Inteligência a serviço do clima

Foto: Helena Palmquist_Ascom

Apesar de curta, em função do feriado de Corpus Christi, a semana foi movimentada para a política climática brasileira. O Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) apresentou como está construindo a Estratégia Nacional de Mitigação do Plano Clima, que abrangerá sete planos setoriais. Em relação à Estratégia de Adaptação, que deverá conter 17 planos setoriais (sim, deve aumentar de 15 para 17, com Mulheres e Agricultura Familiar), foi realizada a oficina setorial “Oceano e Zona Costeira”, reunindo especialistas de todo o país.

As frentes de mitigação e adaptação do Plano Clima são essencialmente políticas públicas de competência federal, mas vão demandar, além de robustez técnica e metas audaciosas, uma estratégia de articulação multinível, que acione o pacto federativo para alcançarem a capilaridade necessária à implementação de políticas. Nesse contexto está, também, a pauta de Cidades, que nesta semana levou o Senado aos holofotes: tudo por causa da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que trata da transferência de terrenos de marinha e seus acrescidos, faixas marginais cheias de tecnicismos para sua delimitação exata, que atualmente compreendem áreas densamente povoadas por habitações dos mais diferentes níveis aquisitivos, além de empreendimentos diversificados, que nem sempre conversam com o Plano Diretor ou o Zoneamento das cidades. O tema evocado pela PEC é complexo e profundo, e seu debate é multifacetado: é urbanístico, mas também fundiário; é econômico, mas também administrativo; é ambiental, mas também climático. A simplificação da questão relativa à “privatização de praias” mobilizou a opinião pública contra a proposta, contribuindo para maior atenção à tramitação.

Como a Ciência tem alertado frequentemente, o impacto de eventos climáticos extremos repercute na economia. A celeuma mais recente foi com o arroz gaúcho. Apesar de entidades representantes do setor produtivo garantirem que não há riscos de desabastecimento do irmão do feijão nos lares brasileiros. O impacto na produção não foi sentido apenas pela plantação, como também em toda a cadeia logística essencial para que o produto chegue às regiões consumidoras e não sofra disparos de preço. Como muitas estradas e pontes ruíram com as tempestades e enchentes no Rio Grande do Sul, responsável por cerca de 70% da produção brasileira de arroz, o governo federal tomou a decisão de autorizar a importação do arroz.

MONITOR DE ATOS PÚBLICOS

O Monitor de Atos Públicos captou 12 atos relevantes para a agenda climática entre os dias 27 (segunda) e 29 de maio (quarta). A classe mais frequente da semana foi Resposta, em maior parte relacionada à situação de crise climática do Rio Grande do Sul. Os temas da semana ficaram bem distribuídos, entre Agropecuária, Institucional, Águas e Terras e Territórios, todos com 2 atos cada.

Nota metodológica: A partir de janeiro de 2024, as normas de desastres, referentes aos reconhecimentos de situação de emergência nos municípios por eventos meteorológicos e climáticos extremos, deixam de ser contabilizadas no Monitor de Atos Públicos. O monitoramento contínuo passa a ser realizado exclusivamente no Monitor de Desastres.

Fundo Social do Petróleo auxiliará população em calamidade pública

Uma Medida Provisória (MP), editada na quarta-feira (29), passa a permitir que recursos do chamado Fundo Social (FS), criado em dezembro de 2010 em função da exploração comercial do petróleo brasileiro, reforcem linhas de financiamento em favor de populações de municípios em estado de calamidade pública (ECP).

A norma amplia o escopo de investimentos do Fundo Social do Petróleo, que embora já considerasse investir em ações voltadas para a mitigação e a adaptação a mudanças do clima, não continha previsão expressa para o uso de seu superávit em ações de prevenção e de resposta a eventos extremos que levem à calamidade pública.

Limitada a um teto de R$ 15 bilhões do superávit alcançado pelo FS em 2023, é importante destacar que a MP se refere a linhas de financiamento, ou seja, não trata de recursos de doação, e sim de operações de crédito, cujas condições de elegibilidade, acesso e amortização devem ser regulamentadas nos próximos dias, pelo Ministério da Fazenda e pela autoridade monetária (CMN).

Para pessoas jurídicas, o empréstimo só manterá suas condições especiais de prazos, juros e amortizações se efetivado o compromisso do tomador em gerar empregos na mesma proporção que se havia antes da ocorrência da calamidade.

Como se trata de uma MP, a eficácia é imediata, e dado que se trata de superávit – espécie de saldo positivo gerado pelo exercício do ano anterior – os recursos do FS já estão disponíveis.

A MP nasce no contexto de uma das maiores catástrofes climáticas do país, no Rio Grande do Sul, em que ao menos 169 pessoas morreram e mais de meio milhão foram desalojadas.

A efeito de comparação, o valor mobilizado nesta semana pela MP é quase 50% maior do que os R$ 10,4 bilhões que o Brasil obteve com a emissão de títulos verdes soberanos, no final de 2023, e que reforçarão o caixa do Fundo Clima (FNMC). Isso demonstra a potência do Fundo Social e o quanto ele poderia somar ao FNMC para, também, ser utilizado para a gestão do risco climático, em ações antecipadas de planejamento e prevenção. No entanto, apesar de o texto da MP prever aplicação para mitigação e adaptação, sugerindo abordagem ampla, é previsível que os recursos sejam direcionados apenas à gestão do desastre, isto é, à remediação e à reconstrução gaúchas, em razão das circunstâncias atuais e da elegibilidade, que ficou restrita a cidades em ECP.

A situação de emergência (SE), um grau abaixo do estado de calamidade pública (ECP) na escala de prioridade da Defesa Civil, não foi contemplada pela MP.

Além desta matéria, a MP autoriza a União a aumentar a sua participação no Fundo Garantidor de Operações para a cobertura das operações contratadas no âmbito do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) e do Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural (PRONAMP) com beneficiários que tiveram perdas materiais nas áreas afetadas pelos eventos climáticos extremos ocorridos nos meses de abril e maio de 2024, além de questões ligadas a subvenções do governo.

O Congresso tem até o final de setembro para votar a MP e decidir se seu texto vai virar lei.

A MP vem na mesma semana em que a nova presidente da Petrobras disse que o petróleo não tem nada a ver com a crise gaúcha.

Plano Clima avança

O MMA apresentou em seminário em Brasília o processo de construção da Estratégia Nacional de Mitigação (ENM) do Plano Clima. Os sete planos setoriais (Agricultura, Uso da Terra e Florestas, Cidades e Mobilidade Urbana, Energia, Indústria, Resíduos e Transportes) deverão elencar as ações para o cumprimento das metas de cada área para o alcance das metas para emissões de 2030 e 2035, que serão apresentadas no plano. O cronograma estabelecido prevê a apresentação dos resultados das modelagens para os ministérios em junho, oficinas setoriais para a discussão dos orçamentos de carbono em julho e a definição das metas setoriais em setembro. A ENM deverá ser colocada em consulta pública em outubro, em uma plataforma em desenvolvimento. Em novembro, o governo planeja ter o resultado para subsidiar a ambição que deve estar no seu Plano Clima e ser apresentada na NDC (Contribuição Nacionalmente Determinada) à Convenção do Clima das Nações Unidas (UNFCCC).

Fonte: reprodução/MMA

Paralelamente, avança também a Estratégia Nacional de Adaptação, sob o Plano Clima Adaptação. Por enquanto, somente o setor Oceano e Zona Costeira realizou sua oficina para discussão das ações necessárias diante dos diferentes impactos climáticos em curso e previstos. Assim como a ENM, a Estratégia de Adaptação será colocada em consulta pública em outubro.

O Brasil, que busca a liderança climática global e na presidência da COP30, que discutirá as metas globais de adaptação, precisará, como vozes no próprio governo têm dito, liderar pelo exemplo. Ou seja, abordar em sua NDC a Adaptação de forma enfática e ambiciosa.

Propriedade Intelectual, Indústria e Sustentabilidade

Nesta semana nasceu o Grupo de Trabalho (GT) de Propriedade Intelectual e Sustentabilidade, ligado ao Grupo Interministerial de Propriedade Intelectual (GIPI), coordenado pelo MDIC. A função do GT será “identificar, propor, articular e apoiar iniciativas de propriedade intelectual” que se relacionem a “produtos, processos e serviços ligados à descarbonização da indústria, transição e eficiência energética e ao crescimento industrial e socioeconômico (…) em baixo carbono, circular e (…) com mitigação das mudanças climáticas e adaptação aos seus efeitos adversos”.

O funcionamento do GT Sustentabilidade vai de 3 de junho de 2024 até 31 de julho de 2025. Além do próprio MDIC – que coordenará os trabalhos, via Secretaria de Competitividade e Política Regulatória (SCPR) – participarão do GT os ministérios MCTI, MMA, MAPA, ME e MRE. Da Administração Indireta, compõem assentos o Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI) e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA). Especialistas podem ser convidados a qualquer tempo.

É importante correlacionar o GT Sustentabilidade ao Plano Nova Indústria Brasil (NIB), que traz em seu escopo a preocupação com o desenvolvimento da chamada Estratégia Nacional de Propriedade Intelectual (ENPI), com foco especial em seus eixos 2 (Saúde) e 5 (Energia e Bioeconomia). Uma ENPI exitosa pode reduzir a dependência externa brasileira em matéria de importação, que historicamente tem trazido reflexos negativos à balança comercial e ao espaço fiscal do país.

Respostas simbólicas – e propositivas – à causa indígena

Duas portarias concederam anistia política coletiva aos povos Krenak e Guarani-Kaiowá frente, respectivamente, à retirada de direitos resultantes do rompimento da barragem de Fundão, no estado de Minas Gerais, e da remoção e exposição aos agrotóxicos da comunidade Guyrakoká, no Mato Grosso do Sul.

Além de uma resposta do Estado brasileiro que tem importante valor simbólico, as portarias expedidas pelo Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania, em resposta a um recurso do MPF, recomendam a demarcação da Terra Indígena Krenak de Sete Salões e a recuperação ambiental do território. A norma responsabiliza as mineradoras Vale S/A, BHP Billiton Brasil Ltda. e Samarco Mineração S/A e recomenda aos entes federativos que exijam a despoluição total do Rio Doce, dotado de valor espiritual e inerente ao povo Krenak, além de diversas ações de reparação, incluindo a fiscalização para que não se repitam os lançamentos de rejeitos de mineração na bacia do Rio Doce e a construção de reservatórios de pesca em todas as aldeias.

Fica também recomendado à mineradora Vale S/A que desista da contestação que apresentou no processo de demarcação da Terra Indígena Krenak, na qual postulou uma faixa de segurança de 40 metros de cada lado da via ferroviária. No caso sul-matogrossense, para a reparação ao Povo Guarani Kaiowá ficam recomendadas ao governo estadual e ao município de Caarapó, ações de assistência à saúde, incluindo cuidados de saúde mental, assim como a construção de casas populares para todas as famílias e outras questões de infraestrutura de educação e lazer.

Emergência climática

Nesta semana foram captadas 3 normas do Poder Executivo e uma alteração legislativa de resposta à situação de emergência climática do Rio Grande do Sul, em diferentes agendas. Dois grupos de trabalho, no âmbito da ANA, foram criados a fim de garantir a produção de conhecimento e assessoramento técnico acerca da dinâmica das cheias no estado, com foco na reconstrução da infraestrutura e prevenção de novas enchentes. Para agropecuária foi instituído o Programa Emergencial de Reconstrução do Agronegócio, de caráter temporário e dividido em 10 eixos. Iniciativas focadas na governança da crise são fundamentais em um primeiro momento, no entanto ações de adaptação, de cunho permanente e que repercutam no novo planejamento urbano necessário à restauração dos municípios atingidos devem ser gestadas desde já.

Enquanto isso, nas Reservas da Biosfera…

Reservas da Biosfera são áreas especiais, reconhecidas pela UNESCO (ONU), que preservam a biodiversidade, recebem pesquisas científicas e são espaços singulares para a realização de ações de educação ambiental e desenvolvimento integrado com populações tradicionais. Uma espécie de “classe mundial” de áreas protegidas.

Nesta semana, um Decreto atualizou as regras de funcionamento da principal estrutura de governança a trabalhar pela criação e pela manutenção desses espaços territoriais especialmente protegidos. A Comissão Brasileira para o Programa Man and The Biosphere – COBRAMAB tem agora a competência de apoiar a criação do sistema de gestão de cada uma das Reservas da Biosfera reconhecidas no Brasil, além de apoiar a instalação destas áreas.

O Programa Man and The Biosphere MaB foi criado em 1968, no seio da Conferência da Biosfera, promovida pelo braço da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, a UNESCO.

Esquema representativo de uma Reserva da Biosfera, destacando, de fora para dentro as áreas (1) de transição, (2) de amortecimento e (3) de núcleo do território, em que o gradiente de proteção aumenta, nesta mesma ordem. Fonte: UNESCO. Extraído em: maio/2024.

O decreto publicado nesta semana atualizou regulamentos de mais de 20 anos sobre as Reservas da Biosfera no Brasil, e incidiu diretamente no Decreto Federal nº. 4.340/2002, peça do ordenamento jurídico brasileiro que mais regulamenta o chamado Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), de 2000.

Atualmente, o planeta tem 748 Reservas da Biosfera reconhecidas pela UNESCO. Embora megadiverso, o Brasil tem apenas 7 exemplares. Europa e Sudeste Asiático concentram a maior parte das Reservas do mundo.

Brasil propõe que América do Sul avance em Infraestrutura e Planejamento

Um Decreto publicado esta semana instituiu a Comissão Interministerial para a Infraestrutura e o Planejamento da América do Sul, com objetivo principal de identificar oportunidades de avanço da infraestrutura física e digital do Brasil que demandem abordagem continental. À Comissão caberá também articular a integração entre os países sul-americanos para o tema de infraestrutura, sempre que motivada pelo interesse nacional.

Elementos avaliados como positivos para o funcionamento da Comissão são (1) o assessoramento que receberá do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e (2) a competência de que ela também se torne o locus para o qual demandas de infraestrutura provenientes de estados e municípios em faixas de fronteira são encaminhadas. Há uma reclamação histórica dos entes federados quanto a regiões fronteiriças serem espaços de ausência do Estado brasileiro. A Comissão não deve resolver este problema, mas de todo modo é um canal de diálogo e governança que pode colaborar para reduzi-lo.

Curioso notar que pastas como Minas e Energia (MME) e Defesa (MD) não entraram na composição da Comissão interministerial, ainda que sejam responsáveis por projetos que importam para um recorte continental, a exemplo da gestão de faixas de fronteira (Defesa) e de projetos transnacionais de geração de energia solar e eólica (Minas e Energia), que levam em conta fenômenos que excedem as fronteiras dos países, como os ventos da Patagônia, que influenciam o Sul brasileiro, e a incidência solar no Atacama. Essa constatação parece revelar que o governo de fato talvez não tenha planos concretos para ampliar a produção de energia renovável a partir de cooperação continental.

Enquanto isso, pastas como Desenvolvimento Regional (MIDR), Meio Ambiente (MMA), Transportes (MT) e Justiça e Segurança Pública (MJSP) foram consideradas na composição da Comissão.

Na última edição da Cúpula da Amazônia, realizada em Belém, em agosto de 2023, os presidentes de países da Panamazônia decidiram movimentar-se internamente, em nível ministerial, para (re)ativar Comissões em diferentes áreas estratégicas, dentro das quais Assuntos Indígenas, Transporte, Infraestrutura, Comunicações e Turismo, temas com os quais a Comissão criada esta semana deve se correlacionar.

LEGISLATIVO

O Programa MOVER se move, mas ainda haverá tempo?

Anunciado no apagar das luzes de 2023, por meio de Medida Provisória, o Programa Mobilidade Verde (MOVER) se propõe a estimular uma indústria automobilística menos carbono-intensiva, a partir da concessão de incentivos que aprimorem tanto o processo produtivo quanto os bens gerados pelas empresas aderentes, a serem supervisionadas por grupo técnico específico no decorrer do processo.

O MOVER conta com a adesão de, até agora, 77 empresas a serem estimuladas com o pacote de incentivos concebido pelos Ministérios da Fazenda (MF), da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). Entre essas empresas estão, além das principais marcas de veículos no país – num conjunto que vai de carros de passeio a máquinas agrícolas – várias marcas de peças e acessórios veiculares.

A MP teria se esgotado em abril, mas naquele mesmo mês recebeu uma prorrogação da Mesa Diretora do Congresso Nacional, que estendeu a vigência da MP até esta semana, dia 31 de maio.

O Programa MOVER tem conexão direta com o Plano Nova Indústria Brasil (NIB), especificamente em sua Missão nº 3, onde mora o tema Mobilidade.

Na última terça-feira, 28 de maio, por volta das 10h da noite, a Câmara aprovou o texto-base da Medida Provisória, que está prevista de ser votada aos 47 minutos do 2º tempo, pelo Senado, às vésperas do feriado de Corpus Christi.

Confira a relação de empresas credenciadas pelo MOVER, até esta semana.

PEC sobre terrenos de Marinha passa por audiência pública

Nesta semana, o Senado realizou uma audiência pública sobre o Projeto de Emenda Constitucional (PEC) acerca da transferência de terrenos de Marinha e acrescidos marginais, de propriedade da União, para estados e municípios, assim como para particulares.

A matéria incide especialmente em cidades litorâneas e às margens dos rios, que com suas reentrâncias e margens de territórios insulares ultrapassam os 10.000 Km de extensão linear.

A repercussão foi grande nas mídias sociais, especialmente por dois motivos. O primeiro deles é que o assunto repercutiu nas redes com duas palavras-chave: “praias” e “privatização”. O segundo é que a relatoria da PEC ficou a cargo do senador Flávio Bolsonaro (PL/RJ). A página do Senado recebeu uma enxurrada de manifestações: até o horário de realização da audiência, o placar de votação popular no portal da Casa indicava 52 mil votos contra a proposta e apenas 841 a favor.

A PEC é sobre terrenos de Marinha, classe ampla dentro da qual as praias constituem apenas uma das categorias. Orlas de cidades às margens de rios e muitos aglomerados urbanos favelizados em todo o Brasil não têm praias, mas são terrenos de Marinha que precisam com urgência colaborar com o planejamento urbano e alcançar as chamadas funções sociais da cidade, estabelecidas pela Constituição Federal e aferidas pelos Planos Diretores de cada município.

A PEC mistura interesses públicos e privados, gerando confusão até mesmo para o exame parlamentar. Isso porque transferências da União para estados e municípios têm como finalidade o cumprimento do interesse público, em especial o planejamento e o desenvolvimento urbanos, como versado pelo art. 182 da Constituição Federal, que leva em conta garantir o que o sociólogo francês Henri Lefèbvre conceitua como Direito à Cidade, isto é, o direito dos cidadãos em viverem uma vida digna em espaços que cumpram as funções sociais da cidade, direcionados pelo interesse público na decisão sobre o funcionamento destas áreas.

Por outro lado, ainda que transferências de imóveis da União para particulares também não devam perder de vista a obrigação constitucional da função social (no caso, a da propriedade), esta questão é evidentemente eivada de interesses privados, em especial a exploração econômica e a especulação imobiliária destas áreas, o que levanta questões com potencial prejudicial ao “Direito à Cidade” e ao cumprimento da legislação ambiental. Em razão disso, o ideal seria que uma mesma PEC não tratasse de ambos os temas.

Após a audiência, a PEC segue em tramitação no Senado.

Agricultura familiar ganha apoio diante de desastres, mas com limites

Nesta semana, o Parlamento aprovou a Lei Federal nº. 14.872/2024, que traz alterações à Lei que disciplina as transferências de recursos financeiros da União para prevenção e resposta a desastres, de 2010.

A nova lei passa a incluir como gasto elegível no Fundo Nacional de Calamidades Públicas (FUNCAP) o apoio financeiro à recuperação de solos e atividades produtivas caracterizadas como agricultura familiar. No entanto, a norma veda o apoio financeiro a essas atividades se elas estiverem situadas em Áreas de Preservação Permanente (APPs).

O chamado espírito legislativo deixa claro que o apoio à produção rural e o amparo a famílias em situação de vulnerabilidade social não podem colidir e se sobrepor à necessidade de cumprimento do disposto no Código Florestal Brasileiro, até mesmo para evitar a ocorrência de novos desastres.

MUNDO

É Bonn ficar atenta(o)!

Na próxima semana, terá início a 60ª reunião dos Órgãos Subsidiários da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), na cidade alemã de Bonn. A SB60 marca um retorno crucial das partes à mesa de negociações após a decisão do Global Stocktake (GST) na COP28, em 2023, em Dubai. O compromisso com a transição para longe dos combustíveis fósseis e a determinação em limitar o aquecimento global a 1,5°C demonstram uma forte intenção, que deve guiar os trabalhos dos negociadores. No entanto, o impacto dessas decisões depende da entrega efetiva dos resultados, especialmente em termos de metas quantitativas e sua urgência, bem como da consideração dos princípios de equidade, diferenciação de responsabilidades, justiça e direitos humanos.

Entre 03 e 13 de junho, a SB60 oferece uma oportunidade crucial para avançar nessa direção, com um foco urgente na elaboração de ações justas. Dada a urgência das decisões sobre financiamento climático, reforma do sistema financeiro e atualização dos compromissos nacionalmente determinados (NDCs), é vital trabalhar em um compromisso contínuo para garantir uma transformação equitativa dos sistemas e a entrega efetiva dos resultados decididos na COP28. As negociações em Bonn devem abordar questões fundamentais, como adaptação, perdas e danos, mitigação, transição justa, mecanismos de mercado e aprimoramento das NDCs, incluindo melhorias na transparência e implementação pelas partes.

Além disso, questões como financiamento climático, agricultura, ecossistemas e mercado de carbono são cruciais para o avanço das negociações. A necessidade de estabelecer um Novo Objetivo Coletivo Quantificado em Financiamento Climático (NCQG), diretrizes claras para NDCs e medidas concretas para adaptação e proteção da biodiversidade são destacadas como prioridades. A SB60 deve ser um marco para garantir que os compromissos assumidos na COP28 sejam traduzidos em ações tangíveis e justas para enfrentar a crise climática, pavimentando o caminho para uma COP29 bem sucedida.

MONITOR DE DESASTRES

O Monitor de Desastres captou 04 atos de reconhecimento de situação de emergência decorrentes de eventos climáticos ou meteorológicos extremos, em 26 municípios. Os registros de chuvas intensas diminuíram em todo o Brasil, no entanto a estiagem na região Nordeste permanece frequente. No estado do Amazonas houve um evento de inundação. A classe Outro registrou as situações de emergência resultantes da epidemia de dengue, concentradas no Paraná, e um episódio de erosão no estado do Pará.

INSTITUCIONAL

Relatório de Impacto está no ar

Nesta semana publicamos o Relatório de Impacto 2023 do Instituto Talanoa.

O documento é uma síntese dos projetos e ações que envolveram nossos esforços no último ano. Trabalhamos na produção de análises e publicações que embasaram políticas públicas e inspiraram iniciativas nacional e internacionalmente.

Expandimos nossos projetos e nos engajamos em ações de maior visibilidade, como o lançamento do documento especial Política Climática por Inteiro 2023 e a realização da ação do Dia da Emergência Climática, no Cristo Redentor.

É bom olhar para trás e ver o que deu certo, o que pode melhorar e, principalmente, o que nos motiva a continuar adiante.

O time do Instituto Talanoa agradece a todas e a todos que vêm trilhando este caminho conosco. Afinal, é tarde, mas ainda temos tempo!

A Noa nasceu!

O Instituto Talanoa, sempre buscando avançar em sua missão institucional de contribuir para aprimorar as políticas climáticas brasileiras, apresenta a Noa, a inteligência artificial coletiva da Talanoa!

Nossa proposta é entregar à sociedade uma ferramenta que dialoga com a Ciência do Clima e as tecnologias de nosso tempo, usando para isso todas as centenas de análises e documentos já produzidos pelo pelo Instituto em seus cinco anos de existência, na elaboração de respostas buscadas pelo público.

Além disso, a Noa é considerada uma Inteligência Artificial Coletiva porque baseia as respostas somente em informações originadas de curadoria 100% humana. Isto é, toda a base de dados da Noa foi produzida por nossas e nossos especialistas e se fundamenta em documentos de referência elaborados com base em dados concretos e evidências científicas. Trocando em miúdos: quando você conversar com a Noa, saberá que as resposta dela provêm de fontes humanas, gente de carne e osso, e nunca no que uma máquina aprenderia por si só, reduzindo as chances de imprecisões sobre os conteúdos solicitados.

Como todo projeto de inteligência artificial generativa, a Noa ainda opera em “versão beta”, o que significa que pode eventualmente apresentar instabilidade e conteúdos que podem ser aperfeiçoados por versões posteriores. De todo modo, a Noa estreia com uma quantidade considerável de conteúdo em sua base de dados.

Conheça a Noa!

TALANOA NA MÍDIA

O Globo Artigo de Opinião de Natalie Unterstell: “É preciso investir na adaptação às mudanças climáticas”.
Valor Econômico Notícia: “Sustentabilidade: Brasil precisa investir em ‘branding’ e mais ações práticas para atrair investimento verde”.
Diário do Nordeste Notícia: Qual a responsabilidade dos políticos nas ações de readaptação às mudanças climáticas.

Bom fim de semana,
Equipe POLÍTICA POR INTEIRO

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