(Des)Caminho das Índias

(O conteúdo que você vai ler a seguir é feito totalmente por humanos, e para humanos)

Liderado pelo Vice-Presidente da República e Ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin, o governo brasileiro aterrissou em missão comercial na Índia. Entre os itens da pauta, a exportação de petróleo. Na ocasião, a Petrobras fechou contrato de venda de 6 milhões de barris com aquele país, para, a princípio, 1 ano de fornecimento. Aparentemente, a ampliação da pauta de exportações do país desconhece diretrizes pró-clima. 

Mas não para por aí. Em pronunciamento, Alckmin revelou movimento ainda mais preocupante para um país que precisa parar de desentranhar fósseis das profundezas se quiser realmente ser um exemplo em transição energética: a Petrobras deverá lançar 18 novos blocos de exploração de petróleo em alto mar (offshore) ao longo de 2026. Justamente na mesma semana em que o cientista brasileiro Carlos Nobre foi ao Programa Roda Viva e relembrou que, para a Humanidade manter-se dentro do limite de 1,5ºC de elevação da temperatura média do planeta em relação ao que tinha antes da Revolução Industrial, os poços de petróleo já abertos deveriam deixar de ser explorados. Não deixaram. E vêm novos por aí.

Um pouco de contexto: tida como uma economia em franca ascensão e que pode vir a ser “a nova China” dentro de alguns anos, a Índia é atualmente um dos países cuja demanda por energia mais cresce nos últimos anos. Acontece que o país tem sido constantemente pressionado pelos EUA a reduzir a compra de petróleo da Rússia, atualmente seu principal fornecedor. Dessa forma, o contrato fechado entre o governo indiano e a Petrobras pode indicar o início de uma reformulação da lista de fornecedores de energia fóssil para o país. Assim como o contrato fechado essa semana com a Petrobras, outros adiante podem ser firmados. A aliança formada pelos BRICS – do qual Brasil e Índia são membros fundadores – além do fato de que são países que não estão imersos em guerras declaradas (diferentemente da Rússia), pode colaborar. 

A Índia é o terceiro maior emissor do planeta e, segundo a Agência Internacional de Energia (IEA), sua matriz de suprimento energético ainda é 77% baseada em fontes sujas. As grandes quantidades de petróleo russo – e, agora, brasileiro – importadas indicam que a transição energética indiana não parece que vá pisar no acelerador tão cedo. 

Buscar transição energética dentro de casa, enquanto exporta energia suja para clientes mundo afora, não vai fazer diferença na conta final da missão de conter a desordem climática no planeta.

Equipe Editorial (Liuca Yonaha, Marta Salomon, Melissa Aragão, Ester Athanásio, Marco Vergotti, Renato Tanigawa, Taciana Stec, Wendell Andrade, Daniel Porcel, Caio Victor Vieira, Beatriz Calmon, Rayandra Araújo e Daniela Swiatek).

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