Brasil perderá 4,4 milhões de empregos e R$ 17 trilhões no PIB até 2050 se planeta aquecer acima de 1,5°C

Brasil perderá 4,4 milhões de empregos e R$ 17 trilhões no PIB até 2050 se planeta aquecer acima de 1,5°C

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Estudo coordenado pelo Ministério do Planejamento e Orçamento (MPO) para subsidiar a Estratégia Nacional de Longo Prazo estima o impacto na economia de um aquecimento global acima de 1,5ºC em relação à era pré-industrial: uma perda entre 89% e 146% do Produto Interno Bruto (PIB) país em 25 anos. Os resultados da pesquisa mostram uma perda superior a R$ 17 trilhões para a economia e de 4,4 milhões de empregos até 2050, além de alta no preço dos alimentos, se o mundo não conseguir conter o aumento da temperatura dentro do objetivo estabelecido no Acordo de Paris. 

O estudo afirma que as indústrias de petróleo, gás, carvão e minérios seriam as únicas beneficiadas, num cenário de perdas econômicas generalizadas, alta nos preços dos alimentos e perda de milhares de empregos. Batizada de “Brasil 2050”, a estratégia de longo prazo coincide com o período que o país tem para zerar as emissões de gases de efeito estufa (compensando as emissões remanescentes), segundo o compromisso submetido à Convenção do Clima por meio da NDC, a Contribuição Nacionalmente Determinada. 

O levantamento apresentado durante a COP30 deixa claro que os custos, ainda que gigantescos, podem estar subestimados, devido à incerteza associada a projetar a evolução de indicadores econômicos num mundo 4ºC mais quente. Há vários pontos de não-retorno que podem ocorrer num nível de aquecimento bem menor, como o colapso da floresta amazônica. 

“A economia brasileira e mundial poderia entrar em colapso, o que nos leva a reconhecer que, possivelmente, os impactos econômicos projetados para o cenário 4ºC são subestimados”, diz o estudo. Também houve dificuldade para estimar os custos de adaptação às mudanças climáticas, tema para o qual os autores buscaram uma aproximação. “A verdade é que a certo ponto a adaptação torna-se inviável. Não há como imaginar a possibilidade de se adaptar a um mundo 4ºC mais quente, simplesmente porque o mundo que conhecemos estaria colapsado”, avalia Natalie Unterstell, presidente do Instituto Talanoa. 

O estudo não deixa dúvidas sobre as vantagens econômicas da descarbonização, ainda que precisem ser considerados esforços globais – e não só brasileiros – para conter a concentração de gases de efeito estufa na atmosfera. Em vez de uma perda de mais de R$ 17 trilhões, haverá uma oportunidade de crescimento do PIB nacional de R$ 6,7 trilhões até 2050, caso o aumento da temperatura média global fique bem abaixo de 2ºC, o que corresponde a uma alta de 57% no PIB no período e a geração de mais 1 milhão de empregos. “Haveria um excedente econômico em face à externalidade climática de R$ 268 bilhões ao ano, o que representa cerca de 5% do orçamento total da União em 2050”, afirma o estudo.

Os empregos proporcionados por uma ação climática mais forte seriam gerados sobretudo nos setores florestal e agropecuário, justamente nas regiões mais afetadas pela inação climática: Centro-Oeste, Norte e Nordeste.

Os impactos do agravamento da crise climática são classificados de “severos” sobre a economia nacional, com aumento das desigualdades regionais e deterioração das seguranças alimentar, energética e hídrica, além da socioeconômica. 

Como região potencialmente mais afetada, o Centro-Oeste perderia 126% do PIB projetado para 2050. A perda seria imposta pela perda de produtividade agrícola provocada por secas mais frequentes e intensas, com impacto também na perda de postos de trabalho. A dificuldade de acesso à água igualmente levaria ao aumento do preço dos alimentos. 

O setor da economia brasileira que mais emite gases de efeito estufa, a agropecuária, é o que mais perde em cenário de maior aquecimento global. Os maiores produtores de soja (Mato Grosso, Paraná, Rio Grande do Sul e Goiás)  teriam uma queda de produtividade entre 16% e 29% até 2050, projeta o estudo. “O montante de produção perdida equivaleria a 30 milhões de toneladas, que foi a produção total contabilizada na Argentina, terceiro maior produtor do grão em nível mundial atrás do Brasil e dos EUA”, compara o estudo. 

Além da soja, principal commodity agrícola de exportação do Brasil (neste ano atrás do petróleo e do minério de ferro), a cana de açúcar também registraria perda de produtividade, com impacto na produção de biocombustíveis, diz o estudo.  

“Se ainda faltavam argumentos favoráveis à ação climática, o chamado “custo de inação” para a economia brasileira não deixa margem a dúvidas. E é importante que o planejamento de longo prazo no Brasil dê prioridade aos impactos das mudanças climáticas”, comenta Marta Salomon, especialista sênior em políticas climáticas no Instituto Talanoa.

Equipe Editorial (Liuca Yonaha, Marta Salomon, Melissa Aragão, Ester Athanásio, Marco Vergotti, Renato Tanigawa, Taciana Stec, Wendell Andrade, Daniel Porcel, Caio Victor Vieira, Beatriz Calmon, Rayandra Araújo e Daniela Swiatek).

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