A política de preços da Petrobras e a nossa descarbonização

Foto: Canva

A Petrobras anunciou que adotará uma nova estratégia comercial para definição de preços de diesel e gasolina. Desde 2016, o estabelecimento dos preços se baseava na política de paridade de importação (PPI), acompanhando o mercado internacional. Em comunicado, a empresa confirmou a substituição da PPI, o que já era esperado. 

Sem explicitar uma fórmula, a empresa afirma que haverá mais flexibilidade para o estabelecimento dos valores. Os mercados internacionais seguem considerados, porém, não exclusivamente, amenizando a exposição à volatilidade. Sem muitos detalhes, o comunicado da Petrobras afirma que a estratégia comercial, aprovada pela Diretoria-Executiva, buscará preços competitivos por polo de venda e “tem referências como: (a) o custo alternativo do cliente, como valor a ser priorizado na precificação, e (b) o valor marginal para a Petrobras”. Isto é, levará em conta a melhor alternativa acessível aos clientes e um patamar de preço que permita à empresa realizar os investimentos previstos em seu plano estratégico.


Diesel e gasolina ficarão mais baratos?

Pelo que foi divulgado até o momento, o processo está mais subjetivo e é difícil prever a trajetória dos preços – ressalta-se que a redução anunciada nesta terça-feira de mais de 12% para óleo e o gás, e mais de 21% do gás natural, não é ainda resultado da substituição do PPI. 

Ainda assim, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva comentou com entusiasmo a mudança, juntamente com a redução dos preços, afirmando que cumpre a promessa de “abrasileirar” os preços da Petrobras. 

O mercado recebeu com alívio a notícia de que haverá um cálculo baseado no mercado – e não em alguma movimentação política direta, ainda que sem clareza sobre os critérios dessa definição de preços.


Os sinais políticos da nova estratégia de preços

A substituição da PPI foi comemorada pelos aliados de Lula. A Federação Única dos Petroleiros (FUP) elogiou a medida, classificando-a de urgente e necessária. Entretanto, afirmou também que é necessário acompanhar o movimento de preços praticados pela companhia de agora em diante para melhor avaliar a nova estratégia.

Reduzir o preço dos combustíveis em um curto prazo diminui a pressão inflacionária, sendo benéfica aos consumidores, ainda que o impacto previsto possa ser pequeno. No médio e longo prazos, sem a divulgação objetiva da estratégia de precificação, é possível que a conta seja fechada com subsídios ou renúncia fiscal, desacelerando nossa descarbonização. A nova estratégia da Petrobras sinaliza que a empresa deve aumentar sua preponderância em um mercado em que já é dominante. Assim, suas escolhas como empresa de petróleo ou de energia importam mais ainda para a descarbonização da economia brasileira. Porém, a abordagem dada à política de preços da Petrobras por agentes políticos e também pelo próprio mercado mostra, mais uma vez, que seguimos fugindo das escolhas difíceis.

Equipe Editorial (Liuca Yonaha, Marta Salomon, Melissa Aragão, Ester Athanásio, Marco Vergotti, Renato Tanigawa, Taciana Stec, Wendell Andrade, Daniel Porcel, Caio Victor Vieira, Beatriz Calmon, Rayandra Araújo e Daniela Swiatek).

Assine nossa newsletter

Compartilhe esse conteúdo

Apoio

Realização

Apoio