Nesta semana, o Monitor de Atos Públicos da POLÍTICA POR INTEIRO captou 7 normas relevantes. Os temas mais recorrentes foram Desastres e Mudança do Clima, com 3 atos cada. Destaque para as resoluções relacionadas ao Projeto de Lei que institui a Política Nacional sobre Mudança do Clima, o Comitê Interministerial sobre a Mudança do Clima e o Crescimento Verde. A classe mais frequente foi a de Resposta, com 3 normas captadas, relativas às declarações de emergência dos estados, consequência de eventos meteorológicos. COP 26Começou nesta semana a 26ª edição da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática – COP 26. Na abertura, a única brasileira a falar, como representante dos povos indígenas, Txai Suruí, destacou a urgência de medidas eficientes para frear as mudanças climáticas, além de ressaltar a importância dos povos indígenas na proteção da Amazônia. “Vamos frear as emissões de promessas mentirosas e irresponsáveis, vamos acabar com a poluição de promessas vazias e vamos lutar por um futuro e presente habitáveis”, disse. O presidente Bolsonaro “deu bolo” e não foi para Glasgow. No meio da corrida do Governo para melhorar sua imagem durante a COP 26, em evento paralelo, transmitido pelo youtube do MMA, foi apresentada uma breve fala de Bolsonaro e foi anunciado, pelo Ministro do Meio Ambiente, uma nova meta de reduzir a emissão de carbono em 50% até 2030. Essa nova meta reduz a “pedalada climática” mas não resolve o problema, como trouxemos em análise no blog. No entanto, faltou articular o anúncio com o próprio governo que em sua carta oficial depositada junto à UNFCCC não traz nenhum número. Ainda, mostrando a total desarticulação entre o próprio governo, o país anunciou a adesão ao acordo para redução das emissões de metano sem articular internamente entre as pastas de Meio Ambiente e Agricultura, que segundo publicado, não foram consultadas. E, diante da ausência de lideranças do Governo Federal, 22 chefes do Executivo estadual aproveitaram a COP 26 para lançar o Consórcio Brasil Verde, coordenado pelo governador do Espírito Santo, Renato Casagrande. O objetivo da articulação dos governadores é viabilizar a captação de recursos no exterior, sem depender da negociação do poder executivo federal. Mostrando que cada um tem papel importante na descarbonização, a iniciativa Clima e Desenvolvimento – Visões para o Brasil 2030 foi apresentada no Brazil Climate Action Hub, em Glasgow. Depois de feitas as consultas com mais de 300 lideranças indígenas, representantes da sociedade civil, governo e iniciativa privada, o evento na COP 26 reuniu parte dos agentes que foram ouvidos e refletiu a pluralidade de atores que colaboraram com a construção dos cenários de descarbonização para o Brasil de 2030, assista aqui. Ainda na COP26, em evento paralelo, o ministro Paulo Guedes voltou a falar na necessidade de se mudar a vocação de Manaus e seu entorno, ressaltando que o país poderá dar 20 anos de isenção em impostos para empresas como a Tesla, Google, e Amazon, transformando a Amazônia na “Selva do Silício”, indo totalmente na contramão do que seria uma bioeconomia adequada para a região indicada por cientistas brasileiros. E, para fechar a semana, a movimentação interna do governo acerca da política climática culminou na publicação da minuta, via despacho, do Projeto de Lei que institui a Política Nacional sobre Mudança do Clima, o Comitê Interministerial sobre a Mudança do Clima e o Crescimento Verde, e de duas resoluções, uma que abre consulta pública para a minuta e outra que o Relatório Final de Monitoramento e Avaliação do Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima – Ciclo 2016-2020. Confira a análise exclusiva no nosso blog. CLIMA NO TWITTER Esta semana, a COP 26 e os assuntos ligados à Conferência do Clima foram o destaque no Twitter, como mostra a Nuvem de Palavras abaixo. OCDENo âmbito internacional, destaca-se a fala do chefe do grupo antissuborno da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Drago Kos. Ele indicou que o aumento da corrupção no Brasil contribui para a piora da economia no país e afirmou: “Se você me perguntasse há três ou quatro anos sobre o combate à corrupção no Brasil, eu teria uma resposta muito simples: o Brasil é um dos melhores, provou que pode ir do zero na luta contra corrupção para 100% e isso podia ser dito sobre todas as instituições do país. Agora, há apenas alguns indivíduos e uma ou duas instituições engajadas no combate à corrupção”. É importante lembrar que as políticas ambientais do país também contribuem negativamente para uma acessão do Brasil à OCDE. Legislativo Em semana de COP 26, no Legislativo houve movimentação na agenda relativa às mudanças do clima. Como já relatado em outras semanas, está em trâmite na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei (PL) 528/2021, que busca criar o Mercado Brasileiro de Redução de Emissões (MBRE). Esse PL teve o regime de urgência aprovado na quinta-feira e, segundo declarou a relatora deputada Carla Zambelli (PSL/SP), há possibilidade da proposta ser votada na próxima semana. Ainda, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados foi aprovado o Projeto de Lei 4778/2019, o qual visa criar a Política Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável em Microbacias Hidrográficas. Por fim, na Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados foi aprovado o substitutivo ao Projeto de Lei 2732/11, o qual visa criar uma lei nacional sobre o gerenciamento de áreas contaminadas. O projeto ainda será analisado pelas Comissões de Finanças e Tributação, bem como de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ). A Base de Iniciativas do Legislativo da POLÍTICA POR INTEIRO, ferramenta de monitoramento de novas propostas legislativas relativas a meio ambiente e mudança do clima, captou uma proposta relevante nesta semana. PL 3871/2021, de autoria do deputado Célio Studart (PV/CE), que visa determinar o funcionamento ininterrupto das Delegacias de Polícia Especializadas no combate aos crimes contra o Meio Ambiente. Aprovação PL 06539 2019, que visa alterar a Lei nº 12.187, de 29 de dezembro de 2009, que institui
O tempo fechou
O Poder Executivo não pode mudar uma lei. Para isso, a Casa Civil deve mandar ao Congresso Nacional uma proposta de projeto de lei ( PL) a ser tramitada nas duas Casas (Câmara e Senado). Há sempre o risco de que sejam pendurados “jabutis”, isto é, pautas indesejáveis. E, por isso, geralmente, quando o Poder Executivo quer modificar uma Lei, o faz em estreita articulação com o Congresso. Na corrida do Governo para melhorar sua imagem, enquanto acontece a COP 26, a Casa Civil publicou HOJE (5/11) uma resolução, a RESOLUÇÃO Nº 5, DE 20 DE OUTUBRO DE 2021, que aprova a consulta pública de minuta de Projeto de Lei que institui a Política Nacional sobre Mudança do Clima, o Comitê Interministerial sobre a Mudança do Clima e o Crescimento Verde e dá outras providências. Sem clara articulação com o Congresso Nacional, a minuta proposta revoga a Lei nº 12.187, de 29 de dezembro de 2009, que institui a Política Nacional sobre Mudança do Clima – PNMC, indo na contramão da proposta do projeto de lei já aprovado pelo Senado. O PL 6539/2019, aprovado nesta semana, apenas altera a Lei que institui a Política Nacional sobre Mudança do Clima – PNMC, para atualizá-la ao contexto do Acordo de Paris e aos novos desafios relativos à mudança do clima. O relator, Jaques Wagner, teve seu parecer aprovado (Parecer nº249/2021-PLEN/SF) , mas a redação final (Parecer 270/2021-PLEN/SF, da Comissão Diretora) ainda não foi disponibilizada. Ao mesmo tempo está em tramitação o PL 1539/2021, de iniciativa da senadora Kátia Abreu, com a relatoria do senador Marcelo Castro, que também propõe alterar a Política Nacional sobre Mudança do Clima, já comentado aqui pela Política por Inteiro. Ao que tudo indica, o governo terá dificuldades para emplacar a nova proposta de Lei sobre a PNMC junto ao Congresso Nacional, o que pode ser positivo, pois verificamos sérios problemas como vamos mostrar aqui. Com essas recentes proposições, causa estranheza que haja movimento contínuo e duplo no Executivo e no Legislativo sobre a mesma matéria. Há, pois, um sentimento de confusão e falta de articulação entre os Poderes, o que traz maior enfraquecimento, inclusive nas tomadas de decisões e na imagem internacional brasileira para fins de acordos e cumprimento de metas, pois não traz clareza, tampouco compromissos rígidos/reais. A bem da verdade, revisões múltiplas da legislação tem o condão de, muitas das vezes, dificultar o cenário e não ajudar no desenvolvimento do tema no País. Congressistas estão em Glasgow acompanhando, discutindo e articulando medidas, mas ao que parece o Governo Federal está tomando decisões por conta própria. Na comparação entre a atual PNMC (Lei 12.187/2009) e a proposta de minuta apresentada hoje pelo governo, temos como principais problemas identificados: Há problemas quanto à governança. O Comitê proposto não tem participação ampla da sociedade nem sequer de governos subnacionais. Portanto, instituí-lo em lei pode cristalizar uma governança desalinhada com os objetivos da própria política. Governança centralizada. Não há tampouco clareza sobre o que significa crescimento verde, que aparece como novo título da lei. Está excluído da lista de fontes os aerossóis. Tal exclusão pode ter impactos sobre o inventário nacional. Retira a possibilidade de expansão das áreas protegidas e mantém apenas a consolidação dessas áreas como objetivos da PNMC. Há a exclusão do Art. 12 original, onde estavam descritos os compromissos nacionais e a meta de 2020. Não há processo para definição da NDC e não há atualização das obrigações do Acordo de Paris. A redação dos objetivos deveria estar adequada ao Acordo de Paris que contém 3 metas (adaptação, mitigação e fluxos financeiros). A minuta já sai desalinhada com o documento do próprio governo disponibilizado pelo MMA. E como demais destaques de itens que foram modificados, temos: A norma institui tanto a Política Nacional sobre Mudança do Clima quanto o Comitê Interministerial sobre Mudança do Clima e o Crescimento Verde, sendo que o Comitê Interministerial sobre a Mudança do Clima e Crescimento Verde terá caráter permanente, como “instância máxima de governança da agenda de mudança do clima no Brasil”. A sua composição, organização e funcionamento foram estabelecidos em regulamento, tendo sido substituído o Comitê Interministerial sobre Mudança do Clima (CIM). Sem a inserção do princípio da participação social e com a retirada de princípios anteriores sobre combate às desigualdades regionais, a governança proposta é, não participativa nem federativa. Retirada a necessidade de “razoável consenso por parte dos meios científicos e técnicos ocupados no estudo dos fenômenos envolvidos” referente às tomadas de medidas para prever, evitar ou minimizar as causas/impactos da mudança climática. Nos objetivos específicos, foi inserido o de “possibilitar o desenvolvimento de mecanismo de mercado doméstico regulado para promover mitigação de emissões de gases de efeito estufa”, redação essa que atualiza o texto em relação ao mercado regulado doméstico. Também foi inserido o objetivo de “avaliar oportunidades de inserção do Brasil em abordagens cooperativas internacionais baseadas em mercados”, que atualiza a redação da PNMC de 2009 em relação ao artigo 6 do Acordo de Paris; Inclui a “conservação ambiental, produção de alimentos e de biocombustíveis” como pontos a serem compatibilizados quando do cumprimento dos objetivos da PNMC. Especial atenção para a inclusão de questões relativas à segurança energética. Inserida, de modo genérico, o objetivo de “promover modelos de desenvolvimento econômico baseados na bioeconomia, no pagamento por serviços ambientais e na valorização dos conhecimentos e modos de vida de povos e comunidades tradicionais”; Retirada a necessidade dos padrões e metas ambientais para redução de emissões antrópicas e suas remoções por sumidouros de gases de efeito estufa serem “verificáveis”. Se inseriu que deverá se “orientar” o estabelecimento desses padrões e metas, os quais serão quantificáveis “na medida do possível”; Participação: foi retirada a diretriz de estímulo e apoio à participação dos governos federal, estadual, distrital e municipal, assim como do setor produtivo, do meio acadêmico e da sociedade civil organizada, no desenvolvimento e na execução de políticas, planos, programas e ações relacionados à mudança do clima. Ponto problemático e grave ao retirar a participação plural dessa