COP 28 – dia 3: Aumentar renováveis é bom, mas os elefantes fósseis seguem na sala

1ª Edição

“Há que se tomar uma posição. (…) E não tenho nenhuma dúvida de que posição tomar. E a posição é ao lado da vida. E hoje na humanidade, ao lado da vida significa ao lado de vocês – os povos que as ilhas estão a ponto de desaparecer, pelo grande consumo de carbono de uma pequena elite da humanidade e um pequeno número de países, que cresce, sem levar em conta a existência, a vida no planeta Terra.” Foi assim que o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, finalizou sua participação no evento em que anunciou a adesão à iniciativa pelo Tratado de Não Proliferação de Combustíveis Fósseis.

O presidente da Colômbia está de pé, atrás do púlpito com logo da UNFCCC e da COP28. Usa terno escuro e gravata clara
Crédito: Mahmoud Khaled/COP28

O posicionamento da Colômbia tem um peso significativo, uma vez que é o primeiro país não insular a aderir ao movimento iniciado pelas ilhas do Pacífico em 2022. Após sete países da Oceania, o asiático Timor-Leste e o caribenho Antígua e Barbuda, o país sul-americano é o décimo signatário. 

A posição da Colômbia mostra como subir a barra dos compromissos climáticos. A indústria de petróleo e gás responde por 10% do PIB do país e 20% das exportações. E trata-se de um setor substancialmente estatal. Com reservas que seriam suficientes para atender a produção até aproximadamente 2030, a decisão de não abrir novas frentes de exploração significa uma aposta em um transição veloz ou importar mais.

Petro, que já havia se destacado em Belém, nos Diálogos Amazônicos em agosto, demonstrou que seu governo não teme, no palco global, a discussão inadiável do phase out de fósseis: o declínio gradual da exploração desses combustíveis.

Por outro lado, o Brasil, que ambiciona ser um líder climático, ainda tem evitado o debate central. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que fala em descarbonização, mas não em phase out, confirmou que o país entrará na Opep+, grupo aumentado do cartel da Opep com mais 10 países produtores de petróleo, além dos 13 regulares, sem direito a voto. E afirmou: “Se preparar significa aproveitar o dinheiro que eles lucram com petróleo e fazer investimento para que um continente como o africano, como a América Latina, possa produzir os combustíveis renováveis que eles precisam”. 

Os combustíveis fósseis também são o elefante na sala das negociações do Balanço Global (a avaliação do progresso global nos objetivos climáticos: Global Stocktake, GST), cujo rascunho inicial foi apresentado na sexta-feira (1º). O grupo de contato tratou da parte específica de Adaptação neste sábado. As conversas seguem difíceis, dada a complexidade desse item de agenda. Por exemplo, o texto deixa várias opções abertas sobre energia, incluindo: “redução/eliminação [de] combustíveis fósseis” e uma “redução/eliminação/sem novo carvão”. É bom sinal ver phase out como opção no texto inicial, embora haja muitas rodadas de negociação por vir.

Mas há também boas notícias. Uma delas neste sábado foi o anúncio do Compromisso Global em Renováveis e Eficiência Energética. Puxado pela União Europeia, o acordo para triplicar as energias renováveis até 2030 foi assinado por 118 países, incluindo Brasil, China, Índia, EUA, UE. 

“Mas um acordo de energia renovável não será suficiente a menos que o mundo se comprometa a eliminar os combustíveis fósseis ao mesmo tempo. Em Dubai, os governos precisam concordar com a eliminação rápida, justa e financiada de todos os combustíveis fósseis”, diz Natalie Unterstell, presidente da Talanoa, que participou de um evento neste sábado sobre ações de mitigação para acelerar a redução das emissões em curto prazo, com perspectivas de Brasil, Índia e União Europeia.

COP na mídia

Promessa cumprida

Quando Lula foi à coroação do rei Charles III, o primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, havia prometido repasses ao Fundo Amazônia. O Reino Unido está cumprindo o prometido com apoio de £35 milhões (cerca de R$ 215 milhões) ao Fundo Amazônia e a assinatura de contrato com o BNDES que permite o repasse de £80 milhões (cerca de R$ 500 milhões), informa a Bloomberg.

Se juntando a Macron

Em nosso boletim da sexta-feira (1º), informamos que o presidente francês, Emmanuel Macron, havia anunciado adesão ao phase out de carvão. O enviado especial para o clima dos Estados Unidos, John Kerry, afirmou neste sábado que os Estados Unidos estão se juntando à iniciativa.

Destaques do dia

País:

Colômbia

colombia
  • O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, informou que está aderindo à iniciativa pelo Tratado de Não Proliferação de Combustíveis Fósseis. 

Fato:

O Compromisso Global em Renováveis e Eficiência Energética

 

  • Assinado por 118 países
  •  

Frase:

 “É pensar numa política climática que seja por inteiro, não pela metade. Porque a gente precisa caminhar junto para 'esperançar' alternativas. Por exemplo, da transição energética e para falar de petróleo. Tem que falar, presidente, tem que falar” 

O que vem no dia 4 da COP?

Este domingo (3) será o dia temático de saúde, com a expectativa de relatórios relacionando o tema e as mudanças climáticas. 

Participação da Talanoa na COP28

DATA HORA* (Brasília) EVENTO
4/12 3h30 às 4h45 Consórcio Interestadual para o Desenvolvimento Sustentável da Amazônia Legal – TCU e  INTOSAI – a Organização Internacional de Entidades Fiscalizadoras Superiores
8h às 9h15 Financiamento Climático para a transição: onde está o dinheiro do Clima?
6/12 3h Innovation Day
6h45 Climate Clock Workshop
8/12 6h Green Transitions Require Green Skills
*O fuso horário de Dubai está 7h à frente de Brasília.

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