COP 28 – Dia 8: Retomando os trabalhos

Após o dia de folga, as atividades foram retomadas na COP 28 em ritmo de contagem regressiva, com a mensagem do presidente da conferência em Dubai, Sultan Al Jaber, afirmando que quer que o evento termine às 11 horas da terça-feira, dia 12.

Nesta sexta-feira, o foco foram as crianças e adolescentes na COP28. Foi o Dia da Educação. Nas mobilizações da sociedade civil, houve a ação do Fridays For Future e também uma bonita manifestação dos Pacific Climate Warriors. 

Nas negociações do Balanço Global (GST), foi divulgado um novo texto – o segundo rascunho do documento. Há três pontos a se destacar:

  1. O termo “substituição”, em vez de “eliminação” em relação aos combustíveis fósseis.
    Entre as ações climáticas a serem implementadas pelas partes nesta década crítica, foi utilizado um novo termo que pode ajudar na construção de um consenso em relação à abordagem para os combustíveis fósseis. Em vez de “phase out”, isto é, eliminar os fósseis, está na mesa agora a possibilidade de se usar “substituir” (“displace” em inglês): “Triplicar para 11.000 GW a capacidade global de energia renovável até 2030, comparada a 2022, e dobrar a taxa média anual global de melhoria da eficiência energética para 4,1% em 2030, assegurando que esse crescimento na capacidade de renováveis seja estrategicamente implementado para substituir a energia baseada em combustíveis fósseis reduzindo significativamente a dependência global de fontes de energia não renováveis e de alta emissão”.
    “Essa linguagem foi adotada recentemente no acordo China- Estados Unidos. Falar em ‘substituição’, em vez de ‘eliminação’, pode aumentar as chances de avançar nas negociações, aplacando os ânimos de alguns países que não conseguem falar em ‘eliminação gradual’”, diz Natalie Unterstell, presidente da Talanoa.
  2. Afrouxamento da linguagem sobre os subsídios aos combustíveis fósseis.
    Em vez de se colocar a “eliminação dos subsídios ineficientes aos combustíveis fósseis” irrestritamente, foi condicionada a eliminação quando esses incentivos não mirem a pobreza energética ou a transição justa. O texto proposto, então, ficou: “A eliminação dos subsídios aos combustíveis fósseis que não  restringida essa eliminação a “eliminação dos subsídios aos combustíveis fósseis que não tratem de pobreza energética ou transição justa”.
    Essa mudança dificulta a eliminação dos combustíveis fósseis. “Vale lembrar que, desde 2020, foram US$ 7 trilhões de subsídios dados à indústria de petróleo e gás no mundo”, afirma Natalie Unterstell.
  3. Inclusão de sistemas alimentares, agricultura sustentável e combate à fome na introdução do documento.
    Na parte chamada de Preâmbulo, que é onde se elenca os princípios objetivo do documento, foi incluídas menções a sistemas alimentares, agricultura sustentável e combate à fome: “Reconhecendo a prioridade fundamental de salvaguardar a segurança alimentar e acabar com a fome, bem como as vulnerabilidades específicas dos sistemas de produção alimentar aos impactos adversos das alterações climáticas (…)”.

Para cumprir o cronograma perseguido por Al Jaber e encerrar a COP na terça de manhã, os pontos de negociação mais pressionados são:

  • O próprio Balanço Global, que definirá o padrão para a próxima rodada de Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) a serem submetidas até 2025. O pacote de energia está no cerne. Combustíveis fósseis são a questão-chave no pacote – com Arábia Saudita, EUA, China, Índia e Rússia sendo “difíceis”. O Brasil está disposto a não bloquear o chamado “phase out” – ou agora o “displacement” – e busca inserir a chamada “Missão 1.5” para operacionalizar o alinhamento de NDCs com 1,5°C. Talanoa acha que essas são posições boas, ainda que mais ambição seja necessária ao GST como um todo.
  • O Objetivo Global de Adaptação (GGA) decidirá o financiamento e como medir o progresso na Adaptação nos anos 2030 e seguintes. Travado na semana 1, esse tema ainda não ganhou a necessária atenção política do Brasil. Até agora não se fala nem de duplicar financiamento de adaptação no GGA, apenas no GST.
  • O Programa de Trabalho de Mitigação (MWP), que estabelece os melhores caminhos e investimentos em energia limpa na década de 2020. Importante conectar MWP com GST.

Os pares ministros para a fase crucial das negociações são:

Balanço Global: África do Sul & Dinamarca

Mitigação: Cingapura & Noruega

Adaptação: Chile & Austrália

Meios de implementação: Egito & Canadá

COP na mídia

O recibo da Opep

A Opep, o cartel dos exportadores de petróleo, sentiu que a onda do “phase out” bateu para valer nesta COP 28. Cartas da organização a seus membros e também para os membros da chamada Opep+ (na qual o Brasil confirmou em plena COP que vai ingressar) vazadas à imprensa revelam o apelo da organização alertando que a pressão para a eliminação dos combustíveis fósseis atingiu um ponto de inflexão com consequências irreversíveis. Os petroestados querem que o foco siga nas emissões e não na causa delas, mostra reportagem do Guardian.

 

A voz dos cientistas

Após a controvérsia em torno dos comentários do presidente da COP, Sultan Al Jaber, sobre o limite de 1,5°C para o aquecimento global e a eliminação dos combustíveis fósseis, um grupo de cientistas do IPCC divulgou uma declaração afirmando: “Para todos os efeitos práticos, avançar para a eliminação da combustão de combustíveis fósseis é necessário para manter o objetivo de 1,5°C do Acordo de Paris ao alcance”. São as grandes petroleiras x ciência na COP, intitulou o NYTimes.

 

Cidades de COPs inundadas

Como será a elevação do nível do mar em cidades que sediaram COPs? Uma análise mostra como as cidades-sede de cúpulas anteriores podem ser inundadas – se não totalmente submersas – pelo aumento das águas oceânicas. “As decisões tomadas na COP28 moldarão o futuro de longo prazo das cidades costeiras da Terra, incluindo Dubai”, disse à CNN Benjamin Strauss, cientista-chefe e CEO da Climate Central, responsável pela pesquisa. 

Destaques do dia

País:

Canadá



O país prometeu nesta sexta-feira que fará cortes de emissões de 35% a 38% na sua indústria a partir de 2030.

Fato:

O Azerbaijão é forte candidato a país-sede da COP29, ano que vem. Alguns delegados da COP28 levantaram preocupações sobre a realização das negociações climáticas em um país produtor de petróleo pelo segundo ano consecutivo.

Frase:

 “Esta semana pode ser a nossa última oportunidade de nos colocarmos no caminho certo para mantermos 1,5ºC.” 

O que vem no dia 9 da COP?

Este sábado, nono dia da COP28, é o o Dia Global de Ação, com um grande evento na Zona Azul e protestos descentralizados ao redor do mundo. 

Assine nossa newsletter

Compartilhe esse conteúdo

Realização

Apoio

Apoio