COP28 – Dia 11: Será o fim?

Foto: UNCC COP28 / Christopher Pike
Na teoria, estamos nas últimas 24 horas da COP28, mas, com base nas reações ao texto desastroso do Balanço Global (GST) apresentado nesta segunda-feira pela presidência da Conferência, o evento está longe do fim. Ou será esse o fim?

   O novo documento saiu cedo e quebrou as expectativas geradas pelas falas anteriores do presidente da Conferência, Sultan Al Jaber, de que esperava encerrar o evento pontualmente nesta terça-feira de manhã. Soava realmente estranho que uma segunda versão do texto pudesse já encaminhar as negociações a um consenso. Porém, havia alguma esperança, abatida com um balde de água fria – ou melhor, em consonância com o tom do texto: uma enxurrada de água escaldante, aquecida num planeta cada vez mais quente.

O texto do GST deixa em suspenso o fim – ou o sucesso – da COP 28 por não apresentar um cronograma claro e ambicioso de transição – aliás, sequer menciona a transição. E, justamente, os termos “transição” e “eliminação” estavam muito presentes no rascunho anterior, atrelados a “combustíveis fósseis”, gerando boa expectativa. Agora, em um documento de 11 mil palavras, o termo “combustíveis fósseis” é mencionado três vezes. As palavras “óleo” ou “gás” não aparecem. A palavra “eliminação (phase-down)” aparece ligada especificamente a “carvão”, mas sem qualquer escala de tempo.

Embora inclua detalhes importantes, como a manutenção do alinhamento das próximas NDCs com a meta de 1,5°C do Acordo de Paris e a natureza absoluta e abrangente de toda a economia e de todos os gases, a nova versão enfraquece a linguagem sobre energia, que é o setor que mais emite os gases que estão mudando o clima. O principal parágrafo de energia, por exemplo, começa com um “could”, o que na linguagem diplomática abre caminho para um menu de opções e não um pacote que guie as próximas NDCs. 

Isso significa falar de redução com algum alinhamento com cenários de net zero em 2050, ou seja, compatível com a ciência. Porém, ao enfatizar o saldo líquido, o “net”,  pode-se apostar em um menu de abatement (captura) e compensação.  Além disso, as referências à ciência, a 1,5°C e ao fornecimento de financiamento estão espalhadas pelo texto, de forma inconsistente. Não há ênfase na ação nesta década crítica antes de 2030. 

Quanto aos subsídios aos fósseis, a linguagem parece ser uma reformulação do texto adotado no G20 em 2009, ao apontar para o “phase out” somente daqueles que forem ineficientes e que não tratam da pobreza energética ou das transições justas. Cada país poderá argumentar que seus subsídios estão ou não em conformidade com isso. Ou seja, a possibilidade de enquadramento dos subsídios como redução de pobreza, sem critérios claros, não permite separar o joio do trigo.

Por outro lado, a parte referente ao sistema financeiro inclui o reconhecimento dos riscos climáticos, o que é um avanço positivo para que este setor cumpra seu estratégico papel na transição para uma economia de baixo carbono.

  Outro ponto positivo é a ênfase em natureza e ecossistemas, com data para o fim do desmatamento em 2030.

Por conta dos problemas apontados acima, está difícil que muitos países apoiem o texto na forma atual. As reações fortes e contrárias foram muitas ao longo do dia. “Mas a diplomacia serve para esses momentos. A solução passa por ela. Mais diplomacia, e não menos”, afirma a presidente do Instituto Talanoa, Natalie Unterstell.

Reações



Na grande imprensa o texto foi tratado como: 

The Guardian: “Uma minuta de acordo para reduzir a produção global de combustíveis fósseis é “extremamente insuficiente” e “incoerente” e não impedirá que o mundo enfrente um colapso climático perigoso.”

Forbes: “Acordo da COP28 omite eliminação gradual de combustíveis fósseis após apelos de região anfitriã rica em petróleo.”

Folha de S. Paulo: “COP28 se aproxima de texto final sem citar abandono de combustíveis fósseis.”

Agência Brasil: “COP: Novo documento exclui previsão para eliminar combustíveis fósseis.”

COP na mídia

Belém confirmada
Nesta segunda-feira, o Brasil foi oficialmente aprovado, por unanimidade, como sede da COP30, que deve ser realizada entre os dias 10 e 21 de novembro de 2025, em Belém, a capital do Pará.

Fundo Amazônia
A Noruega anunciou, nesta segunda-feira, em Dubai, durante um painel que comemorava os 15 anos da parceria com o Brasil, que vai repassar mais R$ 245 milhões ao Fundo Amazônia. Os recursos serão empregados, principalmente, em medidas de combate ao desmatamento e promoção do desenvolvimento sustentável da região amazônica.

Destaques do dia

FÓSSIL DO DIA:

Arábia Saudita


Pela resistência visível à linguagem que apoia a eliminação gradual justa e equitativa dos combustíveis fósseis e a transição para as energias renováveis, e seu bloqueio repetido em todas as trilhas de negociação, o país saudita levou o “antiprêmio”.

FÓSSIL COLOSSAL:

Estados Unidos


Como o maior emissor histórico e produtor de petróleo do mundo, bloqueando as negociações nas horas finais da COP28, o prêmio de maior e pior fóssil, o “Fóssil Colossal”, vai para os EUA.

RAY OF THE DAY:

Colômbia


Grande destaque positivo nesta COP28, o país latino-americano foi escolhido como o melhor da Conferência por sua liderança em perdas e danos, gênero, equilíbrio global, adaptação, financiamento e transição justa que repercutem em milhões de pessoas diretamente afetadas pelas mudanças climáticas.

Fato:

A falta de acordo entre os países e a falta de transparência da presidência da COP28 que, restando poucas horas para encerrar a Conferência, ainda não chegaram a um consenso.

Frase:

"Não queremos uma pororoca de pressões na COP30 de algo que não foi metabolizado ao longo do processo”.

O que vem no dia 12 da COP?

Este é o último dia formal da Conferência. O presidente da COP28 havia dito que espera encerrar os trabalhos às 11h (Dubai). Muita gente das delegações já adiou a passagem de partida para a sexta-feira. A conferir.

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