mesmo que não sejam definidos como trajetórias obrigatórias. Marina propôs a criação de um grupo de trabalho para aprofundar as propostas de abandono das energias fósseis. Nesta terça-feira, a ministra encontrou-se com o Secretário-Geral da ONU, António Guterres.
Destaques do dia
Fato:
A saída do ministro da Mudança Climática do Reino Unido, Graham Stuart, que voltou para Londres nesta terça-feira, aparentemente para reforçar o voto do governo sobre Ruanda. Se a cúpula terminar nesta quarta-feira, será uma longa jornada perdida.
Frase:
"Acho que há progresso e estamos caminhando na direção certa."
John Kerry, enviado especial dos EUA para o clima
O que vem no dia 13 da COP?
Ótima pergunta.