Brasil perderá 4,4 milhões de empregos e R$ 17 trilhões no PIB até 2050 se planeta aquecer acima de 1,5°C
- COP30
- 18 de novembro de 2025
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Estudo coordenado pelo Ministério do Planejamento e Orçamento (MPO) para subsidiar a Estratégia Nacional de Longo Prazo estima o impacto na economia de um aquecimento global acima de 1,5ºC em relação à era pré-industrial: uma perda entre 89% e 146% do Produto Interno Bruto (PIB) país em 25 anos. Os resultados da pesquisa mostram uma perda superior a R$ 17 trilhões para a economia e de 4,4 milhões de empregos até 2050, além de alta no preço dos alimentos, se o mundo não conseguir conter o aumento da temperatura dentro do objetivo estabelecido no Acordo de Paris.
O estudo afirma que as indústrias de petróleo, gás, carvão e minérios seriam as únicas beneficiadas, num cenário de perdas econômicas generalizadas, alta nos preços dos alimentos e perda de milhares de empregos. Batizada de “Brasil 2050”, a estratégia de longo prazo coincide com o período que o país tem para zerar as emissões de gases de efeito estufa (compensando as emissões remanescentes), segundo o compromisso submetido à Convenção do Clima por meio da NDC, a Contribuição Nacionalmente Determinada.
O levantamento apresentado durante a COP30 deixa claro que os custos, ainda que gigantescos, podem estar subestimados, devido à incerteza associada a projetar a evolução de indicadores econômicos num mundo 4ºC mais quente. Há vários pontos de não-retorno que podem ocorrer num nível de aquecimento bem menor, como o colapso da floresta amazônica.
“A economia brasileira e mundial poderia entrar em colapso, o que nos leva a reconhecer que, possivelmente, os impactos econômicos projetados para o cenário 4ºC são subestimados”, diz o estudo. Também houve dificuldade para estimar os custos de adaptação às mudanças climáticas, tema para o qual os autores buscaram uma aproximação. “A verdade é que a certo ponto a adaptação torna-se inviável. Não há como imaginar a possibilidade de se adaptar a um mundo 4ºC mais quente, simplesmente porque o mundo que conhecemos estaria colapsado”, avalia Natalie Unterstell, presidente do Instituto Talanoa.
O estudo não deixa dúvidas sobre as vantagens econômicas da descarbonização, ainda que precisem ser considerados esforços globais – e não só brasileiros – para conter a concentração de gases de efeito estufa na atmosfera. Em vez de uma perda de mais de R$ 17 trilhões, haverá uma oportunidade de crescimento do PIB nacional de R$ 6,7 trilhões até 2050, caso o aumento da temperatura média global fique bem abaixo de 2ºC, o que corresponde a uma alta de 57% no PIB no período e a geração de mais 1 milhão de empregos. “Haveria um excedente econômico em face à externalidade climática de R$ 268 bilhões ao ano, o que representa cerca de 5% do orçamento total da União em 2050”, afirma o estudo.
Os empregos proporcionados por uma ação climática mais forte seriam gerados sobretudo nos setores florestal e agropecuário, justamente nas regiões mais afetadas pela inação climática: Centro-Oeste, Norte e Nordeste.
Os impactos do agravamento da crise climática são classificados de “severos” sobre a economia nacional, com aumento das desigualdades regionais e deterioração das seguranças alimentar, energética e hídrica, além da socioeconômica.
Como região potencialmente mais afetada, o Centro-Oeste perderia 126% do PIB projetado para 2050. A perda seria imposta pela perda de produtividade agrícola provocada por secas mais frequentes e intensas, com impacto também na perda de postos de trabalho. A dificuldade de acesso à água igualmente levaria ao aumento do preço dos alimentos.
O setor da economia brasileira que mais emite gases de efeito estufa, a agropecuária, é o que mais perde em cenário de maior aquecimento global. Os maiores produtores de soja (Mato Grosso, Paraná, Rio Grande do Sul e Goiás) teriam uma queda de produtividade entre 16% e 29% até 2050, projeta o estudo. “O montante de produção perdida equivaleria a 30 milhões de toneladas, que foi a produção total contabilizada na Argentina, terceiro maior produtor do grão em nível mundial atrás do Brasil e dos EUA”, compara o estudo.
Além da soja, principal commodity agrícola de exportação do Brasil (neste ano atrás do petróleo e do minério de ferro), a cana de açúcar também registraria perda de produtividade, com impacto na produção de biocombustíveis, diz o estudo.
“Se ainda faltavam argumentos favoráveis à ação climática, o chamado “custo de inação” para a economia brasileira não deixa margem a dúvidas. E é importante que o planejamento de longo prazo no Brasil dê prioridade aos impactos das mudanças climáticas”, comenta Marta Salomon, especialista sênior em políticas climáticas no Instituto Talanoa.