COP30 – Dia 5: Avanços na transição justa e compromissos para acelerar a energia limpa
- COP30
- 14 de novembro de 2025
(O conteúdo que você vai ler a seguir é feito totalmente por humanos, e para humanos)
O quinto dia da COP30, em Belém, foi marcado por importantes anúncios e articulações políticas voltadas à transição justa, expansão das energias renováveis e fortalecimento das cadeias globais de combustíveis sustentáveis. As discussões avançaram na construção de compromissos multilaterais e definiram prioridades para acelerar a implementação ainda nesta década.
Entre as ações nesse sentido, 23 países assinaram o Compromisso de Belém, que busca quadruplicar a produção e o uso de combustíveis sustentáveis. O tema foi amplamente discutido no encontro do Clean Energy Ministerial, que destacou a necessidade de cooperação tecnológica e regulatória entre os países. Segundo Bruna Cerqueira, coordenadora-geral da Agenda de Ação da COP30, a inclusão do tema “combustíveis sustentáveis” nas discussões oficiais é inédita: “em outras COPs, esse assunto não fazia parte da agenda”, disse. Ela ressaltou que a proposta brasileira foi muito bem recebida e que a estratégia deverá ganhar escala a partir de agora. Sobre a expansão do 4xBio, Bruna afirmou que a iniciativa deve atrair novos governos por meio de instrumentos que atendam às necessidades regionais — desde diagnósticos de emissões até infraestrutura e medidas de comércio.
Outro destaque foi a publicação da Belem Declaration on Global Green Industrialization, que reforça a necessidade de acelerar a industrialização verde global. A declaração também retomou a discussão sobre o futuro da energia no transporte marítimo, um dos setores mais difíceis de descarbonizar.
Redes Verdes e Armazenamento
O High-Level Ministerial on Green Grids and Storage, organizado junto à Global Renewables Alliance, deve resultar ainda hoje em novos compromissos. O debate destacou que a expansão da rede e do armazenamento é essencial para integrar energias renováveis em larga escala.
A UNEZA apresentou números expressivos: 130 GW de capacidade de armazenamento instalados apenas em 2024, volume três vezes superior ao necessário para suprir toda a demanda energética do Reino Unido. A entidade anunciou ainda a intenção de mobilizar US$ 1 trilhão até 2030 para ampliar o setor.
Apesar dos avanços, a UNEZA apontou desigualdades: a maior parte dos investimentos está concentrada na Ásia, Europa e América do Norte. Essa distribuição, considerada injusta, precisa ser corrigida com novos mecanismos financeiros que atraiam recursos para outras regiões do mundo. A organização também se comprometeu a divulgar relatórios frequentes sobre investimentos.
Durante as discussões, Alistair Phillips-Davies, representante da UNEZA, foi questionado sobre a importância de uma decisão política em Belém sobre o TAFF. Ele foi categórico ao afirmar que o setor privado precisa de direções políticas claras e imediatas. Para ele, deixar o mercado resolver sozinho seria ineficaz, já que as cadeias de suprimento levam muitos anos para serem implementadas. Mesmo com definições tomadas hoje, o funcionamento pleno levaria ao menos uma década.
UE propõe mecanismo mais brando
Nas disputas negociais mais quentes no momento está o Programa de Trabalho em Transição Justa (JTWP). Os países em desenvolvimento pediam a criação de um mecanismo institucional robusto, multicritério e multinível para direcionar financiamento e criar monitoramento de implementação. Esse vem sendo puxado pela sociedade civil mundial como o “Belem Action Mechanism”. Entretanto, a União Europeia, devida pagadora de financiamento climático, foi contrária: propôs um mecanismo mais brando, não tão claro quanto a implementação, chamado de “Plano de Ação para a Transição Justa”.
Ainda, nesta mesma linha de negociação, entrou parágrafos que decidem sobre o abandono gradual de combustíveis fósseis e mesmo sobre subsídios perniciosos aos combustíveis fósseis, que não sejam para aliviar a pobreza energética.Dada a pressão colocada para que a COP30 tenha uma decisão de alto nível sobre a transição energética limpa e justa, é importante monitorarmos como esse texto ficará daqui para frente.
Mais um leilão da EcoInvest
Mal lançou o 3° e o Brasil já anunciou, nesta sexta-feira, o 4° Leilão do Programa EcoInvest Brasil. Segundo o Ministério da Fazenda, dessa vez o foco é levantar recursos privados para fortalecimento da bioeconomia e da infraestrutura para Turismo, entrelaçados, no bioma Amazônia.
Faz parte do objeto dessa etapa do leilão a busca por investimentos privados para infraestruturas habilitantes (condições básicas como geração de energia renovável distribuída, internet banda larga, gestão de resíduos) e finalísticas (portos, transporte fluvial etc).
O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), parceiro do governo brasileiro na iniciativa, tem reiterado que sua participação em mecanismos financeiros para clima, por sua reputação (“triplo A”), pode colaborar para a redução do risco cambial, ganho de segurança e, assim, atração do setor privado.
Vale recordar: desde o lançamento do Programa EcoInvest até agora, foram captados via leilões:
1° leilão: R$ 13,7 bilhões, para energias renováveis;
2° leilão: R$ 5,5 bi, para recuperação de áreas degradadas (foco no Cerrado);
3° leilão: em andamento, recentemente lançado, para equity.
Protesto indígena bloqueia entrada da COP
Na manhã de sexta-feira, lideranças Munduruku, mobilizadas pelo Movimento Ipereg Ayu, realizaram um bloqueio no acesso principal à Zona Azul da COP30, em Belém. A ação levou ao reforço da segurança e à reorganização do fluxo de entrada, obrigando delegados e participantes a utilizarem uma via alternativa.
Após a manifestação, o grupo foi recebido pelo presidente da Conferência, André Corrêa do Lago, e pela ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara. As lideranças reivindicam uma reunião direta com o presidente Lula, a revogação do Decreto nº 12.600/2025 e garantias de proteção frente a grandes empreendimentos em seus territórios.O Decreto nº 12.600/2025 é visto por muitos povos indígenas e por entidades da sociedade civil como uma ameaça significativa à sua autonomia, modo de vida tradicional e integridade ambiental.
No final da tarde de sexta-feira, o presidente Lula anunciou a demarcação de duas terras indígenas (TI) Munduruku, um sinal de segurança territorial pleiteada mais cedo.
Já são 115 NDCs
Na coletiva de imprensa do Dia 5 da COP, a diretora-executiva da COP30, Ana Toni, anunciou que são 115 as NDCs entregues até agora. Além de jornalistas, também estavam na sala observadores da sociedade civil, que responderam com palmas ao anúncio de Ana Toni com os números atualizados sobre as submissões dos planos climáticos dos países.
Balanço Global
As negociações sobre o escopo e os elementos pendentes do Diálogo dos Emirados Árabes Unidos (UAE Dialogue) sobre a implementação do Primeiro Balanço Global do Acordo de Paris (GSTI) avançaram ligeiramente nesta sexta-feira, após a apresentação de uma proposta-ponte pelo bloco político da Aliança Independente da América Latina e do Caribe (AILAC), embora seu conteúdo final ainda não esteja claro. Não se observaram mudanças substanciais de posicionamento desde Bonn, e Índia, Arábia Saudita, Qatar e China continuaram a bloquear qualquer avanço em direção a um diálogo com resultados acionáveis e monitoráveis, principalmente sobre o abandono do uso de combustíveis fósseis.
Persistem divergências significativas quanto aos resultados esperados, formato e cronograma, em linha com o impasse observado no GST2, levando o tema à esfera ministerial. A depender das consultas conduzidas pela Presidência, o futuro do UAE Dialogue permanece aberto: caso as discussões de financiamento encontrem outro canal ou sejam realocadas, o mecanismo pode ser preservado; alternativamente, pode-se atribuir ao UAE Dialogue o papel de abrigar a agenda de financiamento, enquanto mitigação e 1,5°C seriam tratadas em outro espaço.
Negociações emperradas no GGA
Sexta-feira, a sessão do GGA (lista de indicadores de adaptação) foi estendida para duas horas, refletindo o esforço para avançar nas negociações. Ao contrário do dia anterior, os delegados passaram boa parte do tempo buscando consensos, inclusive sobre a própria estrutura e títulos do texto. O progresso foi lento, especialmente nos parágrafos 27 e 29, onde países apontaram sobreposição de ideias, confusão conceitual e excesso de colchetes.
No parágrafo 27, sobre enabling conditions, houve forte divisão: países em desenvolvimento defenderam sua exclusão por considerarem o texto redundante e pouco claro, enquanto desenvolvidos insistiram em mantê-lo para reforçar que NAPs dependem de condições habilitadoras além de financiamento.
Já no parágrafo 29, sobre mainstreaming, delegações destacaram falta de clareza e duplicações na forma como a integração da adaptação no planejamento nacional está apresentada.
De modo geral, LMDCs, AGN, LDCs e Grupo Sur pressionam por um texto mais enxuto e simplificado, com eliminação de títulos e redução significativa no parágrafo 27. Em contraposição, UE, Austrália, Canadá e Japão defendem manter referências mais amplas e estruturais — incluindo elementos institucionais, MEL e governança.
Alerta dos cientistas na COP30
O orçamento de carbono para limitar o aquecimento a 1,5°C está quase esgotado, e as emissões seguem crescendo: em 2025 devem ser 1,1% maiores que em 2024, o que deixará apenas quatro anos antes de ultrapassar o limite.
Cada 0,1°C adicional aumenta drasticamente riscos como ondas de calor, incêndios e extremos climáticos, afetando sobretudo comunidades vulneráveis. Estes estudos foram apresentados na tarde do Dia 5 da COP30, na Zona Azul. Entre os cientistas da coalizão Ciência Planetária estão os brasileiros Carlos Nobre e Marina Hirota.
Frase
“É impossível fazermos as temperaturas pararem de subir, e de retornamos ao 1.5C, sem abandonarmos de maneira rápida o uso dos combustíveis fósseis. É física!.”
Grupo de cientistas liderados pelo sueco Johan Rockstrom, o brasileiro Carlos Nobre, a brasileira Marina Hirota, entre outros, em mensagem da coalizão Ciência Planetária, na tarde de sexta-feira.
Céu iluminado em Belém
Na noite de quinta-feira, o céu de Belém foi iluminado por centenas de porangas, lamparina tradicional utilizada por seringueiros na floresta amazônica, feita a partir de latas de óleo e funcionando com querosene. Chamado de “Porangaço dos Povos da Floresta”, o evento paralelo à COP30 reuniu lideranças extrativistas e apoiadores.
Tacacá do dia
O Brasil, que se comprometeu a erradicar o desmatamento até 2030, colocou a proteção da floresta no centro das discussões da COP30. Essa é uma das razões desse personagem mitológico de origem tupi-guarani ser o mascote da Conferência. O protetor das florestas está fazendo o maior sucesso em Belém.
Na quarta-feira (12), um painel que discutiu o futuro das cidades – incluindo Belém – quando o assunto é Adaptação Climática teve a participação do economista Sérgio Margulis e do especialista em Políticas Climáticas do Instituto Talanoa Wendell Andrade, entre outros convidados. A realização foi do Instituto Internacional para a Sustentabilidade (IIS).
Assista ao painel, na íntegra:
https://www.youtube.com/live/fxqtN8dmgJ8?si=A3roEHOEkrPB-XQO
Painel discute Resiliência e Adaptação
Em evento organizado pela Talanoa, lideranças políticas de Vanuatu, Uganda, Dinamarca e Brasil discutiriam a implementação de políticas de adaptação e resiliência. O evento aconteceu na Zona Azul.
Eventos Talanoa na COP
| DATA | EVENTO | LOCAL | HORÁRIO | PARCEIROS ORGANIZADORES |
| 15/11/2025 | Evento ministerial de alto-nível – Energy Transition Council | Side Event Room 2 | 14:30 – 16:00 | E3G, ETC, Presidência COP30 |
| 20/11/2025 | Landing the GGA on territories: from global goals to local realities in Latin America and the Caribbean | Regional Climate Pavilion | 11:15 – 12:15 | Palmares, Talanoa, Decodifica |
| 20/11/2025 | Painel Mudanças Climáticas | Casa Vozes do Oceano | 15:30 – 19:00 |