Cúpula do Clima: o que esperar da reunião dos líderes mundiais em Belém
- COP30
- 6 de novembro de 2025
(O conteúdo que você vai ler a seguir é feito totalmente por humanos, e para humanos)
Como uma entrada que antecede o prato principal, a Cúpula do Clima (Leader Summit, em inglês) foi planejada para os dias 6 e 7 de novembro. O evento ocorre a um fim de semana do início oficial da aguardada COP30, a Conferência das Partes da UNFCCC, realizada sob a presidência brasileira em Belém, na Amazônia, maior floresta tropical do mundo.
São muitos os motivos para que esse momento seja histórico. A expectativa está acumulada desde novembro de 2022, quando, ainda na condição de presidente eleito, Lula anunciou no Egito, durante a COP27, a intenção de o Brasil sediar a COP30, já apontando Belém como o ponto do encontro global. Perto de ultrapassar o limite de aquecimento de 1,5º C, estamos no país que oscila diante de seus dilemas internos e ambiguidades que adiam a possibilidade de liderança global na agenda climática.
Nesta semana que antecede as negociações no Parque da Cidade, os aviões que pousam na terra do tacacá trazem os porta-vozes do maior nível de poder e decisão política do mundo. Os chefes de Estado e de Governo de 57 nações, ministros e representantes de organismos internacionais se reúnem para discutir o problema da emergência climática e a solução que a transição justa e a conservação das florestas oferece. Por meio das delegações presentes na Cúpula, estarão representados 143 países.
Na sala que reunirá os homens – e algumas poucas mulheres – mais poderosos do planeta, serão colocados temas estratégicos e prioritários, que vão resultar em declarações assinadas pelo grupo. Destaque da Cúpula, o Brasil fará o lançamento do Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), com uma declaração conjunta. O encontro também será marcado por uma série de sessões temáticas conduzidas pelo presidente do Brasil, que assinar a Declaração sobre Fome, Pobreza e Ação Climática Centrada no Ser Humano e uma outros documentos declaratórios que firmam compromissos em diferentes áreas:
- Compromisso de Belém pelos Combustíveis Sustentáveis;
- Declaração de Belém sobre o Combate ao Racismo Ambiental;
- Declaração da Coalizão Aberta sobre Mercados de Carbono em Conformidade e
- Lançamento do Fórum Integrado sobre Mudanças Climáticas e Comércio.
Também é aguardada uma longa lista de discursos presidenciais, com sinais políticos claros e fortes, que ajudem a dar o tom das negociações que começam no dia 10. A Plenária Geral dos Líderes deve se estender ao longo dos dois dias de Leader Summit, com breves falas dos chefes de delegação.
Adaptação fora de foco
Na programação prevista para o encontro, é notável a ausência do debate sobre Adaptação Climática – tema anunciado como prioritário pela Presidência da COP30. A agenda só foi mencionada de maneira superficial no tópico sobre oceanos de uma sessão denominada “Clima e Natureza: Florestas e Oceanos”, que será conduzida pelo presidente Lula. Caberá a ele surpreender neste e em outros momentos trazendo a urgência da adaptação para o discurso que pode ecoar pelo mundo e pautar o tema com a devida relevância, convocando os grandes líderes globais a agirem na mesma direção.
TFFF: dinheiro para salvar a floresta
O Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, na sigla em inglês) deve trazer novidades já no primeiro dia de encontro. Iniciativa encampada pelo Brasil, o fundo é um mecanismo inovador concebido para criar incentivos econômicos genuínos para a conservação das florestas tropicais e busca atrair investimentos de diversas ordens e origens (blended finance) para financiar países que abrigam florestas tropicais – como a Amazônia brasileira. “O TFFF vem para fortalecer o apoio à conservação florestal por meio de um mecanismo inovador, um mecanismo de mercado que não é empréstimo, o que evita um endividamento dos países em desenvolvimento. Vemos isso com muito bons olhos”, avalia Marta Salomon, analista sênior da Talanoa que vai acompanhar presencialmente a Cúpula do Clima em Belém.
Florestas permanecem economicamente subvalorizadas (o que mostramos neste Tá Lá no Gráfico sobre TFFF). O lançamento do TFFF durante a Cúpula do Clima será um marco de capitalização do fundo. A meta é atrair US$ 25 bilhões de investidores soberanos – que não necessariamente serão atingidos em Belém. A previsão é de que outros US$ 100 bilhões devem vir do setor privado. “O TFFF mobilizará recursos públicos para alavancar capital privado. Esses fundos constituirão um patrimônio permanente, investido para gerar retornos sustentáveis”, diz a nota conceitual da Cúpula.
Os primeiros anúncios devem ser feitos durante o almoço de lançamento do “Fundo Florestas Tropicais para Sempre” (TFFF), que reunirá países florestais tropicais e investidores nesta quinta-feira (6). O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, e o presidente do Banco Mundial, Ajay Banga, devem participar do ato, quando será firmada a Declaração de Lançamento do TFFF, em sinal de apoio político à iniciativa.
Sessões temáticas presididas pelo Presidente Lula
Clima e Natureza: Florestas e Oceanos
O evento também vai convidar os líderes a refletirem e anunciarem compromissos concretos em torno de quatro pilares de cooperação: financiamento florestal; resiliência a incêndios florestais; direitos de posse de terras dos povos indígenas e comunidades locais; e financiamento azul para ação climática e oceânica. Nesta sessão, TFFF volta a ser tema, inclusive no debate sobre reconhecimento e proteção dos povos indígenas a partir de mecanismos financeiros. Também será discutido mercado de carbono e REDD+, além de um Chamado à Ação sobre Manejo Integrado do Fogo.
Ainda nesta sessão, e apenas nela, a agenda de adaptação será abordada quando as lideranças discutirem oceanos, reafirmando que a conservação e a restauração dos ecossistemas marinhos e costeiros são essenciais para atingir a meta de 1,5 °C e fortalecer a capacidade de adaptação. Na perspectiva mais otimista, líderes globais – a começar pelo presidente Lula – deverão trazer falas mais enfáticas que contemplem a urgência e a transversalidade de adaptação, para além da agenda de Oceanos, lembrando de todas as áreas da economia e da gestão da vida social.
Transição Energética
A sessão temática sobre transição energética vai abordar a necessidade de ampliar o uso de combustíveis sustentáveis para reduzir a demanda por combustíveis fósseis, em complemento à eletrificação; o papel das redes e do armazenamento como parte essencial para atingir a meta de triplicar a capacidade de energia renovável globalmente e dobrar a taxa média anual global de melhorias na eficiência energética até 2030; e a necessidade urgente de combater a pobreza e a injustiça energética, com foco em combustíveis limpos para cozinhar. Haverá assinatura do Compromisso Belém 4X sobre Combustíveis Sustentáveis.
A nota conceitual traz que as transições energéticas estão impulsionando o crescimento econômico e criando oportunidades — embora de forma desigual e, em alguns casos, certamente em um ritmo insuficiente. Isso é particularmente verdadeiro para os países mais vulneráveis às mudanças climáticas.
Dez anos do Acordo de Paris: NDCs e Financiamento
A defesa do regime multilateral terá espaço na terceira e última sessão, agendada para sexta-feira, 7. “Em última análise, o sucesso da COP30 será medido pela sua capacidade de fortalecer o multilateralismo, acelerar a implementação e conectar a ação climática à vida real”, diz a nota conceitual enquanto conecta a renovação dos compromissos assumidos em Paris com as lacunas deixadas pela ausência ou baixa ambição das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs, na sigla em inglês). “À medida que os países apresentam novos planos de transição climática, incluindo as contribuições nacionalmente determinadas e os planos nacionais de adaptação, os líderes devem estar à altura da situação e responder à forma como os nossos esforços coletivos prometem efetivamente à humanidade um futuro seguro, próspero e sustentável. Longe de representarem meras metas climáticas para 2035, as nossas NDCs representam a visão do nosso futuro partilhado e os veículos de cooperação”, afirma o documento brasileiro.
A intenção desta sessão é oferecer aos líderes mundiais um espaço para um debate global sobre como a comunidade internacional responderá à urgência climática, “acelerando a implementação, a solidariedade e uma cooperação internacional ambiciosa, alicerçada no cumprimento dos compromissos de financiamento climático e no apoio alargado aos países em desenvolvimento”. Ao tratar de NDCs, Planos Nacionais de Adaptação (NAPs, na sigla em inglês) e financiamento, o presidente Lula terá uma nova oportunidade para falar de adaptação – seja para discutir a importância dos planos nacionais, a contribuição dos indicadores do Objetivo Global em Adaptação (GGA, na sigla em inglês) neste alinhamento, quanto na defesa da superação da lacuna de financiamento de adaptação, que chega a Belém sem perspectivas de continuidade depois de Glasgow.
O presidente Lula também lançará um Chamado à Ação Climática, para tratar das falhas na implementação do regime internacional do clima e levantar soluções para superação do desafio.