Redução do desmatamento já está na bagagem para a COP

Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
Ao contrário do que ocorreu nos últimos anos, o governo brasileiro divulgou antes da COP a taxa de desmatamento anual na Amazônia. A estimativa do sistema Prodes, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), apontou uma queda de 22% na perda de floresta entre agosto de 2022 e julho de 2023 em relação ao mesmo período anterior. A taxa de 9.001 km² de desmatamento é a menor em cinco anos. Assim, foi evitada a emissão de 133 milhões de toneladas de gás carbônico equivalente (CO2e) na atmosfera, o que representa cerca de 7,5% das emissões do país, tendo como base o ano de 2020, último dado oficial disponível.

Outros dados apresentados pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) confirmaram que o esforço para reduzir o desmatamento na Amazônia tem ido na direção correta:

  • Redução de 58% da taxa de desmatamento em Unidades de Conservação e alta de 320% dos autos de infração aplicados pelo ICMBio no mesmo período.
  • Queda de 42,1% do desmatamento nos 70 municípios considerados prioritários pelo MMA, que concentram 73% do desmate. Em relação aos Estados, as maiores quedas foram registradas em Rondônia (42%) e no Amazonas (40%). Já no Pará houve queda de 21%, e em Mato Grosso o desmatamento aumentou 9%.



Mais do que os bons números do Prodes 2023, sobre os quais já havia uma expectativa positiva, apesar de conter ainda meses do governo anterior, há de se comemorar a inclusão da degradação florestal como critério na lista de municípios na Amazônia considerados prioritários para ações de prevenção, controle e redução dos desmatamentos – e, agora, degradação.

Estudos científicos já apontaram que não apenas o desmatamento deve ser coibido para evitar o ponto de não retorno da Amazônia. A degradação florestal também contribui agudamente para reduzir a capacidade ecossistêmica do bioma. E é um fenômeno mais difícil de ser monitorado do que o desmatamento porque a cobertura vegetal segue, mas mais esparsa e menos biodiversa. A degradação igualmente emite gases do efeito estufa.

A mudança de abordagem foi formalizada em duas portarias. A primeira estabelece os novos critérios para edição da lista de municípios prioritários: 

  • área total de floresta desmatada igual ou superior a 80 km², no último período de monitoramento realizado; 
  • área total de floresta desmatada nos últimos três anos igual ou superior a 160 km² no último período de monitoramento; 
  • aumento da taxa de desmatamento em pelo menos três, dos últimos cinco anos
  • área total de floresta degradada no último período de monitoramento realizado pelo INPE, incluindo todas as classes de degradação, exceto “corte seletivo tipo 2”.

Traz também os critérios para edição e atualização da lista de municípios com desmatamento monitorado e sob controle. Cabe ressaltar que em relação à norma anterior, foram introduzidos mais critérios, além da degradação. Ou seja, para o município ter seu desmatamento “monitorado e sob controle”, deverá cumprir 6 requisitos, dentre os quais possuir pelo menos 20% da área dos imóveis rurais inscritos no Cadastro Ambiental Rural (CAR) e ativos (situação de “analisado”, “em regularização” ou “passível de emissão de Cota de Reserva Ambiental”), além de possuir pelo menos 30% da área equivalente ao total desmatado no último período de monitoramento do Prodes/INPE embargada. Em relação à normativa anterior, foram mantidos os critérios de:

  • possuir 80%  de seu território excetuadas as unidades de conservação de domínio público e terras indígenas homologadas, com imóveis rurais devidamente monitorados por meio do CAR e monitorados pelo Sistema Nacional de Cadastro Rural (SICAR);
  • ter desmatamento inferior a 40 km² nos últimos quatro períodos de monitoramento.

E retornam à listagem aqueles municípios que constarem da lista de municípios monitorados e sob controle e atingirem desmatamento superior a 40 km² no último período de monitoramento realizado pelo INPE.

A outra norma publicada traz a lista dos municípios. Em relação à anterior, foi incluído Manoel Urbano (AC), totalizando 70 municípios. Dentre eles, estão Boca do Acre, Manicoré, Lábrea, Humaitá e Apuí, que tiveram recentemente atuação da Força Nacional de Segurança Pública (FNSP) em ações de combate aos incêndios florestais e às queimadas.

Perspectivas para a COP 28

Uma nova reunião do Comitê Interministerial sobre Mudança do Clima (CIM) alinhará a posição brasileira para a COP 28. Será a segunda desde o restabelecimento do colegiado neste governo. Em entrevista nesta semana, o embaixador André Corrêa do Lago, secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente do Itamaraty, afirmou que o governo brasileiro atua nos bastidores das negociações para que as novas NDCs a serem anunciadas pelos países em 2025 estejam alinhadas com a estabilização do aquecimento global em 1,5º C. Sobre o tema energia, sinalizou que não há previsão de que a COP se manifeste sobre a necessidade de estabelecimento de um cronograma para a redução da queima de combustíveis fósseis. A prioridade, segundo o embaixador, é a segurança energética. 


COP 30, investimentos e novo PAC

Foi divulgado o aporte de R$ 368,7 milhões ao transporte público (65 novos ônibus da capital paraense, 40 elétricos e 50 movidos a gás natural) de Belém/PA pelo Ministério das Cidades, o que, segundo o Governo, “faz parte do projeto para apresentar Belém como uma cidade mais sustentável para a COP-30”, que ocorrerá em 2025 na cidade. Haverá uma contrapartida R$ 19,4 milhões pelo Governo do Pará para a renovação da frota de ônibus em Belém.


Eventos extremos, adaptação e resiliência das cidades

Na última semana o estado de São Paulo foi atingido por um forte temporal, com rajadas de vento que chegaram a 103,7 km/h. O evento extremo derrubou árvores, causou mortes e um caos, especialmente no fornecimento de energia e, em diversas regiões, de água. A Enel, concessionária de energia elétrica da Grande São Paulo, anunciou, uma semana após o vendaval, que restabeleceu o fornecimento a todos os 2,1 milhões de endereços afetados. O apagão provocou protestos, incluindo manifestações nas Rodovias Raposo Tavares e Régis Bittencourt. Todo esse cenário demonstra a urgência do desenvolvimento, debate e efetivação da agenda de adaptação das cidades aos eventos climáticos. É preciso um esforço coletivo, coordenado pelo poder público, com efetiva participação social para que ações planejadas de adaptação e aumento da resiliência das cidades sejam financiadas, superando-se uma política somente de respostas e repasses financeiros para mitigar os desastres depois que ocorrem. Além do governo federal, estados e municípios têm igual responsabilidade de, olhando para seus territórios e, cientes das particularidades locais, investir na temática.


El Niño e pico climático

Segundo informações divulgadas pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), o El Niño deverá durar pelo menos até abril/2024, trazendo pico dos efeitos no próximo ano. Ou seja, há a possibilidade de o fenômeno em 2024 ser ainda mais intenso do que está sendo 2023, seja refletindo em ondas de calor, chuvas fortes ou incêndios florestais.

Segundo o secretário-geral da OMM, Petteri Taalas: “Os impactos do El Niño na temperatura global ocorrem normalmente no ano seguinte ao seu desenvolvimento, neste caso em 2024. Mas como resultado das temperaturas recordes da terra e da superfície do mar desde junho, o ano de 2023 está agora no caminho certo para ser o ano mais quente registrado. O próximo ano pode ser ainda mais quente. Isto deve-se clara e inequivocamente à contribuição das crescentes concentrações de gases com efeito de estufa que retêm o calor provenientes das atividades humanas”.



Nesta semana, foram captadas 5 normas da agenda da Reconstrução: 

  • PORTARIA NORMATIVA AGU Nº 116, DE 6 DE NOVEMBRO DE 2023: Institui o Grupo de Atuação Estratégica em Matéria Fundiária (G-Fundiário), no âmbito da Advocacia-Geral da União, com a finalidade de promover atuação planejada em processos judiciais prioritários ou estratégicos que versem sobre terras afetadas a políticas públicas ambientais ou agrárias na Amazônia Legal, compreendendo a destinação à criação de unidades de conservação, à reforma agrária e à regularização fundiária de terras de comunidades de remanescentes de quilombos.

  • INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 135, DE 25 DE OUTUBRO DE 2023: Establece que poderão ser reconhecidas pelo Incra como beneficiárias do PNRA, as unidades familiares residentes nos projetos de assentamento de outras entidades e nas unidades de conservação de uso sustentável, sendo que o processo de reconhecimento será realizado por projeto de assentamento/unidade de conservação.

  • PORTARIA MDA Nº 36, DE 9 DE NOVEMBRO DE 2023: Institui o Colegiado do Fundo de Terras e do Crédito Fundiário, de caráter deliberativo, vinculado ao Departamento de Governança Fundiária da Secretaria de Governança Fundiária, Desenvolvimento Territorial e Socioambiental do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar. Revoga as Portarias nº 134, de 20 de outubro de 2020, e nº 140, de 24 de novembro de 2020, da Secretaria de Agricultura Familiar e Cooperativismo.

  • PORTARIA GM/MMA Nº 833, DE 9 DE NOVEMBRO DE 2023: Estabelece os critérios para edição da lista de municípios situados no Bioma Amazônia considerados prioritários para ações de prevenção, controle e redução dos desmatamentos e degradação florestal. Revoga as Portarias MMA 360/2017, 427/2018, 161/2020, 474/2021.

  • PORTARIA GM/MMA Nº 834, DE 9 DE NOVEMBRO DE 2023: Declara as listas (i) de Municípios considerados prioritários para ações de prevenção, controle e redução dos desmatamentos e degradação florestal; e (ii) de Municípios com desmatamento monitorado e sob controle. Revoga as Portarias MMA 361/2017, 362/2017, 428/2018, 162/2020, 365/2020, 9/2021, 475/2021, 251/2022.

Até o momento, 181 medidas de reconstrução da agenda climática foram contabilizadas, considerando os caminhos apontados no relatório Reconstrução da Política por Inteiro.

Acompanhe o Monitor da Reconstrução.

TALANOA NA MÍDIA

Folha de S. Paulo Lobby do petróleo na COP28 ameaça agro brasileiro, e setor pede ajuda ao governo Lula



MONITOR DE ATOS PÚBLICOS

O Monitor de Atos Públicos captou 9 normas relevantes para a agenda climática no DOU. Os temas mais frequentes foram Desastres, com 4 atos. As classes mais captadas foram Resposta e Revisão, com 3 normas cada, abrangendo os reconhecimentos de situações de emergência em municípios, bem como revisão de normas referentes ao Colegiado do Fundo de Terras e do Crédito Fundiário, aos critérios para edição da lista e a divulgação da listagem de municípios situados no Bioma Amazônia considerados prioritários para ações de prevenção, controle e redução dos desmatamentos e degradação florestal.




MONITOR DE DESASTRES

Nesta semana, foram captados 34 reconhecimentos de emergência por eventos climáticos extremos, atingindo 34 municípios. As situações de emergência por estiagem seguem sendo registradas no Norte e Nordeste do país, especialmente no Amazonas, Pará, Pernambuco e Bahia, além da seca registrada no Pará e Rio Grande do Norte. Nesta semana as situações de estiagem ultrapassaram o número de tempestades. As situações de emergência recorrentes no sul do país continuam sendo as chuvas intensas, resultando em inundações e enxurradas, foram também captados episódios de granizo no Rio Grande do Sul.

Bom fim de semana,
Equipe POLÍTICA POR INTEIRO

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