Nesta semana, iniciamos o boletim não com o balanço das normas captadas pelo Monitor de Atos Públicos, mas manifestando nossa solidariedade a todos os atingidos pelo bárbaro assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, especialmente à família, aos amigos e aos povos indígenas do Vale do Javari, na Amazônia. Exigimos que o Estado brasileiro apure e puna com rigor os assassinos e tome as medidas para que os povos originários e seus territórios sejam respeitados, buscando e implementando políticas efetivas para que crimes como esse – infelizmente recorrentes no país – não se repitam. As organizações indígenas, ativas desde o primeiro dia nas buscas para encontrar Bruno e Dom, seguem mobilizadas. A União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), que já vinha denunciando desde 2021 organizações criminosas atuando em pesca e caça ilegal na região, contesta a afirmação da Polícia Federal de que o crime não teve mandantes. A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) apresentou novos fatos à denúncia que já fizera ao Tribunal Penal Internacional (TPI), em Haia/Holanda, contra o presidente Jair Bolsonaro. Foram acrescidos fatos deste ano, incluindo o assassinato de Burno e Dom e especialmente pela alegada omissão do Governo Federal no caso do desaparecimento de do jornalista e do indigenista, assim como as invasões e violência no território Yanomami. Leia a nota Por Bruno e Dom, pela Amazônia Monitor de Atos PúblicosNesta semana, o Monitor de Atos Públicos captou 12 normas relevantes publicadas no Diário Oficial da União. O tema mais recorrente foi Institucional com 4 normas: dois revogaços (MMA e IBAMA), mudança na estrutura regimental e cargos no IBAMA e alteração em regras para acesso a processos administrativos de competência da Corregedoria do IBAMA. Entre as classes, a Regulação teve o maior número de normas (4), sendo três delas no tema Terras. As emissões de GEE por municípioDos dez municípios que mais emitem gases do efeito estufa no Brasil, oito estão na Amazônia, mostram dados do SEEG Municípios, do Observatório do Clima. Altamira e São Félix do Xingu, no Pará, lideram a lista, seguidos por Porto Velho (RO) e Lábrea (AM). Os municípios de fora do bioma são São Paulo (5ª posição) e Rio de Janeiro (8ª). As emissões na Amazônia são provocadas sobretudo por desmatamento e também pelo setor pecuário. OCDEO Brasil dificilmente será aceito na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) se não reduzir o desmatamento, afirmaram o embaixador Carlos Marcio Cozendey, delegado do Brasil na entidade, e o embaixador norueguês no Brasil, Odd Magne Ruud, em evento promovido pelo Instituto Talanoa, em parceria com o Centro de Estudos do Comércio Global e Investimento da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP). Além dos dois diplomatas, participaram do encontro a profa. dra. Vera Thorstensen (CCGI-FGV), o prof. dr. Alberto Pfeifer (IEA-USP), e também Karina Bugarin e Natalie Unterstell, pelo Instituto Talanoa. Segundo o embaixador Cozendey, no roadmap não há nenhum ponto específico sobre políticas florestais. Já o embaixador norueguês Odd Magne Ruud destacou a implementação dos anúncios que o Brasil fez em Glasgow, como zerar desmate em 2030. “A participação do Brasil na OCDE é boa para si e boa para todos os demais”. Quer saber tudo que aconteceu no nosso evento? Leia no Blog da Política Por Inteiro. Agenda internacionalNa próxima semana, de 21 a 26 de junho, ocorre em Nairóbi, no Quênia, mais uma reunião de negociações para que um países consigam chegar a um texto para a COP15 da Biodiversidade no segundo semestre. As expectativas não são positivas para a conferência no segundo semestre. “Infelizmente, a COP 15 da Biodiversidade está cheirando a fracasso”, disse o secretário-executivo da Convenção da ONU sobre Diversidade Biológica (CDB), Bráulio Dias, em recente entrevista ao Blog da Política Por Inteiro. Confira os sinais políticos relevantes relacionados à mudança do clima nos estados da Amazônia Legal ACESSE: FOCO AMAZÔNIA Política Por Inteiro na mídia Observatório BR-319: Projeto de Lei quer alterar licenciamento ambiental estadual para obras na BR-319. IDESAM: Projeto de Lei quer alterar licenciamento ambiental estadual para obras na BR-319. Twitter O assassinato de Bruno Pereira e Dom Philips, no Vale do Javari (AM), foram o assunto mais discutido na semana em nosso monitoramento do Twitter, que, em parceria com a Folha de S.Paulo, acompanha autoridades e políticos relacionados a clima e meio ambiente. Na semana passada, o desaparecimento deles já havia sido o tópico predominante. Nuvem de frases mais frequentes nos tuítes da semana, monitorados em parceria com a Folha, de autoridades do país (presidente, ministros, congressistas, entre outros) e especialistas relacionados ao meio ambiente e mudanças climáticas. Também teve destaque a votação, no Senado Federal, do Projeto de Lei Complementar PLP 18/2022, que limita o ICMS sobre combustíveis, gás natural, energia elétrica, comunicações e transporte coletivo, ao considerá-los bens e serviços essenciais. O texto, com alterações, agora volta para apreciação na Câmara dos Deputados. A aprovação é vista como uma vitória do governo federal que vem culpando os estados pela alta dos combustíveis, ignorando as altas causadas pela política de precificação do petróleo. Segundo dados da composição dos combustíveis, divulgados pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), disponibilizados até dezembro de 2021, os aumentos foram em decorrência, principalmente, da alta dos preços relacionados à produção (do produtor e do biodiesel), ligados ao mercado externo. Os tributos estaduais acompanham, em partes, o aumento por ser uma taxa da composição final. O gráfico ilustra a série histórica, a partir de 2010, da composição dos preços do diesel e gasolina. LEGISLATIVO: Destaques da semana Senado Federal ICMS de combustíveis O Projeto de Lei Complementar (PLP) 18/2022, de iniciativa do deputado Danilo Forte (PSDB/CE) e que visa alterar normas para considerar bens e serviços essenciais os relativos aos combustíveis, à energia elétrica, às comunicações e ao transporte coletivo, prevendo uma compensação aos estados com o abatimento de dívidas com a União quando a perda de arrecadação
Sem redução de desmatamento, dificilmente Brasil será aceito na OCDE, diz representante do país na organização
O Brasil dificilmente será aceito na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) se não reduzir o desmatamento, afirmaram o embaixador Carlos Marcio Cozendey (na foto acima), delegado do Brasil na entidade, e o embaixador norueguês no Brasil, Odd Magne Ruud (foto abaixo), em evento promovido pelo Instituto Talanoa, nesta terça-feira (14). A exigência deve ocorrer mesmo que não haja ainda um critério ou uma decisão da OCDE a respeito do tema, ressalvou Cozendey. “OCDE não tem uma tradição sobre isso, terá de aprender e decidir no que está interessada a respeito”, afirmou. Segundo Cozendey, florestas e clima serão pontos de especial atenção dos membros na avaliação brasileira. O embaixador comentou o roadmap da acessão do país à Organização (um roteiro de avaliação para a entrada), divulgado na semana passada. De 30% a 40% dos instrumentos elencados no documento – comum aos atuais postulantes a ingressar (além do Brasil, Bulgária, Croácia, Peru e Romênia) – são na área de meio ambiente e clima. “Não basta o membro chegar e dizer quero aderir. Ele tem que mostrar que suas políticas, legislação, práticas são compatíveis com este acervo que os membros definiram como as melhores práticas”, disse Cozendey, que detalhou como ocorrem as avaliações e negociações para a acessão Cozendey falou diretamente de Paris, no evento online. De Brasília, falou o embaixador da Noruega no Brasil, Odd Magne Ruud, dando uma visão de um país-membro, confirmando que florestas é tema relevante. O embaixador elogiou os compromissos assumidos pelo Brasil em Glasgow, na COP 26, mas lembrou os recordes de desmatamento no ano passado. “Apesar do discurso de Glasgow, os números que vimos no ano passado (de desmatamento) são mais altos dos que os vistos até então, portanto acaba soando contraditório com o que estão prometendo”, disse o embaixador, respondendo pergunta a presidente do Instituto Talanoa, Natalie Unterstell. “Esse processo deve gerar melhorias regulatórias e legais. Estamos otimistas, mas esperamos ver o comprometimento político do Brasil no assunto”, disse Rudd. Ele afirmou que a Noruega apoia totalmente a acessão do Brasil à OCDE. O embaixador norueguês disse acreditar que incluir um país da dimensão brasileira é bom para todos da organização. Ele destacou não apenas as florestas, mas também o fato de o Brasil ser um “país oceânico”, como a Noruega. Assim como Cozendey, Ruud afirmou que o longo processo de ingresso é uma oportunidade para realizar importantes adaptações legais e de políticas. O Brasil é o terceiro mercado mais relevante para os investidores noruegueses, depois de Europa e América do Norte. Segundo o embaixador, os investidores, ao mesmo tempo que acreditam no Brasil e pretendem aumentar seus negócios no país, queixam-se dos complexos sistemas tributário e legal. Cozendey endossou a fala do embaixador norueguês e acrescentou que cada vez os governos e autoridades estão mais convencidos de que o melhor caminho para manter as florestas é encontrar atividades econômicas que possam beneficiar a floresta, mas isso não é tarefa fácil. Ele afirmou que o Brasil já busca, atualmente, espaço na OCDE para discussões nesse campo, como bioeconomia. Justamente um papel que o professor dr Alberto Pfeifer (IEA-USP), moderador do evento, acredita que o Brasil possa ter dentro da organização. Me atrevo a dizer que podemos liderar reflexões, proposições dentro da temática ambiental na OCDE”, disse o professor. >> Confira análise sobre o roadmap do Brasil As agendas ambientais e o comércio internacional A professora Vera Thorstensen (CCGI-FGV), pesquisadora na área de comércio internacional, apresentou seu estudo sobre como o comércio entre os países é refletido pelas agendas ambientais, mostrando que os sistemas presentes não conversam. Há dados da Organização Mundial do Comércio (OMC), mecanismos da OCDE, práticas e indicadores ESG, entre outras agendas verdes. A pesquisadora enfatizou que, se o Brasil quer exportar precisa trabalhar a política de meio ambiente nas exportações. “Meio Ambiente é importante. Ou você exporta, tem uma política comercial ou tem uma política ambiental e se estas duas não se falarem o Brasil vai ter problemas”, destacou. Karina Bugarin fechou as apresentações destacando sua publicação que enfatiza que necessitamos qualificar este debate e trazer estudos técnicos para embasar as decisões no que tange à agenda verde. O exercício de abrir o país gera ganhos de produtividade ao longo do caminho de ascensão à OCDE. “Se a gente fizer esse processo de ascensão corretamente, fazendo compatibilização normativa, ganhando transparência, fazendo com que a sociedade inteira entenda para que está servindo a OCDE, o Brasil consegue se tornar um país mais eficiente”. Assista na íntegra ao evento “Brasil na OCDE: Perspectivas para florestas e mudanças climáticas”: Baixe nossas publicações sobre a acessão do Brasil à OCDE Baixar Baixar Baixar Baixar