Os recados de Lula e do G20 para a COP 29
- Análises, COP29, NDC
- 19 de novembro de 2024
19 de novembro de 2024 – Pontos relevantes do discurso do presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, na abertura da 3ª sessão da Cúpula de Líderes do G20, no Rio de Janeiro, sobre desenvolvimento sustentável.
Um recado do Rio de Janeiro para Baku: Nova meta de financiamento climático (NCQG) não pode atrasar.
“Não há ambição que se sustente sem meios de implementação”, afirmou Lula, ao destacar que a negociação sobre uma nova meta de financiamento climático (New Collective Quantified Goal on Climate Finance – NCQG) ocorre na COP 29 em Baku. O presidente brasileiro reforçou que a ordem de grandeza dos recursos mobilizados deve aumentar dos bilhões de dólares não cumpridos para a casa dos trilhões de dólares, afirmando ainda que esse capital existe hoje destinado a gastos bélicos. E declarou que a negociação sobre a NCQG é um item que não pode ser postergado para a COP 30, em Belém.
Comentários: A declaração de Lula, ao lado do secretário-geral da Nações Unidas, António Guterres, evidencia a necessidade de se chegar a uma nova meta global de financiamento climático para seguirmos uma trajetória para discutir a implementação em Belém. Importante que o governo brasileiro veja com clareza esse arco de progresso do Acordo de Paris e perceba que, assim como Baku deverá preparar terreno para o que virá no COP 30, a conferência no Brasil deverá olhar para além de 2025. “O G20 foi claro: a nova meta de financiamento climático precisa ser definida em Baku. O Brasil apoia firmemente que isso aconteça agora, sem deixar para Belém”, afirma Natalie Unterstell, presidente da Talanoa. |
Diplomacia das NDCs
Lula clamou por engajamento dos líderes do G20 para elevar a ambição do próximo ciclo de planos climáticos que os países devem apresentar até fevereiro de 2025, as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs). Para os países desenvolvidos, pediu que “antecipem suas metas de neutralidade climática de 2050 para 2040 ou até 2045”. E, aos países em desenvolvimento, fez um “chamado para que suas NDCs cubram toda a economia e todos os gases de efeito estufa. É essencial que considerem adotar metas absolutas de redução de emissões”.
Comentários: Apenas 2 novas NDCs foram apresentadas até agora – Emirados Árabes Unidos e Brasil. O Reino Unido já divulgou sua meta de redução de emissões para 2035 (81%), em discurso de Keir Starmer na COP29, porém ainda não a depositou oficialmente no registro oficial da Convenção. A presidência da futura COP 30 e o Secretário Geral da ONU se uniram para fomentar mais NDCs, que respondam ao chamado do GST. Essa liderança diplomática se mostra essencial neste momento. “Com o limite de 1,5°C ameaçado, a iniciativa de Lula e Guterres é um chamado oportuno à ação. No entanto, sem avanços concretos até a COP30 e com Trump prestes a embaralhar o cenário, a janela de oportunidade está se fechando rapidamente”, diz Natalie Unterstell, presidente da Talanoa. “O discurso de Lula coloca a ambição climática no centro do debate, mas levanta uma questão incômoda: será que estamos realmente liderando pelo exemplo? Enquanto cobramos metas mais ousadas dos países ricos, nossa própria NDC ainda deixa a desejar. É essencial que o Brasil vá além de reafirmar suas credenciais florestais e mostre uma liderança que inspire não apenas pela cobrança, mas pela ação e ousadia em todos os aspectos da economia de baixo carbono.”, afirma Liuca Yonaha, vice-presidente do Instituto Talanoa. |
Desmatamento zero
Lula disse que o Brasil não tolerará ilícitos ambientais e reafirmou que o “desmatamento será erradicado até 2030”.
Comentários: A declaração do compromisso com o fim do desmatamento, sem adjetivos, regiões ou biomas, deve ser aplaudida e seu cumprimento integral, sem exceções, deve ser cobrado. “A afirmação de Lula sobre erradicar o desmatamento até 2030 coloca o Brasil sob os holofotes para a COP30, exigindo que o país chegue ao evento não apenas com promessas, mas com a manutenção de resultados concretos que sustentem sua liderança climática.”, diz Wendell Andrade, especialista em políticas públicas da Talanoa. |
Contato: imprensa@institutotalanoa.org
[English version]
November 19, 2024 – Key points from Brazilian President Luiz Inácio Lula da Silva’s speech at the opening of the 3rd session of the G20 Leaders’ Summit in Rio de Janeiro on sustainable development.
New climate finance target (NCQG)
“No ambition can be sustained without the means to implement it,” said Lula, pointing out that negotiations on a New Collective Quantified Goal on Climate Finance (NCQG) are underway at COP 29 in Baku. The Brazilian president stressed that the scale of the resources mobilized should increase from the billions of dollars that have not been met to trillions of dollars. He stated that the negotiation on the NCQG is an item that cannot be postponed until COP 30 in Belém.
Comments: Lula’s statement, alongside UN Secretary-General António Guterres, underscores the urgency of establishing a new global climate finance goal to set the stage for implementation discussions in Belém. It is crucial for the Brazilian government to recognize this arc of progress within the Paris Agreement and understand that just as Baku must lay the groundwork for COP30, the conference in Brazil must also look beyond 2025. “The G20 was clear: the new climate finance goal must be defined in Baku. Brazil strongly supports making this happen now, without deferring it to Belém,” says Natalie Unterstell, president of Talanoa. |
NDCs Ambition
Lula called on G20 leaders to raise the ambition of the next round of climate plans that countries must present by February 2025, the Nationally Determined Contributions (NDCs). For developed countries, he asked them to “bring forward their climate neutrality targets from 2050 to 2040 or even 2045”. And for developing countries, he made a “call for their NDCs to cover the entire economy and all greenhouse gases. It is essential that they consider adopting absolute emission reduction targets.”
Comments: Only two new NDCs have been submitted so far: those of the UAE and Brazil. The UK has already announced its emissions reduction target for 2035 (81%), in a speech by Keir Starmer at COP 29. The presidency of the upcoming COP30 and the UN Secretary-General have joined forces to encourage more NDCs that respond to the call of the Global Stocktake (GST). This diplomatic leadership is proving crucial at this moment. “With the 1.5°C limit under threat, Lula and Guterres’ initiative is a timely call to action. However, without concrete progress by COP30 and with Trump poised to disrupt the scene, the window of opportunity is closing rapidly,” says Natalie Unterstell, president of Talanoa. “Lula’s speech places climate ambition at the center of the debate but raises an uncomfortable question: are we truly leading by example? While we demand bolder targets from wealthy nations, Brazil’s own NDC still falls short. It’s essential for Brazil to go beyond reaffirming its forest credentials and demonstrate leadership that inspires not just through demands but through bold actions across all areas of a low-carbon economy,” states Liuca Yonaha, vice president of the Talanoa Institute. |
Zero deforestation
Lula said that Brazil will not tolerate environmental crimes and reaffirmed that “deforestation will be eradicated by 2030”.
Comments: The unequivocal commitment to end deforestation—across all regions and biomes—deserves applause, but its complete fulfillment, without exceptions, must continued to be demanded. “Lula’s pledge to eradicate deforestation by 2030 places Brazil under the spotlight for COP30, demanding that the country arrives at the event not just with promises, but sustaining concrete results to uphold its claim to climate leadership,” says Wendell Andrade, public policy expert at Talanoa. |
Press contact: imprensa@institutotalanoa.org