COP 29 – Dia 4: O tema do dia hoje é financiamento, mas discussões sobre NCQG estão emperradas

COP 29 – Dia 4: O tema do dia hoje é financiamento, mas discussões sobre NCQG estão emperradas

Foto: Reprodução/Flickr UN Climate Change - Kamran Guliyev

Financiamento climático foi o tema oficial do quarto dia de COP. O que não quer dizer que as negociações relacionadas ao tema tenham avançado substancialmente nesta quinta-feira (14) em Baku, no Azerbaijão. Elas continuam lentas, como era esperado.

As discussões acerca da nova meta global de financiamento climática, a NCQG (New Collective Quantified Goal), estão concentradas sobre:

    • a base de contribuintes
      Este assunto foi influenciado pela sinalização do vice-presidente chinês, Ding Xuexiang, em seu discurso no segmento de alto nível, na terça-feira, sobre a possibilidade de seu país contribuir voluntariamente. O movimento foi visto com bons olhos para os avanços das negociações, pois pode encurtar o caminho para se chegar a um valor aceitável.

 

    • a transparência acerca da base de contribuintes
      O ponto aqui é definir se seriam contabilizados e como os recursos aportados por países em desenvolvimento em bancos multilaterais. Nações como Brasil e China fazem esses tipos de aportes e seria necessário definir se isso seria considerado na conta da meta de financiamento climático.

    • a dispensa voluntária
      Assim como há discussão sobre aqueles que deverão aportar recursos e quanto, há debate sobre quem poderá receber e a priorização. O Brasil já afirmou que abre mão voluntariamente da oferta, o que facilitaria a chegada do dinheiro mais rápido aos países que mais precisam.

 

As discussões estão ocorrendo de forma bastante intensa do âmbito político, e segue a expectativa sobre como o tema deve avançar nos próximos dias. Há uma tendência geral a transferir as inúmeras decisões que irão compor o texto final da NCGQ para os altos níveis políticos. Há uma preocupação geral dos observadores na COP29. Esse movimento de deslocamento do poder é um risco exponencialmente crescente: quanto menos decisões forem tomadas pelos diplomatas, no nível técnico, maior pressão será transferida aos Chefes de Estado ou Governo e maior o risco de se perder qualidade textual na decisão final. Aguardemos ansiosos.

 

Perdas e Danos

Nesta quinta-feira, finalmente, decidiu-se ter um texto-base para melhor operacionalizar o Warsaw International Mechanism for Loss and Damage (WIM), mecanismo estabelecido em 2013 para abordar questões de Perdas e Danos. Esse mecanismo legitima que os países em desenvolvimento recebam ajuda para lidarem com as questões relacionadas a perdas e danos, como aumentar o conhecimento dos riscos envolvidos, aumentar a coordenação entre stakeholders relevantes e aumentar a ação e apoio aos meios de implementação como financiamento e tecnologia.

 

NDC

Painel de especialistas discutiu em evento na COP-29 como os países podem garantir uma transição dos combustíveis fósseis em seus novos compromissos climáticos, que devem ser submetidos até fevereiro. Natalie Unterstell, presidente do Instituto Talanoa, falou sobre a nova NDC brasileira, apresentada na terça-feira, e seu nível de ambição para 2035.

Os demais painelistas do evento “NDC Ambition and Transitioning Away from Fossil Fuels in a Just, Orderly, and Equitable Manner” apontaram caminhos como aumentar a oferta de energias renováveis até financiar a não exploração de combustíveis fósseis em países cujas economias sejam mais dependentes desses recursos. O painel discutiu também o equilíbrio entre metas climáticas e segurança energética e o que seria uma transição justa num cenário em que o consumo de combustíveis fósseis ainda aumenta no mundo e o limite de 1,5ºC de aquecimento está para ser perdido, mantidas as ambições em curso para 2030.

O painel foi moderado por Farooq Ullah (IISD), Siân Bradley (BOGA Secretariat), Arunabha Ghosh (CEEW), Neil Grant (Climate Analytics), Niklas Höhne (New Climate Institute) e Natalie Unterstell (Talanoa)

Argentina fora

A delegação argentina recebeu ordem de Buenos Aires para se retirar das negociações da COP29, em mais uma indicação do presidente Javier Milei sobre sua posição contra as políticas de combate às mudanças climáticas. Os negociadores argentinos estavam em Baku para participar de dois grupos de negociações, um com o G77+China e outro com o Grupo Sul.

Mercado de carbono em alta

Desde o primeiro dia da COP 29, a presidência azerbaijana trabalha para acelerar o funcionamento de um mercado de carbono global no âmbito do Acordo de Paris (artigo 6). A nova NDC brasileira, para 2035, abre espaço para a transferência internacional de resultados de mitigação, chamados de ITMOs, ao estabelecer um teto máximo de emissões em 1,05 GtCO2e e trabalhar internamente para alcançar a ambição maior, de 850 milhões de toneladas. O texto da NDC aponta  “a oportunidade de atrair investimentos oportunos e de grande escala em atividades e novas tecnologias com custos significativos de abatimento”. A aprovação do Projeto de Lei do Mercado Regulado de Carbono no Senado, depois de quase um ano de espera, avança alguns passos para o Brasil ter o mecanismo funcionando nos próximos anos. Não há ainda uma contabilidade confiável sobre quanto o mercado de carbono pode acelerar a redução global das emissões de gases de efeito estufa. 

Repercutindo

O secretário-executivo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), Simon Stiell, publicou ontem (13) no seu perfil em uma rede social, a imagem da entrega da NDC brasileira, feita pela ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, a ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara e o vice-presidente, Geraldo Alckmin. A mensagem de Stiell é de otimismo e estímulo para que outros países façam o mesmo. 

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