COP 29 – Dia 5: NCQG travada nos debates sobre valor e tipo de financiamento
- Análises, COP29, NDC
- 15 de novembro de 2024
Estamos nos encaminhando para o final da primeira semana aqui em Baku e as negociações sobre um dos itens mais críticos da Conferência – o financiamento climático – seguem bastante travadas. Esse tema é central porque, segundo o Acordo de Paris, é preciso estabelecer uma nova meta global para o financiamento climático, chamada de NCQG, sigla em inglês para New Collective Quantified Goal (Novo Objetivo Coletivo Quantificado) a partir de 2025 – e estamos longe de chegar a um consenso sobre o tema.
Até então, os países desenvolvidos haviam firmado o compromisso de aportar US$ 100 bilhões anuais entre 2020-2025 para apoiar as nações em desenvolvimento na mitigação e adaptação às mudanças climáticas, mas não só o valor se mostrou insuficiente, como não foi pago na sua totalidade.
Agora, a discussão sobre a nova meta está travando em dois pontos: o novo valor (quantum) e o tipo de financiamento que será usado. As negociações em Baku iniciaram na terça-feira (12) a partir de um texto-base que vinha sendo produzido pelos co-facilitadores ao longo dos últimos três anos, trazendo elementos e entendimentos do que seria o NCQG. Eneas Xavier, da LaClima, explica que nessa primeira reunião da COP29 houve apenas um consenso: de que esse texto não iria servir como base para o desenvolvimento das negociações.
A partir dali novas versões foram produzidas pelas Partes e distribuídas para fomentar as negociações, trazendo itens como a reforma da arquitetura financeira global, que auxilia a entrega efetiva do financiamento climático, questões sobre se a NCQG vai se reportar apenas ao Acordo de Paris ou também à UNFCCC, entre tantos outros. Somente na quinta-feira os países começaram a fechar um texto a ser trabalhado.
Sobre o quantum, há várias propostas na mesa que circulam na casa dos trilhões de dólares (valores entre US$ 1 e US$ 2 trilhões). Nenhuma delas foi endossada, até agora, pelos países-membros do Anexo 1, que são os doadores. Há nações, como a Coreia do Sul, que não se dizem nem prontas para começar a discutir esse quantum, insistindo que as tratativas se limitem a aspectos qualitativos, como o tipo de financiamento.
Há uma série de outras questões na mesa também longe de consenso, como a definição de quem paga para quem. Hoje, a definição é que só os países-membros do Anexo 1 devem pagar, mas eles sinalizam que outros países ricos do G20 devem arcar também com essa conta. A China sinalizou que pode entrar voluntariamente fazendo aportes, e países como o Brasil sinalizaram que podem, também, abrir mão voluntariamente de receber o dinheiro.
Talvez o único consenso até agora em NCQG tenha sido o tema da Transparência. Na quinta-feira, os países chegaram a um acordo sobre o Enhanced Transparency Framework (ETF), um dos elementos centrais do Acordo de Paris, ser aplicado no âmbito da NCQG para monitorar a entrega e repasses dos valores.
Apesar de todo imbróglio, a expectativa é que algum texto seja consolidado no nível técnico até sábado para subir às discussões políticas na semana que vem.
ADAPTAÇÃO
Paralelamente aos impasses da agenda de financiamento, a agenda de adaptação também caminha vagarosamente na COP29. O principal ponto que está sendo discutido é o detalhamento da Meta Global de Adaptação (Global Goal on Adaptation, ou GGA, na sigla em inglês). As negociações ocorrem mais especificamente sobre como funcionarão os mecanismos de implementação, os indicadores (que determinam como acompanhar a evolução da implementação) e o paradigma da adaptação transformacional, que é o ajuste dos sistemas humanos e não-humanos com resiliência, justiça, equidade, equilíbrio e planejamento. Várias Partes entendem que é melhor deixar esse último item para a COP30, que será realizada em 2025 em Belém.
Por enquanto, a parte mais densa da discussão está centrada nos indicadores. O texto-base que chegou a Baku continha cerca de 5 mil indicadores, número que já subiu para mais de 9 mil. Eles estão inseridos em 11 temas, que contemplam infraestrutura, sistemas alimentares, acesso à água, entre outros. No momento, os países discutem a inviabilidade de trabalhar com tantos indicadores e estão tentando chegar a consensos sobre quais devem permanecer.
Mais uma vez, a briga fica entre os países desenvolvidos, que entendem que indicadores de implementação não devem estar no GGA, enquanto os em desenvolvimento defendem que é necessário para que haja um monitoramento dos avanços.
ABANDONO DOS FÓSSEIS
Tema que expressou maior avanço na COP28, a recomendação do primeiro Balanço Global (GST) sobre a transição para longe dos combustíveis fósseis tem sido mantida fora da agenda de negociações no Azerbaijão.
No entanto, a NDC brasileira , submetida à UNFCCC na terça-feira, defende o início de uma discussão para definir um cronograma de implementação do parágrafo 28 do Global Stocktake, que propõe um pacote energético coerente visando à transição dos combustíveis fósseis. O documento brasileiro pede que os países desenvolvidos assumam “a dianteira” e sejam os primeiros a parar de explorar combustíveis fósseis. Em Baku, negociadores buscam um lugar claro para esse debate, provavelmente dentro do Grupo de Trabalho de Mitigação.