Na teoria, estamos nas últimas 24 horas da COP28, mas, com base nas reações ao texto desastroso do Balanço Global (GST) apresentado nesta segunda-feira pela presidência da Conferência, o evento está longe do fim. Ou será esse o fim?
O novo documento saiu cedo e quebrou as expectativas geradas pelas falas anteriores do presidente da Conferência, Sultan Al Jaber, de que esperava encerrar o evento pontualmente nesta terça-feira de manhã. Soava realmente estranho que uma segunda versão do texto pudesse já encaminhar as negociações a um consenso. Porém, havia alguma esperança, abatida com um balde de água fria – ou melhor, em consonância com o tom do texto: uma enxurrada de água escaldante, aquecida num planeta cada vez mais quente.
O texto do GST deixa em suspenso o fim – ou o sucesso – da COP 28 por não apresentar um cronograma claro e ambicioso de transição – aliás, sequer menciona a transição. E, justamente, os termos “transição” e “eliminação” estavam muito presentes no rascunho anterior, atrelados a “combustíveis fósseis”, gerando boa expectativa. Agora, em um documento de 11 mil palavras, o termo “combustíveis fósseis” é mencionado três vezes. As palavras “óleo” ou “gás” não aparecem. A palavra “eliminação (phase-down)” aparece ligada especificamente a “carvão”, mas sem qualquer escala de tempo.
Embora inclua detalhes importantes, como a manutenção do alinhamento das próximas NDCs com a meta de 1,5°C do Acordo de Paris e a natureza absoluta e abrangente de toda a economia e de todos os gases, a nova versão enfraquece a linguagem sobre energia, que é o setor que mais emite os gases que estão mudando o clima. O principal parágrafo de energia, por exemplo, começa com um “could”, o que na linguagem diplomática abre caminho para um menu de opções e não um pacote que guie as próximas NDCs.
Isso significa falar de redução com algum alinhamento com cenários de net zero em 2050, ou seja, compatível com a ciência. Porém, ao enfatizar o saldo líquido, o “net”, pode-se apostar em um menu de abatement (captura) e compensação. Além disso, as referências à ciência, a 1,5°C e ao fornecimento de financiamento estão espalhadas pelo texto, de forma inconsistente. Não há ênfase na ação nesta década crítica antes de 2030.
Quanto aos subsídios aos fósseis, a linguagem parece ser uma reformulação do texto adotado no G20 em 2009, ao apontar para o “phase out” somente daqueles que forem ineficientes e que não tratam da pobreza energética ou das transições justas. Cada país poderá argumentar que seus subsídios estão ou não em conformidade com isso. Ou seja, a possibilidade de enquadramento dos subsídios como redução de pobreza, sem critérios claros, não permite separar o joio do trigo.
Por outro lado, a parte referente ao sistema financeiro inclui o reconhecimento dos riscos climáticos, o que é um avanço positivo para que este setor cumpra seu estratégico papel na transição para uma economia de baixo carbono.
Outro ponto positivo é a ênfase em natureza e ecossistemas, com data para o fim do desmatamento em 2030.
Por conta dos problemas apontados acima, está difícil que muitos países apoiem o texto na forma atual. As reações fortes e contrárias foram muitas ao longo do dia. “Mas a diplomacia serve para esses momentos. A solução passa por ela. Mais diplomacia, e não menos”, afirma a presidente do Instituto Talanoa, Natalie Unterstell.
O novo documento saiu cedo e quebrou as expectativas geradas pelas falas anteriores do presidente da Conferência, Sultan Al Jaber, de que esperava encerrar o evento pontualmente nesta terça-feira de manhã. Soava realmente estranho que uma segunda versão do texto pudesse já encaminhar as negociações a um consenso. Porém, havia alguma esperança, abatida com um balde de água fria – ou melhor, em consonância com o tom do texto: uma enxurrada de água escaldante, aquecida num planeta cada vez mais quente.
O texto do GST deixa em suspenso o fim – ou o sucesso – da COP 28 por não apresentar um cronograma claro e ambicioso de transição – aliás, sequer menciona a transição. E, justamente, os termos “transição” e “eliminação” estavam muito presentes no rascunho anterior, atrelados a “combustíveis fósseis”, gerando boa expectativa. Agora, em um documento de 11 mil palavras, o termo “combustíveis fósseis” é mencionado três vezes. As palavras “óleo” ou “gás” não aparecem. A palavra “eliminação (phase-down)” aparece ligada especificamente a “carvão”, mas sem qualquer escala de tempo.
Embora inclua detalhes importantes, como a manutenção do alinhamento das próximas NDCs com a meta de 1,5°C do Acordo de Paris e a natureza absoluta e abrangente de toda a economia e de todos os gases, a nova versão enfraquece a linguagem sobre energia, que é o setor que mais emite os gases que estão mudando o clima. O principal parágrafo de energia, por exemplo, começa com um “could”, o que na linguagem diplomática abre caminho para um menu de opções e não um pacote que guie as próximas NDCs.
Isso significa falar de redução com algum alinhamento com cenários de net zero em 2050, ou seja, compatível com a ciência. Porém, ao enfatizar o saldo líquido, o “net”, pode-se apostar em um menu de abatement (captura) e compensação. Além disso, as referências à ciência, a 1,5°C e ao fornecimento de financiamento estão espalhadas pelo texto, de forma inconsistente. Não há ênfase na ação nesta década crítica antes de 2030.
Quanto aos subsídios aos fósseis, a linguagem parece ser uma reformulação do texto adotado no G20 em 2009, ao apontar para o “phase out” somente daqueles que forem ineficientes e que não tratam da pobreza energética ou das transições justas. Cada país poderá argumentar que seus subsídios estão ou não em conformidade com isso. Ou seja, a possibilidade de enquadramento dos subsídios como redução de pobreza, sem critérios claros, não permite separar o joio do trigo.
Por outro lado, a parte referente ao sistema financeiro inclui o reconhecimento dos riscos climáticos, o que é um avanço positivo para que este setor cumpra seu estratégico papel na transição para uma economia de baixo carbono.
Outro ponto positivo é a ênfase em natureza e ecossistemas, com data para o fim do desmatamento em 2030.
Por conta dos problemas apontados acima, está difícil que muitos países apoiem o texto na forma atual. As reações fortes e contrárias foram muitas ao longo do dia. “Mas a diplomacia serve para esses momentos. A solução passa por ela. Mais diplomacia, e não menos”, afirma a presidente do Instituto Talanoa, Natalie Unterstell.
Reações
COP28 is now on the verge of complete failure. The world desperately needs to phase out fossil fuels as quickly as possible, but this obsequious draft reads as if OPEC dictated it word for word. It is even worse than many had feared. It is “Of the Petrostates, By the Petrostates…
— Al Gore (@algore) December 11, 2023
We cannot accept latest GST text. Need way forward that ensures we meet 1.5C-scaled up climate finance esp. for adaptation & phasing out fossil fuels with differentiation. This text doesn’t set clear pathway for either. GST meant to ratchet ambition, where is the ambition? #COP28
— LDC Chair (@LDCChairUNFCCC) December 11, 2023
Na grande imprensa o texto foi tratado como:
The Guardian: “Uma minuta de acordo para reduzir a produção global de combustíveis fósseis é “extremamente insuficiente” e “incoerente” e não impedirá que o mundo enfrente um colapso climático perigoso.”
Forbes: “Acordo da COP28 omite eliminação gradual de combustíveis fósseis após apelos de região anfitriã rica em petróleo.”
Folha de S. Paulo: “COP28 se aproxima de texto final sem citar abandono de combustíveis fósseis.”
Agência Brasil: “COP: Novo documento exclui previsão para eliminar combustíveis fósseis.”
The Guardian: “Uma minuta de acordo para reduzir a produção global de combustíveis fósseis é “extremamente insuficiente” e “incoerente” e não impedirá que o mundo enfrente um colapso climático perigoso.”
Forbes: “Acordo da COP28 omite eliminação gradual de combustíveis fósseis após apelos de região anfitriã rica em petróleo.”
Folha de S. Paulo: “COP28 se aproxima de texto final sem citar abandono de combustíveis fósseis.”
Agência Brasil: “COP: Novo documento exclui previsão para eliminar combustíveis fósseis.”
COP na mídia
Belém confirmada
Nesta segunda-feira, o Brasil foi oficialmente aprovado, por unanimidade, como sede da COP30, que deve ser realizada entre os dias 10 e 21 de novembro de 2025, em Belém, a capital do Pará.
Fundo Amazônia
A Noruega anunciou, nesta segunda-feira, em Dubai, durante um painel que comemorava os 15 anos da parceria com o Brasil, que vai repassar mais R$ 245 milhões ao Fundo Amazônia. Os recursos serão empregados, principalmente, em medidas de combate ao desmatamento e promoção do desenvolvimento sustentável da região amazônica.
Nesta segunda-feira, o Brasil foi oficialmente aprovado, por unanimidade, como sede da COP30, que deve ser realizada entre os dias 10 e 21 de novembro de 2025, em Belém, a capital do Pará.
Fundo Amazônia
A Noruega anunciou, nesta segunda-feira, em Dubai, durante um painel que comemorava os 15 anos da parceria com o Brasil, que vai repassar mais R$ 245 milhões ao Fundo Amazônia. Os recursos serão empregados, principalmente, em medidas de combate ao desmatamento e promoção do desenvolvimento sustentável da região amazônica.
Destaques do dia
FÓSSIL DO DIA:
Arábia Saudita
Pela resistência visível à linguagem que apoia a eliminação gradual justa e equitativa dos combustíveis fósseis e a transição para as energias renováveis, e seu bloqueio repetido em todas as trilhas de negociação, o país saudita levou o “antiprêmio”.
FÓSSIL COLOSSAL:
Estados Unidos
Como o maior emissor histórico e produtor de petróleo do mundo, bloqueando as negociações nas horas finais da COP28, o prêmio de maior e pior fóssil, o “Fóssil Colossal”, vai para os EUA.
RAY OF THE DAY:
Colômbia
Grande destaque positivo nesta COP28, o país latino-americano foi escolhido como o melhor da Conferência por sua liderança em perdas e danos, gênero, equilíbrio global, adaptação, financiamento e transição justa que repercutem em milhões de pessoas diretamente afetadas pelas mudanças climáticas.
Fato:
A falta de acordo entre os países e a falta de transparência da presidência da COP28 que, restando poucas horas para encerrar a Conferência, ainda não chegaram a um consenso.
Frase:
"Não queremos uma pororoca de pressões na COP30 de algo que não foi metabolizado ao longo do processo”.
Marina Silva, Ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima
O que vem no dia 12 da COP?
Este é o último dia formal da Conferência. O presidente da COP28 havia dito que espera encerrar os trabalhos às 11h (Dubai). Muita gente das delegações já adiou a passagem de partida para a sexta-feira. A conferir.