COP30 – DIA 2, SEMANA 2: Pressão cresce por metas claras para abandonar combustíveis fósseis

COP30 – DIA 2, SEMANA 2: Pressão cresce por metas claras para abandonar combustíveis fósseis

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O nono dia da COP30 — o segundo da Semana 2 — foi marcado por ritmo acelerado e negociações em constante movimento nos corredores da Conferência do Clima em Belém. Logo pela manhã, a Presidência divulgou um conjunto de rascunhos de decisão, incluindo a proposta de “Decisão de Mutirão”, que traduz o Sumário apresentado no domingo. Com 58 parágrafos e diversas opções ainda em aberto, o texto manteve a linha do que já havia sido antecipado e consolidou os quatro elementos que vinham sendo consultados desde a semana anterior.

Entre os trechos mais observados estava a referência ao Mapa do Caminho para a transição para longe dos combustíveis fósseis, ponto que ganhou força ao longo do dia. Segundo o embaixador André Corrêa do Lago, o rascunho “abre a porta entre os extremos”: embora alguns países defendam maior ambição, a negociação exige buscar um meio-termo e reconhecer as red lines — limites que determinadas Partes não estão dispostas a ultrapassar.

No período da tarde, as discussões sobre o Mapa do Caminho se intensificaram. Representantes de vários países declararam apoio à proposta do Brasil de inserir este tema na negociação oficial. Dentre eles, Alemanha, Reino Unido, Colômbia, Quênia, Serra Leoa e Ilhas Marshall. Surgiu a chamada “Coalizão dos Dispostos”, formada por 84 países que solicitaram explicitamente um roteiro para a eliminação dos combustíveis fósseis. A articulação é inédita: desde a Decisão de Dubai, que estabeleceu a necessidade de transição para longe dos fósseis, não havia mobilização desse porte. Em contraposição, países árabes pressionam por uma formulação mais branda, com requisitos reduzidos. Tanto países quanto organizações da sociedade civil enviaram contribuições à Presidência cobrando que o Mapa inclua mecanismos de prestação de contas, prazos e metas concretas.

Na sala de adaptação, a previsão é de negociações estendidas noite adentro, com diplomatas ajustando as versões finais dos textos. A expectativa é que o pacote esteja fechado já nesta quarta-feira — um feito inédito na história das COPs, caso se confirme. A agilidade importa, mas o essencial é que os documentos finais respondam à urgência da crise climática e impulsionem ações compatíveis com sua gravidade.

A quarta-feira promete mais definições — e emoções — na reta final da COP30.

Planos Nacionais de Adaptação

Um evento marcou o lançamento, nesta terça-feira, de uma solução para acelerar a implementação dos Planos Nacionais de Adaptação (NAPs, sigla em inglês). A “Mesa-Redonda de Alto Nível para Lançamento da Aliança para Implementação dos NAPs” contou com a participação de representantes de alto nível da Itália, Brasil, Alemanha e Vanuatu, organizações da sociedade civil, PNUD, filantropias, bancos multilaterais e o Campeão de Alto Nível para o Clima.

A Aliança para Implementação dos NAPs é um espaço colaborativo desenvolvido como parte da Agenda de Ação da COP30, que busca contribuir para alavancar recursos financeiros públicos e privados. Compreendendo que os NAPs não devem ser um documento, mas sim um processo, reforçou-se que a Aliança não é uma nova estrutura, mas sim um compromisso coletivo para aprofundar a integração da adaptação (“mainstreaming adaptation”), alinhar estruturas coletivas para aprendizado conjunto e acelerar a implementação das ações de adaptação previstas nos planos.

PIB cresce com a ação climática

Estudo do Ministério do Planejamento e Orçamento, apresentado na COP30, revela que, sem limitar o aquecimento global a 1,5°C, o Brasil pode perder mais de R$ 17 trilhões e 4,4 milhões de empregos até 2050, com forte impacto nos preços dos alimentos. Apenas petróleo, gás, carvão e mineração teriam ganhos. 

Por outro lado, manter o aquecimento bem abaixo de 2°C pode gerar R$ 6,7 trilhões em crescimento adicional e criar 1 milhão de empregos até 2050.

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É clara a vantagem para a economia de investimentos em descarbonização e adaptação às mudanças climáticas, aponta estudo do MPO.

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Empreender Clima

Nesta terça-feira, o Governo brasileiro lançou na COP 30 o Empreender Clima, uma plataforma para apoiar micro e pequenos empreendedores na transição para uma economia de baixo carbono. A iniciativa é uma parceria entre o Ministério do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte (MEMP), a Organização de Estados Ibero-Americanos (OEI), o Sebrae e o BNDES. O Empreender Clima deve oferecer crédito barato para os pequenos negócios, com taxas a partir de 4,4% ao ano e até 100% de financiamento para investimentos em projetos sustentáveis. Por meio da plataforma, o empreendedor pode criar o perfil do seu negócio, acessar cursos e conteúdos personalizados e gerar um documento de pré-enquadramento no Fundo Clima, mecanismo federal de financiamento de projetos de mitigação e adaptação às mudanças climáticas.

Terras indígenas demarcadas

Foi oficializada nesta terça-feira a demarcação de mais de 2,4 milhões de hectares de Terras Indígenas (TI) na Amazônia, nos estados de MT, AM e PA. O povo Kaxuyana-Tunayana teve a demarcação mais expressiva em área: são 2,18 milhões de hectares, no Oeste do PA e no Leste do AM. 

Para além da garantia de direitos, a homologação é um passo fundamental ao processo de reconhecimento do Mosaico Norte do Pará, área com um dos grandes maciços florestais da Panamazônia, e que concentra TIs, Territórios Quilombolas (TQs) e Unidades de Conservação (UCs) de diferentes categorias. A formação de Mosaicos como estratégia de gestão territorial e compartilhamento de esforços é uma premissa legal no Brasil (art. 26 da Lei Federal n°. 9.985/2000), e o atual governo federal tem retomado essa ferramenta. O reconhecimento desse mosaico, em específico, pode ser um passo para Brasília tomar ainda antes do final de 2026. 

Em outra região, indígenas do povo Pareci, no MT, também foram alcançados pelos decretos presidenciais de hoje.

Hoje, no pavilhão da Colômbia, o Instituto Talanoa participou da apresentação da Plataforma Así Va la Energia. A iniciativa foi construída de forma coletiva entre organizações da América Latina dedicadas a monitorar e avaliar a transição energética dos países da região, pela perspectiva da justiça climática. 

A organização colombiana Transforma liderou o projeto, que envolveu o desenvolvimento de uma metodologia de avaliação do ritmo e da qualidade da transição. Os indicadores foram desenhados a partir dos dados públicos e disponíveis levantados pela equipe de especialistas de cada país. No Brasil, a Talanoa foi responsável pelo levantamento e análise dos dados. No Chile, a pesquisa ficou com a equipe da Chile Sostenible; e o Instituto de Desarollo Energia y Ambiente (IDEA,) trabalhou com os dados do México.

A plataforma será constantemente atualizada e pretende monitorar de perto os passos da transição energética justa na América Latina, por meio dos indicadores criados e de análises qualitativas. 

Acesse e conheça: https://asivalaenergia.transforma.global/

Tacacá do dia

O que você pediria se encontrasse o Papai Noel na COP30? Philipp McMaster, ou “Sustaina Claus” , circula pelos corredores da Conferência em Belém. Ele é um ativista ambiental canadense que já esteve em várias COPs usando a figura lúdica de Papai Noel para atrair a atenção da mídia e dos participantes para o consumo exagerado e o aquecimento global. Uma de suas marcas é o gesto de três dedos, que simboliza o equilíbrio entre sociedade, meio ambiente e economia.

Frase

“Os combustíveis fósseis estão destruindo sonhos. Acabar com a dependência dessa fonte energética é a mobilização de justiça climática mais importante dessa geração.”

Marcele Oliveira, Jovem Campeã Climática da COP30

Céu iluminado em Belém

Na noite de quinta-feira, o céu de Belém foi iluminado por centenas de porangas, lamparina tradicional utilizada por seringueiros na floresta amazônica, feita a partir de latas de óleo e funcionando com querosene. Chamado de “Porangaço dos Povos da Floresta”, o evento paralelo à COP30 reuniu lideranças extrativistas e apoiadores.

Eventos Talanoa na COP

DATA EVENTO LOCAL HORÁRIO PARCEIROS ORGANIZADORES
20/11/2025 Landing the GGA on territories: from global goals to local realities in Latin America and the Caribbean Regional Climate Pavilion 11:15 – 12:15 Palmares, Talanoa, Decodifica
20/11/2025 Painel Mudanças Climáticas Casa Vozes do Oceano 15:30 – 19:00

Equipe Editorial (Liuca Yonaha, Marta Salomon, Melissa Aragão, Ester Athanásio, Marco Vergotti, Renato Tanigawa, Taciana Stec, Wendell Andrade, Daniel Porcel, Caio Victor Vieira, Beatriz Calmon, Rayandra Araújo e Daniela Swiatek).

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