(O conteúdo que você vai ler a seguir é feito totalmente por humanos, e para humanos)
Um evento virtual realizado nesta semana marcou o início de uma nova etapa no Plano Clima do Brasil. O governo federal apresentou a chamada Estratégia Transversal de Meios de Implementação (ETMI), que trata de temas de suporte à política pública. A mensagem é clara: não basta só se preocupar com as metas de mitigação e adaptação. Para fazer a Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) do Brasil até 2035 “chegar lá”, importa garantir os instrumentos que tornem mitigação e adaptação uma realidade presente no cotidiano do país. É aí que entram os chamados Meios de Implementação, parte (não o todo) do pacote de instrumentos necessários para que os 23 planos setoriais (16 de adaptação e 7 de mitigação) tenham condições de efetividade.
Entre vários informes, o governo pontuou que a ETMI será apresentada para consulta pública, na íntegra, durante a COP30. Contudo, o time da Política por Inteiro compreende que, dada a explícita relevância da Estratégia, é preciso pensar sobre ela desde já.
O Ministério da Fazenda (MF) – que juntamente com o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) conduz a elaboração da Estratégia – ressaltou que os intentos da ETMI extrapolam o Plano Clima, e favorecem a implementação de um conjunto de políticas centrais no país. Esse conjunto é encabeçado pelo Plano de Transformação Ecológica (PTE), que abrange programas que vão de neoindustrialização à renovação do setor agropecuário, passando por uma revolução no setor de energia e até por uma visão de desenvolvimento nacional de longo prazo. A ETMI é, dessa forma, bem mais do que uma “subcaixa” no 4º ou 5º nível de um organograma de política. Fosse no futebol, a ETMI é o atleta que “gera jogo”.
Se bem concebida, a ETMI deve criar as condições necessárias para cinco grandes desafios do Plano Clima, todos habitué nas análises da Política por Inteiro ao longo dos últimos anos: transição energética, restauro da vegetação nativa, desincentivo ao “desmatamento legal” (que também atende pelos apelido de supressão), descarbonização do setor agropecuário, e claro: adaptação aos efeitos da mudança do clima nas cidades brasileiras.
O que todos esses assuntos guardam em comum? Bem, nenhum sairá do papel sem… financiamento.
E aí chegamos no que foi o ponto alto do webinar: a ETMI tem, no tema financiamento, seu principal e mais robusto esteio. Quem acompanhou o evento certamente captou duas notícias, uma boa e uma má: começando pela pior, há uma lacuna imensa para investimentos em clima, tanto no Brasil, quanto no exterior. Ou seja, há carências para as quais os atuais fluxos financeiros passam longe de dar conta. Já a boa notícia é que o dinheiro para fazer dar conta já existe. Boa parte dele está zanzando por aí, por vezes até em aplicações deletérias ao clima (confere, OTAN?!), e precisa, portanto, ser redirecionado.
Financiamento pode vir de várias formas: empréstimos tradicionais, empréstimos concessionais (aqueles com condições facilitadas), fundos (de todas as formas), títulos da dívida, garantias, orçamento público e até mecanismos de perdão de dívida (debt swap), o que o Brasil, por exemplo, aprimorou em janeiro, com a previsão legal para que abatimentos de dívidas dos estados com a União ocorram com investimentos estaduais em adaptação climática. É por isso que falamos em “estratégia”: são múltiplos instrumentos que precisam funcionar de maneira coordenada para cobrir diferentes atores e realidades, em diferentes condições e épocas. É complexo, mas necessário.
Ademais, o caminho é longo: o dinheiro para o enfrentamento à mudança do clima ainda é pequeno. Menor ainda o direcionado para adaptação. Dados da Climate Policy Initiative (CPI), apresentados pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) durante o evento, apontaram que 93% do dinheiro carimbado para clima no mundo tem ido para mitigação (no Brasil, esse percentual é de 80%), relegando adaptação a planos secundários. Pegando carona no bom sinal trazido pela análise do Fundo Clima feita pela Política por Inteiro, nesta semana – o de que adaptação começa a ser observada por esse fundo – a gente reforça: o dinheiro para adaptar os sistemas de vida e as cidades no Brasil e no mundo precisa com urgência de maiores aportes. Adaptação não “acontece depois”. É simultânea e joga junto à mitigação, à la Bebeto e Romário, Pelé e Garrincha.
Nem só de financiamento vive a ETMI. Ela também centra atenções em aspectos regulatórios, tópico em que cabe muita coisa, a exemplo de regulamentações iminentes como a Taxonomia Sustentável Brasileira (TSB), o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE) e até itens da Reforma Tributária em curso. É um pacote de tópicos que também demanda atenção especial, considerando que, na Praça dos Três Poderes, há quem tenha desviado da política climática em 180º.
Em termos de governança, pontos positivos e outros nem tanto. Um dos positivos vem da relevante dobradinha entre MMA e MF, que, a bem da verdade, tem funcionado desde o início do governo. Não por acaso, a ETMI conta justamente com essa dupla liderança em sua condução. Para a agenda climática, o MF é ator estratégico para que o governo consiga alinhamentos regulatórios, captações em mercado (vide EcoInvest), desenho de mecanismos financeiros inovadores (vide TFFF), e tantos outros temas estruturantes para clima a médio e longo prazos no Brasil.
No entanto, nem tudo são flores. O evento sobre a ETMI também ligou alertas sobre governança, e um deles é velho conhecido de quem atua na área climática: a acentuada dependência que toda a engrenagem de política climática tem em relação ao MMA. Algum protagonismo é naturalmente inevitável, mas o risco de uma carga excessiva na pasta atualmente ocupada pela ministra Marina Silva pode significar engasgos futuros ao plano, que não pode correr o risco de ser tido como algo “do pessoal do meio ambiente”. É um filme a que já assistimos noutros carnavais.
Transversalidade pressupõe diálogos azeitados entre pastas e que, felizmente, vem progredindo no atual mandato, mas… Sabe quando algo parece faltar? Pois é. É outro filme do passado que não pode se repetir: com ministérios em mesmo nível hierárquico, visões de mundo e prioridades bastante heterogêneas dentro de um mesmo governo, transversalidade precisa também de um “toque superior”, que poderia vir, por exemplo, de um maior e mais positivo envolvimento da Casa Civil e da Secretaria de Relações Institucionais na agenda climática.
Já trouxemos esse olhar outras vezes e não custa reiterar: embora digno de reconhecimento o espraiamento da agenda climática nacional em progresso na Esplanada dos Ministérios, desde 2023, as lacunas desse processo recente ainda são evidentes. Para que o Plano Clima e seus instrumentos setoriais não fiquem à mercê de ventos circunstanciais, institucionalidade forte e governança contagiante são atributos indispensáveis, e é difícil enxergar como isso aconteceria sem que a pauta climática esteja no centro da mesa dos chamados “ministérios palacianos”. Afinal, não se trata de um tiro curto: o Plano Clima atualmente em concepção tem horizonte temporal até 2035. Quanto mais relevante for o tema no núcleo de governo pra já, mais rápido e consistente tende a ser o caminhar da política climática nacional.
Nesse contexto, a ETMI precisa de atenção especial. Afinal, sem os meios, os fins perdem direção e fôlego. Isso é especialmente sensível quando tratamos de temas que definem a economia e o desenvolvimento nacionais. Além de maestria para orquestrar a convergência de tantos setores, o Plano Clima ainda precisa ser hábil para lidar com o aspecto multinível da federação, marcado por profundas desigualdades regionais e diversidade de biomas, culturas e forças políticas.
A muitas mãos, o quebra-cabeças da agenda climática nacional vai sendo montado.
Faltam 83 dias para a COP30.
Boa leitura!
TÁ LÁ NO GRÁFICO
Vivemos a era da revolução da Inteligência Artificial. Na última década, essa tecnologia deixou de ser uma miragem futurista para entrar em nosso dia a dia, utilizada em diferentes setores da economia e também em tarefas cotidianas. A arquitetura e os algoritmos que sustentam essas soluções necessitam de máquinas com grandes capacidades de processamento, que requerem energia para rodar e água para serem mantidas resfriadas. Por isso, a popularização da IA traz também um grande desafio climático e socioambiental, é o que conta o Tá Lá no Gráfico desta semana.
FRASE DA SEMANA
“Se nossa floresta estiver saudável, a região também estará e haverá um futuro promissor não apenas para o continente, mas para o resto do mundo.“
Celinda Lunda, Ministra das Relações Exteriores da Bolívia, durante Reunião Extraordinária de Ministros das Relações Exteriores da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) realizada em Bogotá, na Colômbia. Foto: Reprodução/cancilleria.gob.bo
ABC DO CLIMA
Climate Weeks: expressão em inglês para Semanas do Clima, encontros regionais que conectam líderes, especialistas e a sociedade civil para tratar sobre soluções para a crise climática. “Abraçadas” pelo Secretariado da Convenção sobre Mudança do Clima das Nações Unidas (UNFCCC), as Semanas buscam influenciar as tomadas de decisão política e fazê-las aterrissar no mundo real, para que ações concretas deem impulso às COP. Dois destaques que fazem parte das Semanas são o Fórum de Implementação e os Laboratórios de Implementação, formados por sessões interativas que buscam dialogar sobre resolução de problemas e promover ações climáticas colaborativas.
Na prática, essas semanas costumam acontecer todos os anos em quatro regiões: África (ACW), Oriente Médio e Norte da África (MENACW), América Latina e Caribe (LACCW) e Ásia-Pacífico (APCW), mas não existe uma regra fixa, e os formatos podem variar, acontecendo em um ano apenas em três regiões (em 2022) ou quatro (em 2023). Quando a UNFCCC não consegue financiar ou organizar a semana oficial, outras organizações, cidades e associações empresariais produzem versões alternativas.
Um famoso exemplo é a NYC Climate Week, realizada na cidade de Nova York (EUA) em parceria com a Assembleia Geral das Nações Unidas, que reúne líderes globais, empresas e organizações para debater soluções climáticas inovadoras. Outro exemplo foi em 2024, após o cancelamento das semanas regionais oficiais em algumas regiões, surgiram versões alternativas como a Cape Town Climate Week, na Cidade do Cabo, África do Sul, e cúpulas climáticas em cidades da América Latina e da região Ásia-Pacífico.
(Fontes: UNFCCC e The Climate Group)
MONITOR DE ATOS PÚBLICOS
Nosso Monitor de Atos Públicos captou 10 atos relevantes para a política climática nesta semana. O tema que mais apareceu foi Finanças, com 4 atos. Já a classe mais recorrente foi Planejamento, com 4 normas, incluindo a criação de 2 Grupos de Trabalho, o GT-Restaura, responsável pela agenda institucional de Recuperação da Vegetação Nativa e o GT que vai desenhar a Estratégia Nacional para a Conservação, Restauração, Uso Sustentável e Repartição de Benefícios dos Campos Naturais Brasileiros.
BR-319 vai adiante, mas com critérios
Na quarta-feira (20), Casa Civil e Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), via portaria, deram o direcionamento para o chamado Plano de Ação para o Fortalecimento da Gestão Socioambiental da BR-319. É… Vai sair.
Além de uma Comissão com sete Ministérios e um Comitê liderado pela Casa Civil, a norma estabelece que o “Plano BR-319” será embasado em ações de governança socioambiental tratadas como emergenciais, além de uma Avaliação Ambiental Estratégica sobre a rodovia (algo pelo que a ministra Marina Silva sempre advogou), de modo a se ter claros os riscos e as medidas a tomar para gerenciá-los.
Uma faixa de 50 Km de cada margem da rodovia é a principal “área de preocupação” do governo federal, que na norma se compromete a buscar articulação com entes subnacionais e parcerias com privados para evitar que as melhorias realizadas na BR-319 sejam vetores de aumento das emissões por desmatamento, degradação e perda de biodiversidade.
Quanto menor a ambição climática, mais curto o cobertor
Na terça-feira (19), uma portaria do Ministério do Planejamento e Orçamento (MPO) determinou a abertura de crédito orçamentário no valor de R$ 315 milhões para gestão de riscos e desastres no país.
Esse “reforço de caixa” vai para o Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR), que deve aplicá-lo tanto para reduzir riscos, quanto para a remediação de desastres. O ideal é que o primeiro minimize o segundo.
Acontece que, na legislação brasileira, um crédito extraordinário serve para atendimento a despesas imprevisíveis e urgentes, dois atributos que dialogam diretamente com a mudança do clima. Sem que o Brasil mostre um caminho claro de fazer sua matriz energética depender cada vez menos de fontes fósseis – que intensificam a mudança do clima – e planeje e inicie sua rota para zerar emissões e se adaptar a um planeta de clima mais instável, normas como a de hoje serão ainda mais frequentes. A urgência vai aumentar.
Consideramos esse assunto caro a ponto de mergulhar em uma análise específica em nosso blog. Confira.
Um refresh nas prioridades dos fundos constitucionais
Uma portaria do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR) acrescentou prioridades que combinam com a política climática. A norma passa a incluir, dentre as prioridades de investimento de Fundos Constitucionais, projetos alinhados ao Plano de Transformação Ecológica (PTE), Nova Indústria Brasil (NIB), ou que tenham recebido recursos do Programa EcoInvest Brasil. Trata-se de uma alteração de uma portaria regulamentadora de 2023.
Banco Central atualiza norma importante
Nesta semana, o Banco Central do Brasil (BCB) publicou uma atualização normativa que interessa à agenda climática nacional. Trata-se de uma resolução que conceitua e insere, dentre os tipos de crédito externo reconhecidos pelo Brasil, quatro modalidades que o atual governo tem buscado movimentar no mercado, desde 2023:
- Títulos Verdes;
- Títulos Sociais;
- Títulos de Sustentabilidade e
- Títulos Vinculados a Metas de Sustentabilidade (também conhecidos como Sustainability-Linked Bonds, ou SLB).
Nos últimos anos, a emissão de títulos vem se tornando uma estratégia em alta no mundo, e o Brasil a vê como válida para captar recursos que fortaleçam as políticas ambiental e climática no país. Diferentemente de empréstimos simples, o investimento feito por meio de títulos gera o compromisso de o Estado brasileiro perseguir metas ambientais, sociais, climáticas (e até de fortalecimento institucional para o alcance dessas metas) previamente pactuadas. Nessa lógica, os investidores também ganham, já que atrelam parte de suas carteiras a investimentos responsáveis com o clima.
A norma altera uma Resolução BCB de 2022, que regulamenta a Lei Federal nº. 14.286/2021, sobre investimento estrangeiro no país.
BRASIL
Presidência da COP30 publica 6ª carta e acelera ritmo dos anúncios
O embaixador André Corrêa do Lago publicou a Sexta Carta da Presidência da COP30, com intervalo de menos de uma semana da mensagem anterior. Desta vez, foram destacados os resultados de Bonn e discutido com maior detalhamento a agenda de negociações que será encaminhada em Belém. A carta busca conectar os trabalhos realizados em junho, na Alemanha, à próxima sessão dos SBs (SB63), que coincide com a COP30 e às Reuniões das Partes do Protocolo de Quioto (CMP20) e do Acordo de Paris (CMA7). De forma pragmática, o recado da presidência é de promoção de agilidade e convergência entre os negociadores, evitando inserção de novos itens e busca de consensos construtivos. No tom “sem tempo a perder”, ACL também cita com preocupação o atraso na entrega das NDCs. Leia a análise completa.
Propag pra ver
Perdeu a validade no último dia 22 a Medida Provisória que regulava o funcionamento do Propag, o Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados. Importa para o clima porque investimentos em adaptação climática, pelos estados, estão incluídos entre as medidas que valem como dedução de dívida perante a União.
A Lei Complementar nº. 212/2025, que em janeiro instituiu o Propag, segue valendo. No entanto, por enquanto a engrenagem fica capenga, por estar sem regulamentação que faça a lei funcionar.
Bola com o Congresso. Um decreto legislativo pode vir por aí.
Adaptação finalmente apareceu no Fundo Clima
O Boletim Mensal da Talanoa que monitora o Fundo Clima traz uma novidade: pela primeira vez em 2025, a agenda de adaptação apareceu, reunindo R$ 4 bilhões em projetos em análise no BNDES. Em um único mês, dez novas operações de financiamento da adaptação às mudanças climáticas a estados e municípios totalizaram R$ 2,9 bilhões. Os contratos que aguardam celebração somam R$ 1 bi. Desde 2023, apenas dois projetos de adaptação receberam investimentos do maior fundo climático brasileiro. O boletim de agosto completo e respectivos gráficos com detalhes da origem geográfica de cada projeto está disponível no blog da Política por Inteiro.
MUNDO
Espanha bate recorde de emissões
Dados do serviço climático europeu Copernicus trazem que a Espanha bateu em 2025, mesmo antes de o ano acabar, o recorde histórico de emissões anuais por incêndios florestais. Pelo menos desde 2003, quando se inicia a série histórica do observatório europeu, em nenhum ano o país emitiu tanto carbono por causa de fogo em vegetação.
Na Amazônia, chove todo dia, mas soberania não cai do céu
Na V Cúpula de Presidentes, os oito países amazônicos da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) consolidaram o processo iniciado com a Declaração de Belém (2023), renovando compromissos com a agenda amazônica e definindo ações estratégicas rumo à COP 30. A programação incluiu o Encontro Regional Amazônico, com ampla participação da sociedade civil, povos indígenas, comunidades tradicionais e academia.
Dois momentos merecem destaque: a reunião do Conselho de Cooperação Amazônica e a reunião de Ministros das Relações Exteriores, que avançaram nas bases da declaração final do encontro regional, chamada de Declaração de Bogotá. Como prelúdio da cúpula, os chanceleres aprovaram 20 resoluções fortalecendo a cooperação regional, com destaque para o combate ao desmatamento, a conservação da biodiversidade, a gestão integrada de bacias hidrográficas, o papel central dos povos indígenas na governança da floresta e a criação de mecanismos de financiamento inovadores para o desenvolvimento sustentável. O Brasil ressaltou a proposta do Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF) como instrumento de remuneração pela preservação. As resoluções aprovadas serviram de base para a Declaração de Bogotá, endossada finalmente na V Cúpula de Presidentes, nesta sexta-feira (22).
Também, ocorreu a reunião do Mecanismo Amazônico de Povos Indígenas (MAPI), reforçando a centralidade dos direitos e da participação indígena na governança territorial da Amazônia.
Para a diplomacia brasileira, o encontro é particularmente relevante, pois a OTCA, enquanto instância de poder regional ainda subexplorada, pode atuar como contraponto estratégico diante de pressões externas, incluindo as recentes retóricas bélicas dos EUA contra a Venezuela. O encontro reafirmou, simbolicamente, que a Amazônia não é apenas uma questão ambiental, mas sobretudo um eixo de soberania regional, no qual a cooperação pode fortalecer a autonomia política, encampar um processo de desenvolvimento sociobioeconômico e projetar a voz amazônica em um cenário geopolítico cada vez mais tenso.
As declarações sublinharam a urgência climática e a Amazônia como solução climática de proteção imediata. No entanto, não houve menções sobre o abandono de produção de petróleo e gás na região, pleito popular e da sociedade civil, reiterado pelos cientistas. Esse silêncio revela a tensão entre o discurso de liderança climática, o fortalecimento da autonomia indígena e a prática de expansão da exploração de petróleo pelos governos, inclusive o brasileiro e sua nova fronteira amazônica de exploração de petróleo.
O destruidor da floresta não é um inimigo externo, está dentro de casa derrubando a floresta para produzir petróleo, roubar madeira, garimpar minérios e abrigar a pecuária de corte. Combater intromissões externas é basilar e serve para integrar os Países, mas mais urgente é combater a destruição causada pelos próprios agentes domésticos.
Atualização: enquanto finalizávamos este Boletim, na noite de sexta-feira, 22, veio a público a Declaração de Bogotá, assinada pelos representantes dos Estados nacionais que integram a OTCA.
Especialistas se reúnem para refinar indicadores
Em Bonn, as Partes decidiram por estender o mandato dos especialistas encarregados de definir os indicadores da Meta Global de Adaptação (GGA). Nesse novo mandato, dois workshops foram definidos para ocorrer até a COP. O primeiro deles ocorreu em Nairóbi nesta semana (20 ao 22), com o objetivo de dar continuidade ao processo de refinamento de indicadores do GGA. A menos três meses da COP 30, o grupo deve reduzir uma lista de 489 indicadores para 100. O próximo workshop ocorrerá em Bonn, durante os dias 20 e 21 de outubro.
MONITOR DE DESASTRES
O Monitor de Desastres captou 7 atos de reconhecimento de emergência decorrentes de eventos climáticos extremos, que impactaram 51 municípios. Diferentemente das duas semanas anteriores, as tipologias Chuvas Intensas (Tempestade) e Estiagem foram superadas pela Seca, que ocorreu em metade dos municípios registrados.
Destacam-se as ocorrências de seca no Acre: 21 dos 22 municípios do estado entraram em situação de emergência.
Nota explicativa: os dados registrados no Monitor de Desastres referem-se única e exclusivamente às situações de emergência ou calamidade pública reconhecidos oficialmente pela Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil/MDIC nesta semana. Eventualmente, é possível que desastres ocorridos na mesma semana não sejam contabilizados, dado que o reconhecimento do governo federal leva alguns dias para ser publicado.
TALANOA POR AÍ
O especialista em políticas climáticas Daniel Porcel dividiu um painel sobre Adaptação com Pilar Bueno, Subsecretária de Ambiente e Transição Energética Justa, durante a Climate Week de Rosário, na Argentina. Ao participar do debate sobre Indicadores Globais e Locais de Adaptação, Porcel apresentou uma perspectiva da atuação da sociedade civil latino-americana em rede coordenada pela Talanoa. Com participação de mais de 40 iniciativas regionais, a Força Tarefa de Adaptação promove ação construtiva e busca oportunidades e caminhos para priorizar a adaptação com um foco regional, em diálogo com a Presidência brasileira.
Em Brasília, participamos da 5ª edição da Conferência Local da Juventude Brasileira sobre Mudanças Climáticas (LCOY), realizada no último fim de semana na Universidade de Brasília (UnB), organizada pelo movimento Jovens pelo Clima Brasília em parceria com a Vida no Cerrado. A Conferência é um evento liderado por e para jovens, com a proposta de elevar a ação climática local, descentralizando discussões e diversificando propostas para contribuir com ideias que conversem com o território.
A especialista em política climática, Rayandra Araújo, foi convidada a apresentar o tema das “Contribuições Nacionalmente Determinadas (em inglês, NDC)”, explicando como essa agenda também dialoga diretamente com as pautas da juventude e seu papel nas decisões sobre clima e futuro.
O infografista da Talanoa Marco Vergotti e a vice-presidente Liuca Yonaha participaram de um bate-papo online com o grupo de divulgação científica do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (FGVCes). Eles apresentaram o processo criativo e coletivo para elaboração dos materiais gráficos, principalmente o Tá Lá no Gráfico, e mostraram como o cuidado com o design é parte fundamental da nossa estratégia de comunicação.
TALANOA NA MÍDIA
| Deutsche Welle Brasil | A especialista sênior Marta Salomon explica qual Brasil vai à COP30, em matéria que questiona posições dicotômicas do Brasil em relação a transição energética. |
| Portal G1 | Marta também comenta lacunas da política energética do país, em reportagem sobre o atual plano climático do Brasil. |
| ClimaInfo | Reportagem sobre o PL do Licenciamento Ambiental cita como fonte a Política por Inteiro e o Tá Lá no Gráfico. |
Bom fim de semana,
Equipe POLÍTICA POR INTEIRO
